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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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A oposição no divã

A derrota de Baleia Rossi mostra o fracasso da ideia da frente ampla

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 2 fev 2021, 13h20

O roteiro não é original: um líder mitômano, narcisista e autoritário chega ao poder e os adversários esquecem por uns tempos seus ressentimentos e se juntam para derrotar o inimigo comum. Foi assim na Segunda Guerra contra o nazifascismo, em 1985 na Aliança Democrática que uniu Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e Aureliano Chaves para enterrar o regime militar e no ano passado, quando Joe Biden recebeu apoio de esquerdistas como Bernnie Sanders à dissidentes do partido republicano como a família do senador Joe McCain para expulsar Donald Trump da Casa Branca. Mas não no Brasil de Bolsonaro.

A derrota acachapante de oposicionista light Baleia Rossi para o bolsonarista hard Arthur Lira na eleição para presidente da Câmara por 302 a 145 votos foi na política o que o 7 a 1 da Alemanha no Brasil em 2014 representou para o futebol.

Incapaz de uma opinião polêmica, Baleia foi escolhido pelo padrinho Rodrigo Maia para ser o mínimo múltiplo comum entre a direita não-bolsonarista e a esquerda anticapitalista, uma espécie de ensaio para uma frente que se juntaria contra Jair Bolsonaro no segundo turno em 2022. Assim como a humilhação na Copa de 2014 mostrou que não bastava alegria nas pernas para enfrentar um time superior, a derrota na eleição da Câmara revela que os discursos bonitos pela democracia ou da independência dos poderes não valem meia dúzia de emendas do Ministério de Desenvolvimento Regional.

O saldo do massacre da segunda-feira à noite é conhecido: Rodrigo Maia mostrou-se um articulador desastrado, João Doria não controla o PSDB, o prefeito João Campos não enxerga para além das margens do rio Capibaribe, o PT está prisioneiro do trauma do impeachment e o Democratas é capaz de vender a mãe e não entregar. Mas e agora?

Com razão, muitos políticos argumentam que as eleições na Câmara e no Senado de 2021 não tem nada a ver com a disputa presidencial de 2022. É verdade. Ninguém votou em Bolsonaro em 2018 porque Rodrigo Maia e Renan Calheiros dirigiam, respectivamente, a Câmara e o Senado. As presidências das Casas são importantes na distribuição de cargos nas Comissões, relatorias de leis e acesso às emendas, fatores definidores para a reeleição de um senador ou deputado.

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Mas também é tolice achar que são mundos paralelos. José Serra trouxe o PMDB para sua chapa a presidente em 2002 ao ajudar o partido a ganhar a eleição do Senado. Em 2010, o mesmo PMDB só apoiou Dilma Rousseff depois do acordo de rodízio com o PT para as presidências da Câmara. É natural que partidos que trabalhem juntos no Congresso repitam a fórmula em suas chapas presidenciais.

Para a esquerda a vitória de Arthur Lira muda pouco para 2022. O PT terá seu candidato e no PDT, Ciro Gomes deve arriscar a sua quarta tentativa de chegar ao Planalto. Para o Centrinho, no entanto, o fato de Bolsonaro ter elegido os seus preferidos nas duas Casas traz lições. João Doria não domina o PSDB fora de São Paulo e Luciano Huck terá de pensar com calma antes de se filiar no Democratas ou no PSD sob risco de virar mercadoria de troca.

É para o presidente Bolsonaro que a vitória de Lira e Rodrigo Pacheco, no Senado, geram uma expectativa de poder só comparável quando foi eleito. Em dois anos, Bolsonaro aparelhou e controlou o Exército, a Procuradoria Geral da República, a Polícia Federal, a Receita Federal, o Superior Tribunal de Justiça e manteve seu apoio firme nos comandos das Polícias Militares, igrejas evangélicas, entidades do agro e caminhoneiros. Agora, ele tem o controle da agenda do Legislativo e uma oposição no divã.

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