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Tom Jones para os bregas e para os cults

Cantor galês, famoso por suas interpretações derramadas, mostra um lado contido em apresentação única em São Paulo

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 21h52 - Publicado em 13 set 2016, 17h59

TOM JONES 852A cena é bem conhecida entre os admiradores de música. Em seu programa de televisão dos anos 60, o cantor galês Tom Jones recebe como convidado musical o quarteto Crosby, Stills, Nash & Young. Eles são famosos pelas sutis harmonias vocais, mas o dueto com Jones não tem nada de delicado. Ele grunhe, rosna (sem perder a afinação, diga-se) e deixa os hippies perdidos – dá para notar, por exemplo, o excesso de agudos de Graham Nash e Stephen Stills e a expressão atônita de Neil Young.

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Este episódio com o grupo folk americano foi um dos muitos que ajudaram a disseminar a imagem de Tom Jones, que faz hoje sua única apresentação em terras brasileiras (no Citibank Hall, São Paulo), como um artista brega e cafona. Não que ele não tenha colaborado para disseminar o preconceito: um dos muitos cantantes britânicos a aproveitar a abertura do mercado da ex-colônia – o single It’s Not Unusual, de 1965, ficou entre os dez mais tocados da parada dos Estados Unidos –, Jones se bandeou para Las Vegas, onde suas performances rivalizam com as de Elvis Presley em sensualidade e aquele ar kitsch que só a Disney da jogatina é capaz de produzir. A voz de barítono e a maneira derramada de cantar renderam bons sucessos nas rádios, como Thunderball, tema de 007 Contra a Chantagem Atômica, ou What’s New Pussycat, que foi a canção principal do filme O que é que há, Gatinha?, mas ajudaram a fincar a visão de Jones como um intérprete sem muitas sutilezas. Contudo, o Tom Jones de hoje traz pouco daquele sujeito espalhafatoso de décadas atrás. Embora a voz continue poderosa, ele trocou aqueles momentos rebolativos por uma presença maior de estilos como o country, a música gospel, o blues e o rock’n’roll.

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Duas semanas atrás, o galês fechou uma das noites da sétima edição do North Sea Festival, evento dedicado ao jazz, ao pop e à soul music, que acontece na ilha caribenha de Curaçao. O mote da apresentação foram os discos Spirit in the Room (2012) e Long Lost Suitcase (2015), ambos produzidos por Ethan Johns, cantor e produtor que vagueia tanto pelo rock alternativo (Laura Marling, Ryan Adams, Kings of Leon) como medalhões da categoria de Paul McCartney e Joe Cocker. O repertório é o fino, até mesmo para um sujeito acostumado a cantar de Burt Bacharach a Prince. Há canções de Leonard Cohen, Rolling Stones e The Yarbirds; lados B de Bob Dylan, Paul McCartney e Paul Simon e talentos como rock indie como Gillian Welch (autora de Elvis Presleys Blue). Em certos momentos, Jones demonstra uma obsessão pela morte – presente em Tower of Song, de Cohen, cujo clipe exibido no telão tem um quê de despedida, e When the Deal Goes Down (Quando o Acordo Termina), de Dylan, que logicamente soa como uma saudação à morte. A explicação pode estar no seio familiar do cantor: em abril deste ano, Melinda Rose, mulher de Jones e que suportou estoicamente (quer dizer, nem tanto; ela chegou a lhe dar uns tabefes) as infidelidades do marido, sucumbiu a um câncer. É também uma maneira dele demonstrar que sabe abordar assuntos mais profundos e que exijam uma interpretação menos histriônica – no que se sai muito bem.

Num de seus muitos renascimentos, Tom Jones foi resgatado pelo grupo eletrônico The Art of Noise. Sua versão de Kiss, fez tanto sucesso quanto a do cantor americano. Jones passou por uma fase pop eletrônica, que embora tenha renovado seu público, nunca fez jus ao seu talento – o álbum The Lead and How to Swing It, de 1994, é constrangedor. Em suas apresentações, ele não nega essa fase, mas esconde o máximo esse lado “música para marombeiros”.

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O repertório inclui uma versão blues de If I Only Knew e Kiss rearranjada para a big band. O grupo que o acompanha, aliás, está mais para um time de rhythm’n’blues do que propriamente uma banda de Las Vegas ou uma equipe de dance music de Miami. Há uma sessão de sopros (que incluiu até gaita e tuba) e dois guitarristas que sabem tudo de blues (atente para Wish You Would, dos Yardbirds). O repertório inclui hits, ainda que ligeiramente modificados. Há um tom de drama em Delilah, a história de um sujeito que mata a mulher quando ela o trai (e que combina com o tom lúgubre do set list do show) e It’s Not Unusual ganhou um tom Gypsy Kings. E se ele insiste em ignorar She’s a Lady, pelo menos traz versões interessantes de duas canções de Randy Newman: Mama Told Me Not to Come e You Can Leave Your Heat On, sucessos nas vozes de Three Dog Night e Joe Cocker. Em São Paulo ele poderá até cantar alguns sucessos que não estão no repertório do show – como Thunderball e What’s New Pussycat, presentes na apresentação em Buenos Aires. Um Tom Jones para sepultar os exageros daquele dueto bizarro ao lado de Crosby, Stills, Nash & Young.

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