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Carta ao Leitor: A ausência de Estado

Para estrangular as organizações criminosas, é necessário montar uma engrenagem forte e sensata que combata o crime a partir de uma perspectiva nacional

Por Da Redação Atualizado em 27 out 2023, 11h01 - Publicado em 27 out 2023, 06h00

Há décadas — e sem sucesso algum — o Brasil lida com a segurança de seus cidadãos da mesma forma, em um infinito ciclo vicioso: a polícia invade as favelas ou áreas carentes, distribui tiros, mata bandidos, mata inocentes, e sai de cena, como se tudo estivesse resolvido. Bagunça feita, as regiões mais pobres, esquecidas pelo Estado, voltam a ser controladas por bandos de traficantes e milicianos, que mandam e desmandam, asseguram suposta proteção e, por meio de chantagem, controlam o cotidiano daquela população. Ocorrem, então, o fortalecimento e a organização cada vez mais incrementada dessas agremiações criminosas que crescem em poder financeiro, territórios e — sejamos claros — influência política. A cada dia que passa, elas acumulam mais dinheiro e têm mais votos sob o seu controle.

O desenlace dessa explosiva combinação pôde ser visto nas últimas semanas em várias partes do Brasil. Pelo menos 21 metralhadoras de alto gabarito foram surrupiadas de um quartel militar em Barueri, na Grande São Paulo, terminando nas mãos de bandidos em outros estados. Na Bahia, há meses cresce o número de mortos em decorrência de operações policiais atabalhoadas numa espécie de bangue-bangue entre as forças da lei e ladrões. Ao todo, já são mais de setenta mortos em Salvador. Na semana passada, depois da morte de um miliciano, o Rio de Janeiro viu cenas de barbárie, com 35 ônibus incendiados em gesto de inaceitável retaliação. O prefeito da cidade, Eduardo Paes, que não tem a segurança pública entre as suas responsabilidades, foi claro: “Apelo ao Governo do Estado e ao Ministério da Justiça para que atuem a fim de impedir que fatos assim se repitam”. Atordoado com o episódio, o ministro Flávio Dino saiu da letargia (esquecendo-se por alguns instantes da disputa pela cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal) e anunciou o envio de mais homens da Força Nacional ao Rio, em acordo com o governador Cláudio Castro.

Embora necessária, lamentavelmente trata-se de mais uma medida paliativa, que tende a ser ineficiente a médio e longo prazos. O país precisa de um plano razoável, que se afaste da velha fórmula de mandar homens quando a situação já degringolou. Para estrangular essas organizações, é necessário montar uma engrenagem, forte e sensata, sem amarras ideológicas, que combata o crime a partir de uma perspectiva também nacional. E o mais importante: o Estado precisa, de uma vez por todas, retomar o controle dessas áreas e testar novas soluções. Atribui-se a Albert Einstein uma frase que resume o nó em que estamos: “Loucura é querer resultados diferentes fazendo tudo igual”. Ao repetirmos os mesmos erros do passado, dá-se uma consequência que pode ser medida pela triste frieza estatística. Em 2022, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 36 259 brasileiros morreram por armas de fogo. Não se trata de estabelecer comparação com outros dramas ao redor do globo, todos abomináveis, mas é importante refletir que tal registro supera os 6 000 seres humanos que perderam a vida no conflito entre o terror do Hamas e Israel. O Brasil, infelizmente, também vive sua guerra particular.

Publicado em VEJA de 27 de outubro de 2023, edição nº 2865

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