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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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A volta de Renan

Carreira acidentada do relator da CPI da Covid mostra que Bolsonaro vai enfrentar profissionais

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 28 abr 2021, 13h45

A política é uma única carreira que você pode ressuscitar sem precisar morrer antes. Brasília é orquidário de políticos que foram do planalto à planície sem escalas, sobreviveram tempos com zumbis, mas poucos têm tanta experiência em voltar à vida como o senador Renan Calheiros, o relator da CPI da Covid. Com um discurso pontuado e um tom de indignação contra o descalabro da gestão de Bolsonaro na pandemia, Renan estreou ontem na CPI elogiado pelos mesmos colunistas e políticos que decretaram sua morte mais de uma vez.

Alagoano, Renan surgiu no folclore político por ser o mais inteligente dos convivas que, num jantar em Pequim em 1988, acertaram a campanha do então governador Fernando Collor à presidência. Collor queria ser o candidato a vice de Mário Covas, mas viu o cavalo encilhado e ganhou no que parecia ser um novo tempo na política brasileira. Fez um governo horroroso e caiu depois de uma cisão iniciada na disputa pelo governo de Alagoas, em 1992. Renan foi do grupo que perdeu aquela eleição, mas saltou do governo Collor a tempo. Foi a primeira vez que o deram como morto.

Em 1998, Renan carregou o PMDB para o governo FHC, impedindo a candidatura do ex-presidente Itamar Franco. Como prêmio, virou ministro da Justiça. Na eleição de 2002, o PMDB inteiro abandonou José Serra, menos Renan. Alagoas foi o único estado que Lula perdeu no segundo turno. Por uns tempos, Renan se estranhou com Lula e ameaçou gestar a candidatura oposicionista de Anthony Garotinho. Mas em 2005, Renan já frequentava o Palácio do Alvorada e iniciado a sua primeira gestão como presidente do Senado. Premido por investigações de fraude no imposto de renda, ele renunciou em 2007, quando o enterraram mais uma vez.

Que nada. Renan foi decisivo na aliança do PMDB a favor de Dilma Rousseff, em 2010, e voltou a ser presidente do Senado em 2013. Nas marchas que cercaram o Congresso em junho daquele ano, Renan era o símbolo de tudo de ruim. Aliados evitavam ser fotografados do seu lado. Assumiu para subir e elegeu o filho governador de Alagoas com apoio do PT na eleição de 2014. Em 2016, ele votou a favor do impeachment de Dilma, mas salvou a ex-presidente de ter seus direitos políticos cassados. “Você vai com o seu aliado até ele morrer, participa do velório e carrega o caixão. Só não pula com ele na cova”, diz a máxima de Brasília.

Apesar de Michel Temer ser velho conhecido (ou talvez por isso mesmo), Renan rompeu com o novo governo e apoiou Lula (e depois Fernando Haddad) desde o dia zero da campanha de 2018. O PT perdeu, mas Renan e seu filho mantiveram o domínio em Alagoas. Uma brincadeira comum em Brasília era dizer que “se Renan pular do oitavo andar, pode saltar atrás que com certeza tem água embaixo”.

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Com Bolsonaro, Renan morreu pela última vez. A máquina digital de moer carne do bolsonarismo pressionou senadores a humilhar Renan e eleger o novato Davi Alcolumbre como presidente do Senado. Meses atrás, Renan circulava pelos tapetes azuis do Senado ignorado pelos repórteres mais jovens. Até surgir a CPI da Covid e o senador de Alagoas ressurgir feito fênix.

Na semana passada, o tom de Bolsonaro era de buscar um acordo. Pediu ao senador Ciro Nogueira que dissesse a Renan que lembrava com prazer das peladas de futebol que jogaram juntos no passado. Quando Renan deu de ombros, o bolsonarismo reagiu como o adolescente que não aceita fatos da vida. Parlamentares bolsonaristas recorreram à Justiça para impedi-lo de ser o relator da CPI. O filho número 1, Flávio Bolsonaro, chamou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, de “ingrato” por não ter impedido as investigações. Hoje, 28, o presidente Bolsonaro chamou a CPI de “carnaval fora de época”. A turma das redes sociais vai curtir, mas essas bravatas cobram preço alto.

Os primeiros pedidos de informação da CPI vão no estômago do governo Bolsonaro, dos contratos do Ministério da Saúde com laboratórios até as investigações da Polícia Federal sobre as ações do gabinete do ódio. O bolsonarismo sempre se alimentou do asco que o cidadão comum tem dos políticos profissionais, só que agora vai enfrentar o mais cascudo deles.

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