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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Bolsonaro está com medo da CPI da Covid

Ataque a ministro do STF é tentativa do presidente de mudar o foco

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 abr 2021, 11h39

Jair Bolsonaro sentiu. Hoje de manhã (09/04), em seu já tradicional comício express na porta do Palácio do Alvorada, o presidente acusou o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto de Barroso de “falta de coragem moral” ao determinar a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o desastre da gestão do governo no combate à pandemia. “Lá dentro do Senado tem processos de impeachment contra ministros do Supremo. Quero ver se o Barroso vai ter coragem moral para mandar instalar esses processos de impeachment também. Falta coragem moral, sobra ativismo judicial”, disse Bolsonaro, aplaudido pelos acólitos. O ataque pessoal a Barroso mostra que o presidente está com medo.

A CPI da Covid recebeu assinaturas de 32 senadores (5 a mais que o mínimo) e deveria ter sido instalada há dois meses. Aliado de Bolsonaro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, sentou-se sobre o despacho e não liberou a abertura das investigações. Os senadores reclamaram, Pacheco os ignorou e eles recorreram à Justiça. Foi esse impasse que Barroso interveio ao ordenar a abertura da Comissão. O plenário do STF deve julgar e confirmar a liminar de Barroso em sessão no dia 16. A exemplo da CPI, a análise sobre pedidos de impeachment de ministros do STF cabe ao Senado e depende de aval de Pacheco.

Das frases feitas de Brasília poucas são tão verdadeiras quanto a definição de Comissão Parlamentar de Inquérito: “Você sabe como começa, nunca quando termina”. Foi uma CPI que obteve as provas para derrubar Fernando Collor em 1992 e desnudar os escândalos das emendas da Comissão de Orçamento do Congresso em 1993. Em 2005, graças à assinatura do então senador Eduardo Suplicy, uma CPI para apurar propina nos Correios desenterrou os meandros do escândalo do mensalão que quase derrubou Lula. Também foi em uma CPI, a da Petrobras de 2009, que oposicionistas do PSDB e PMDB passaram a participar do esquema de corrupção das empreiteiras em troca de relatórios insossos. Em 2015, Eduardo Cunha usou outra CPI da Petrobras para ter acesso às investigações internas da companhia, ao mesmo tempo que em era um dos alvos das apurações.

Com a instalação da CPI, a oposição a Bolsonaro no Congresso ganha um palco pela primeira vez. Poderá recontar a imperícia, imprudência e negligência de Bolsonaro e seus ministros ao não encomendar vacinas a tempo, incentivar tratamentos charlatões, sabotar medidas de interdição social, atrasar a entrega de oxigênio para hospitais de Manaus e Macapá, diminuir o ritmo de liberação de verbas para governos e prefeituras oposicionistas e dificultar a aquisição de insumos e imunizantes por governadores. Tudo isso com cobertura diária nos telejornais de emissoras de TV não controladas pelo ministro Fabio Faria. A intensa cobertura da mídia na CPI da Petrobras em 2014 foi um dos fatores que dificultou a reeleição de Dilma Rousseff e plantou o ambiente de apoio à Operação Lava Jato.

Chamar o Supremo para briga faz parte da conhecida tática de Bolsonaro de trocar de assunto quando o tema predominante não lhe interessa. Foi assim na semana passada quanto transformou uma discussão séria – a urgência dos lockdown para amenizar a propagação do vírus – em um efeito lateral, o funcionamento dos templos e igrejas. Com 4 mil mortes por dia, mil cidades com hospitais sem oxigênio e a produção de novas vacinas parada por falta de insumos, Bolsonaro sabe que a CPI pode desgastar seu governo por meses e, com certeza, inflacionar o preço de apoio do Centrão.

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