“Lulismo”, segundo o cientista político André Singer (USP), é a “um projeto político de redistribuição de renda focado no setor mais pobre da população, mas sem ameaça de ruptura da ordem, sem confrontação política, sem radicalização, sem os componentes clássicos das propostas de mudanças mais à esquerda.”
Em agosto de 2018, o termo ganha novo significado. O “lulismo” de Fernando Haddad, candidato à vice-presidente pelo PT, é a expressão da adoração personalíssima, intransferível, a um líder político preso após condenação em duas instâncias judiciais. Até o programa de governo do partido se chama “Plano Lula de Governo”. Seria triste se não fosse engraçado.
De partido de massas nos anos oitenta – não no sentido eleitoral, mas organizacional -, o PT passou os anos noventa como principal partido de oposição parlamentar no nível federal. Este papel crucial não foi ocupado por nenhum partido ou organização a partir de 2003, quando Lula (PT) iniciou seu primeiro mandato. Àquela altura, o mérito do líder foi duplo: levou o partido ao centro na campanha de 2002, ao colocar José Alencar (PL) como candidato a vice-presidente, e ignorou propostas de esquerda para fazer um governo estável, que sobreviveu até ao mensalão.
Até 2015, mais ou menos, Lula personificou o líder partidário ideal de acordo com o estudo de Brandon Van Dyck. Combinava “apelo externo” com “dominação interna”. Lula quase sempre controlou a organização partidária através de José Dirceu (PT), com breve pausa no início dos anos noventa.
Com a Lava Jato, especialmente a partir de 2015, Lula começou a temer sua prisão. Demorou, mas aconteceu no início de 2018. Uma pesquisa do cientista político Carlos Pereira mostra que candidatos condenados pela justiça perdem apelo eleitoral. Mesmo que Lula continue liderando pesquisas para a presidência, dificilmente venceria o segundo turno.
Se o PT fosse mais esperto, teria lançado Fernando Haddad (PT) como pré-candidato logo após a prisão de Lula. É impossível fazer política da cadeia. Lula não participará de debates nem fará campanha nas ruas. A candidatura é para salvar o que resta de sua reputação. Serve, também, para inviabilizar o futuro do PT.
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