Filho de Sabrina Bittencourt fala de legado e homenagem que organizará
Segundo o Itamaraty, não foi solicitado nenhum documento ou pedido de traslado de corpo de uma pessoa com o nome de Sabrina Bittencourt
Quatro dias após a ativista Sabrina Bittencourt publicar uma carta-suicídio em rede social, seu filho Gabriel Baum completou 17 anos. O adolescente ajuda a organizar uma manifestação para homenagear a memória de sua mãe neste sábado, 9. “Vai ser chamada #FaleBemdeUmaMulher, porque estes caras (abusadores) só viraram ‘mitos intocáveis’ porque as pessoas falavam bem deles”, diz. “Um dos maiores aprendizados que minha mãe me deixou foi que a ‘palavra tem poder’. Em cada missão humanitária liderada por ela, sempre colocava uma frase como norte para não perder o foco. Essa frase foi em oposição ao lema do João Teixeira de Faria, o João de Deus: ‘o silêncio é uma prece’”.
Gabriel explica que a homenagem pode ser um encontro presencial ou vídeos e fotos postados em rede social. Outra homanagem está prevista para o dia 16.
“A minha mãe era poliafetiva, feminista. Ela tratava o câncer dela (linfoma) com cannabis e alimentação natural. Doou tudo o que tinha antes de morrer e sempre me disse que a minha herança seriam as milhares de casas e pratos de comida no mundo inteiro para mim, com meus irmãos e nossos amigos. Ela deixou uns sete amores, que vão cuidar de mim e dos meus irmãos coletivamente.”
Gabriel lembra que um documentário sobre a vida de Sabrina está sendo feito pela cineasta Maiara de Paula desde 2016. Chamado #eusousobrevivente, contará como a trajetória pessoal de uma mulher a motivou para apoiar outras vítimas e denunciar seus abusadores.
Há também uma ficção inédita. No dia seguinte após a morte da vereadora carioca Marielle Franco, lembra Gabriel, sua mãe lhe falou que seria a próxima vítima. “E em dois dias, ela criou e gravou um futuro distópico e outro utópico, chamado Em Legítima Defesa. Será uma microssérie. Nesse trabalho, minha mãe conta exatamente como iria morrer.” O roteiro foi feito em Amsterdã, onde Sabrina e Maiara gravavam o documentário quando souberam da execução de Marielle.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, não foi solicitado nenhum documento ou pedido de traslado de corpo de uma pessoa com o nome de Sabrina Bittencourt. Gabriel escreveu em rede social que ela seria enterrada no Líbano. À parte da discussão sobre a veracidade do suicídio, levantada pelo fato de não ter sido apresentada nenhuma prova do fato, a promotora Gabriela Manssur, de São Paulo, afirma que o trabalho de Sabrina foi fundamental para reunir provas e amparar vítimas de abusos sexuais. “Sem as denúncias das mulheres abusadas por João de Deus, inúmeras delas amparadas e fortalecidas por Sabrina, ele não estaria preso.”