Como explicar o descalabro fiscal de Dilma?
Cientistas políticos estão acostumados a estabelecer relações causais entre fenômenos amplos, considerando fatores estruturais antes de “anedotas”. Um perigo de levar isso ao extremo é esquecer o papel de líderes políticos na definição de políticas públicas – ou seja, pensar em “estrutura” às custas de “agência” individual. Dois artigos excelentes e semelhantes – um de […]
Cientistas políticos estão acostumados a estabelecer relações causais entre fenômenos amplos, considerando fatores estruturais antes de “anedotas”. Um perigo de levar isso ao extremo é esquecer o papel de líderes políticos na definição de políticas públicas – ou seja, pensar em “estrutura” às custas de “agência” individual.
Dois artigos excelentes e semelhantes – um de Kathleen Bawn e Frances Rosenbluth , outro de Torsten Persson, Gerard Roland e Guido Tabellini – levam em contato fatores “macro” para explicar a relação entre políticos e finanças públicas. Argumentam que coalizões com muitos partidos em sistemas parlamentaristas levam a maiores gastos públicos. A relação entre as duas coisas é intuitiva: quanto mais atores políticos há no parlamento, mais pontos de acesso haverá a quem decide o orçamento. E esses pontos são acessados por lobbies empresariais, sindicais, associações de professores, advogados, médicos etc.
Cada grupo tem uma reivindicação justa (e com certo potencial para fazer bem a mais gente, no melhor dos mundos), mas atender cada uma delas significa fornecer benefícios concentrados com custos difusos. Os parlamentares podem, é claro, dizer que estão representando legitimamente a sociedade. Mais representação significa maiores gastos? Sim, mostram os dados, a lógica e o retorno eleitoral presumido desse comportamento.
Como explicar, diante disso, o descalabro fiscal da presidente Dilma Rousseff? Ela gerenciava (muito mal) uma coalizão com muitos partidos que tinham fortes incentivos para beneficiar grupos específicos – afinal, a competição eleitoral no Brasil é intensa. (Somos os recordistas em número de partidos, como mostra o cientista político George Avelino [Cepesp, FGV-SP])
(Escrevi “gerenciava”. Sou golpista? Bom, até a Kátia Abreu já está se despedindo…)
Mas não é justo culpar os ministros partidários e suas bancadas na Câmara dos Deputados e Senado Federal pelas escolhas econômicas da presidente. Afinal, líderes equivocados também podem produzir mais gastos sem que isso reverta (tragicamente!) em “mais representação”. Afinal, o ralo de bilhões de reais do BNDES não beneficiou nenhum brasileiro, a não ser os acionistas das empresas contempladas com empréstimos a juros baixíssimos.
Está aí o pior dos mundos: desemprego e crise econômica hoje junto com despesas para nossas filhas pagarem amanhã.
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