Joe Biden, presidente eleito dos EUA
Biden é a pessoa certa para reconciliar o povo americano consigo mesmo
Acabou o suplício: Joe Biden é o novo presidente dos Estados Unidos.
Sua vitória é boa notícia para (quase) todos. Boa notícia para a democracia, que fica preservada; para o mundo em geral, que fica mais seguro; para os EUA, que se livram de um presidente irresponsável e perigoso; para a Europa, que volta a ter um aliado confiável; para o Partido Democrata, que recompõe parte de sua base e volta ao poder; boa notícia até para o Partido Republicano, que sai da sombra de um líder tóxico e tem a chance de se reconstruir e de recuperar sua identidade e sua dignidade.
Naturalmente, é má notícia para Trump, que não só perdeu a presidência como a perdeu de uma maneira particularmente indigna e vergonhosa: é improvável que consiga se manter líder da oposição ou sequer como uma figura importante em seu partido. E é má notícia para Jair Bolsonaro, que perde o ídolo, o mentor, o exemplo e o principal aliado em seu projeto de retrocesso ao século XVII.
Para o Brasil é boa notícia, porque Biden tem condições de forçar Bolsonaro a entrar na linha no que se refere ao meio-ambiente, à diplomacia, aos direitos humanos. Por outro lado, é provável que o Brasil sofra sanções comerciais — mas a verdade é que Trump nunca nos ajudou em nada e nosso principal parceiro comercial continua sendo a China. As vantagens compensam as desvantagens.
Mas é um erro ver a eleição de Biden como uma vitória consagradora ou um sinal de que o eleitorado repudiou Trump em regra. Biden ganhou por um ponto no último round. Poderia perfeitamente ter perdido. Isso significa que quase metade da população americana não se incomoda de ter um líder trapaceiro, preconceituoso, mentiroso contumaz e inimigo da democracia. A sociedade americana continua polarizada, e há muita gente insatisfeita com o resultado, muita gente que acredita até na balela de que os democratas teriam fraudado a eleição.
O novo presidente tem pela frente um enorme trabalho de negociação e conciliação para cicatrizar feridas profundas e reconciliar o povo americano consigo mesmo. Felizmente, Biden, que passou a carreira construindo pontes, é a pessoa certa para a tarefa (e se isso for possível lá, com certeza o será também aqui). Que tenha sorte e sucesso.