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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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‘Botar a mão no fogo’ nasceu de uma tortura medieval

Ronald Lacey em “Os caçadores da arca perdida” “De onde veio a expressão ‘botar a mão no fogo por alguém’? Acho estranha, considerando que quem bota a mão no fogo vai sempre se queimar.” (Antonia Marinho) O grande pesquisador da cultura brasileira Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) liga a expressão “botar a mão no fogo” […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 05h27 - Publicado em 5 set 2013, 16h17

Ronald Lacey em “Os caçadores da arca perdida”

“De onde veio a expressão ‘botar a mão no fogo por alguém’? Acho estranha, considerando que quem bota a mão no fogo vai sempre se queimar.” (Antonia Marinho)

O grande pesquisador da cultura brasileira Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) liga a expressão “botar a mão no fogo” a uma tortura medieval – ou não propriamente uma tortura, em sua intenção declarada, mas uma prova a que se submetiam os réus, embora o resultado terminasse sendo o mesmo.

Passo a palavra a Câmara Cascudo, em seu livro “Locuções tradicionais do Brasil”:

Quem alegava inocência submetia-se a pegar numa barra de ferro aquecida ao rubro e caminhar com ela na mão por alguns metros. Envolvia-se a mão em estopa, selada com cera, e três dias depois abria-se a atadura. Se a mão estivesse ilesa, sem sinal de queimadura, era evidente e provada a inocência. Se tivesse queimadura, provada estava a culpabilidade e era imediata a punição pela forca.

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O maior requinte de crueldade dessa prática medieval – uma entre tantas numa época especialmente imaginosa na indução de sofrimentos atrozes – era, claro, o fato de que todos os que a ela se submetiam saíam queimados. Como observa Antonia, o fogo (ou o ferro em brasa) não faz distinção entre inocentes e culpados.

De todo modo, o pesquisador cita o caso famoso de uma senhora portuguesa chamada Marina, “esposa de Estêvão Gontines”, que em 1324, acusada de adultério, teria conseguido agarrar o ferro em brasa sem nada sofrer. Ou assim corria a lenda, que no século XIX inspirou o romance “Balio de Leça”, do escritor português Arnaldo Gama.

Firmada desse modo a associação entre a inocência e a blindagem contra queimaduras, foi preciso apenas ampliar um pouco o sentido da expressão. A ausência de culpa própria se estendeu à ausência de culpa alheia, e “botar a mão no fogo” por alguém passou a ser uma forma de protestar confiança cega na inocência ou nas boas intenções de tal pessoa.

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