Judiciário ganha muito com desistência de Joaquim Barbosa
O combate à corrupção tenderia a ser visto como estratégia carreirista caso Barbosa fosse candidato
Através de seu perfil no Twitter, o ex-juiz Joaquim Barbosa acaba de anunciar que não será candidato à Presidência pelo PSB. Sem Lula nas pesquisas, Barbosa teria cerca de 10% das intenções de voto. Menos do que Marina Silva e Jair Bolsonaro, mas impressionante para quem só agora se filiou a um partido político. De acordo com as pesquisas, Barbosa tinha enorme potencial para crescer. Reunia qualidades como intransigência no combate à corrupção, honestidade pessoal e a falta de carreira política.
Quem ganha mesmo com a desistência de Barbosa é o Judiciário, esse estranho conjunto de instituições cuja reputação é construída coletivamente, mas de modo desproporcional por alguns membros (os onze do Supremo Tribunal Federal, Sergio Moro, Marcelo Bretas, João Carlos da Rocha Mattos… ). Barbosa foi ministro do STF de 2003 a 2014, indicado ao cargo pelo ex-presidente Lula (PT) por sugestão de Frei Betto (PT). Relator do processo do mensalão petista a partir de 2006, liderou a condenação de 24 réus. Foi a primeira vez que o STF agiu no sentido de punir políticos corruptos. Barbosa foi, quase sozinho, uma Lava Jato.
Com sua candidatura à Presidência, corria o risco de manchar esse legado. Afinal, uma das principais críticas ao Judiciário e órgãos de combate à corrupção é que eles têm agido de maneira demasiadamente política e pouco técnica. (Discordo disso em meu livro Guerra à Corrupção: Lições da Lava Jato, publicado no fim de 2017.) Ao mesmo tempo em que poderia oxigenar a vida partidária brasileira, Barbosa afetaria negativamente a reputação do Judiciário no Brasil. O combate à corrupção tenderia a ser visto como estratégia carreirista. A longo prazo, é bom que ele tenha desistido.