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Por Fernanda Furquim
Este é um espaço dedicado às séries e minisséries produzidas para a televisão. Traz informações, comentários e curiosidades sobre produções de todas as épocas.
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Wallander com Kenneth Branagh Chega ao Brasil

A editora Log On, que tem contrato de exclusividade com a BBC inglesa, lança esta semana a primeira temporada da série “Wallander” em DVD. O box traz os três telefilmes produzidos em 2008, com cerca de 90 minutos cada, os quais renderam à série o prêmio BAFTA, concedido pela British Television Academy. A produção tem […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 1 dez 2016, 16h17 - Publicado em 4 jul 2010, 01h55

A editora Log On, que tem contrato de exclusividade com a BBC inglesa, lança esta semana a primeira temporada da série “Wallander” em DVD. O box traz os três telefilmes produzidos em 2008, com cerca de 90 minutos cada, os quais renderam à série o prêmio BAFTA, concedido pela British Television Academy.

A produção tem como base os livros escritos por Henning Mankell, um dos mais renomados autores suecos da atualidade. Seu personagem surgiu na literatura policial em 1991, retornando em mais oito livros. Cada uma das histórias foi adaptada para o cinema na Suécia, entre 1995 e  2007; uma série de TV surgiu em 2005 e ainda está em produção. Esta série chegou ao Brasil através da TV a cabo, pelo canal Film& Arts.

A versão inglesa, estrelada por Kenneth Branagh, começou a ser produzida em 2008, em parceria com a Suécia, os EUA e a Alemanha. Atualmente, está em sua terceira temporada, a qual não tem previsão de estreia. As duas primeiras consistem de três telefilmes cada. Além de Branagh, a série também traz os atores Sarah Smart, Sadie Shimmin, Tom Hiddleston, Richard McCabe, Jeany Spark, David Warner e Polly Hemingway no elenco.

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O box lançado no Brasil traz as três primeiras histórias, adaptadas dos livros 6, 8 e 9. Além dos episódios, o box também traz como material Extra um documentário sobre “Quem é Kurt Wallander”, o qual faz também um resumo da vida e carreira do autor; além de entrevistas com o Kenneth Branagh, documentário sobre a abordagem inglesa para as histórias  suecas e curiosidades sobre a produção e sua fotografia.

Wallander é um detetive da polícia sueca que vive na região sul do país, em uma pequena cidade fronteiriça. Diabético, recém divorciado, tentando manter uma relação afetiva com a filha que aos 15 anos tentou o suicídio, Wallander vê o resto de seu mundo ruir ao descobrir que o pai, com quem nunca conseguiu se comunicar, apresenta os primeiros sintomas do Mal de Alzheimer.

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Casado com Gertrude, sua segunda esposa, Povel Wallander é um artista que há muitos anos pinta sempre a mesma paisagem, dando uma interpretação diferente a cada uma delas. Grosseiro e distante, ele desaprova a profissão do filho; mas ao perceber que perderá sua consciência, tenta, a seu modo, criar uma relação com ele.

Mesmo com sua aparência relaxada, quase a de um bêbado de rua, e de seu comportamento pouco afetivo e sempre distante, Kurt Wallander é respeitado por seus colegas de trabalho na polícia. Obcecado em solucionar seus casos, Wallander abandonou sua vida pessoal, preferindo não olhar para seus próprios problemas, embora tenha consciência de quais sejam. Ele carrega a dor da humanidade, tenta entender o que faz do ser humano uma criatura tão cruel a ponto de destruir a vida de outro. Ao investigar seus casos, Wallander chega a criar uma empatia com as vítimas, o que serve de mola que impulsiona sua vontade de solucionar suas mortes.

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A produção da série inglesa optou por fazer uma abordagem mais intimista das histórias de Wallander, tal qual é apresentada nos livros, mas diferente do que é visto na série sueca; esta optou por uma narrativa e uma fotografia que valoriza a trama, mas suaviza os conflitos internos do personagem. A versão inglesa conta com o apoio dos enquadramentos de câmera e de uma bela fotografia que dão personalidade à história.

Em “Wallander”, o ambiente se torna mais um personagem que entra em conflito com os demais. Na série, a natureza se revela proporcionalmente maior que os personagens, os quais aparecem pequenos e dominados pelo ambiente, tornando-se quase insignificantes. Seus problemas pessoais são ainda menores diante do quadro grandioso da natureza. É visível o quanto o ser humano e seus demônios são passageiros, quase uma sujeira, nos cenários em que estão inseridos.

Assim sendo, a abordagem intimista dos personagens se contrapõe aos cenários amplos e intensamente coloridos captados pela câmera Red Cam, que possibilita uma imagem em alta definição. O ambiente intimista está apenas nos cenários internos, o que condiz a proposta do personagem e da série.

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Os cenários foram construídos tendo como base a arquitetura dos anos 60 e 70. No documentário que vem nos Extras, essa escolha é apontada com a intenção de mostrar a sociedade presa ao período no qual a inocência e os sonhos acabaram. Essa escolha tem a ver também com a postura do personagem, que já não tem nenhuma ilusão ou objetivo na vida. Embora ele tome atitudes para solucionar os casos que investiga, nos aspectos pessoais, ele está estacionado; observando as pessoas a seu redor passarem por ele, sofrendo por eles, mas sem fazer um único movimento para tentar mudar alguma coisa.

Por outro lado, a natureza aqui tem duplo sentido. Refere-se não apenas ao ambiente, mas, também, à natureza destrutiva do ser humano, que na série tem tendências muito maiores do que aquelas que podemos controlar. Apresentando crimes violentos, a série consegue manipular os aspectos sensacionalistas dos atos, permitindo que eles sirvam de força motriz para os questionamentos sobre a alma humana; e também que não sejam usados como bandeiras de diálogo sobre a moralização da sociedade.

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No material dos Extras, é dito que a sociedade sueca se transformou ao longo dos anos, passando de uma utopia de perfeição para uma realidade xenófoba (preconceito racial e cultural). Nos últimos anos, os índices de criminalidade de origem sexual e racial têm se intensificado no país, chegando ao ponto da Suécia ficar em sétimo lugar em um ranking da Comissão Européia, que listou 18 países onde a criminalidade era um problema.

“Wallander” explora essa deterioração da sociedade perfeita, que ainda mantém as aparências (vê-se na fotografia), apresentando os rompantes emocionais de indivíduos, que os levam a um ato de violência. Apesar de ser detetive da polícia há muitos anos, o requinte de crueldade de um ser humano para com o outro ainda surpreende Wallander.

Apesar dos personagens principais serem muito bem construídos e interpretados, a série deixou de lado o desenvolvimento dos coadjuvantes (os colegas policiais), que servem apenas como apoio, sem oferecerem de fato um leque de opções para o desenvolvimento da trama. A série é focada unicamente em Wallander e sua relação com a família e os casos que investiga.

Mesmo assim, é um prazer assistir uma produção seriada na certeza de que não será desperdiçada com diálogos redundantes ou moralmente didáticos; nem jogada no lixo com redirecionamentos de roteiros para que possam se tornar mais populares. Pelo menos, assim espero, já que na terceira temporada serão produzidos seis episódios: três com base nos livros de Mankell e três originais.

Sem nenhum melodrama, a série atinge profunda e honestamente um aspecto da alma humana presente em qualquer tipo de seriado: a forma como o personagem vê o mundo e como se coloca nele.

Fernanda Furquim: @Fer_Furquim

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