O senador Eduardo Braga acaba de apresentar seu relatório à Comissão de Constituição e Justiça descrevendo Kassio Nunes Marques, indicado de Bolsonaro ao STF, como um “exemplo de garra e perseverança”. O senador do MDB — “o partido de moral homogênea”, segundo o falecido deputado Marcio Moreira Alves — acredita que as evidências de plágio e fraude no currículo de Kassio não depõem contra ele.
Kassio está longe de ser o único integrante do Estado brasileiro contra o qual há evidências de plágio e fraude no currículo. Entre os acusados de ter currículo de araque estão os ministros Ricardo Salles e Damares Alves, o governador Wilson Witzel, o prefeito Marcello Crivella, a ex-presidente Dilma Rousseff, os ex-ministros Ricardo Vélez Rodríguez e Carlos Alberto Decotelli da Silva.
Não é o fato de serem pessoas públicas que faz com que falsifiquem seus currículos: ao contrário, é o fato de se tornarem públicas que leva a falsificação a ser descoberta. Há muita gente com currículo de araque por aí que jamais será desmascarada.
A falsificação de currículo pode ser qualificada como crime de falsidade ideológica, falsificação de documento, fraude, estelionato. Mas quase sempre fica por isso mesmo. A falta de cerimônia do brasileiro com a mentira e a trapaça, a pouca valorização da ética, a atitude do “que que tem?” e do “e daí?”, o viés de “levar vantagem em tudo” explicam muito sobre quem somos e onde estamos.
Quase todos os casos de falsificação de currículo ficam por isso mesmo. O presidente Bolsonaro, que, recentemente, se gabou de ter acabado com a corrupção, não achou que a fraude fosse motivo para demitir Salles ou Damares nem retirou sua indicação de Kassio Marques para o Supremo (é espantoso que não se exija de um ministro da mais alta corte do país um mínimo de respeito à ética).
Até onde se sabe, a única pessoa a sofrer algum tipo de punição por ter falsificado o currículo foi Carlos Alberto Decotelli. Que é negro. O que também diz muito sobre quem somos e onde estamos.