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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Bolsonaro é o capitão do Titanic da Covid-19

Proposta de empresas de comprar vacinas para funcionários mostra falência do plano do Ministério da Saúde

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 jan 2021, 14h50 - Publicado em 25 jan 2021, 14h42

A gestão de Bolsonaro no combate à Covid-19 se assemelha à do capitão do Titanic, o navio transatlântico cujo naufrágio em 1912 se tornou o símbolo da arrogância que leva ao desastre. Assim como o Sistema Único de Saúde (SUS) criado pela Constituição de 1988, o Titanic era considerado “inafundável” ao ser lançado ao mar. Depois de ignorar os alertas de outros navios sobre a presença de um iceberg na rota, o Titanic afundou ceifando mais de 1.500 vidas. Depois de ignorar os alertas sobre os riscos do coronavírus e não preparar um plano de vacinação, a gestão Bolsonaro já acumula mais de 217 mil mortes por Covid-19.

Uma notícia apurada pela repórter Julia Chaib, publicada na Folha de S. Paulo, reforça as semelhanças entre a negligência, imperícia e irrealismo de Jair Bolsonaro e as do capitão do Titanic, Edward Smith. De acordo com o jornal, um grupo das maiores empresas brasileiras negocia diretamente com a fármaco AstraZeneca a compra de 33 milhões de doses de vacinas contra Covid-19. As empresas pretendem doar metade dos lotes para vacinação pública, reservando a outra metade para seus funcionários.

Seria uma repetição do sistema do Titanic, no qual os passageiros da primeira classe foram avisando antes e tiveram acesso privilegiado aos botes salva-vidas. Aliás, assim como no Brasil o governo Bolsonaro ainda não apresentou planos para oferecer vacinas para todos, também a dona do Titanic, a operadora White Star Line, não incluiu botes para todos. Por isso, a tragédia do Titanic também é uma história de classes. Dos 179 homens que viajavam na primeira classe, um terço sobreviveu ao naufrágio. Já entre os passageiros da segunda classe, só 8% foram resgatados. Das 144 mulheres da primeira classe, 140 saíram vivas (97%). Das 165 mulheres embarcadas na terceira classe do Titanic, apenas 46% foram salvas.

O acordo proposto pelas empresas é a decretação do cada um por si de um país em naufrágio. Ele desvirtua a solidariedade geracional do sistema público de saúde, contraria as indicações científicas de preferência por grupos de risco e escancara o quem pode mais, chora menos. É a mesma lógica que as grandes redes de laboratórios pretendiam impor ao trazer vacinas da Índia para revendê-las no Brasil, lucrando com a incompetência do Ministério da Saúde.

Como a fábrica belga da AstraZeneca está com problemas, é improvável que o acordo dê resultados. A fármaco deve demorar meses para entregar as doses já pagas pela União Europeia, e obviamente a tentativa das empresas brasileiras de furar a fila terá de esperar. Mas o fato de que alguns dos maiores executivos se reuniram para pensar e propor algo semelhante é revelador da falência do governo em garantir um mínimo de proteção à população.

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