Bolsonaro se fecha em seu labirinto
O presidente promove uma dança das cadeiras que o isola ainda mais
Conforme esperado, Bolsonaro entregou ao Senado a cabeça de Ernesto Araújo.
Mas não deixou por isso. Demitiu também o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e o Advogado-Geral da União, José Levi.
E promoveu uma dança das cadeiras, relocando Braga Netto para a Defesa, Luiz Eduardo Ramos para a Casa Civil, André Mendonça para a AGU e trazendo o delegado Anderson Torres, atual secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, para a Justiça.
As coisas ainda estão confusas, mas, aparentemente, Jair Bolsonaro tem os seguintes objetivos:
1. Dar uma demonstração de força para a militância bolsonarista após a fragorosa derrota que representa a demissão de Araújo.
2. Cercar-se de pessoas de sua absoluta confiança (não é esse o caso de Azevedo nem de Levi).
3. Dar a impressão de que pode dar um golpe de Estado.
Mas o que deveria ser uma demonstração de força, parece mais uma demonstração de fraqueza. Sugere que Bolsonaro está acuado, com medo, sentindo a necessidade de se cercar de pessoas que lhes prestem obediência cega.
É também um movimento arriscado, que o fragiliza. A demissão repentina e imotivada de Fernando Azevedo é uma ofensa aos militares, que, por tudo o que se sabe, já se articulavam para apoiar outra candidatura em 2022.
A demissão de José Levi, que tem excelente relacionamento com o Supremo Tribunal Federal, queima uma ponte importante com os ministros do Supremo.
O pandemônio que Bolsonaro está fazendo sinaliza (ainda mais) que ele não tem condições de tocar o barco. Ao cercar-se de gente obediente, priva-se de quem poderia chamar sua atenção para eventuais erros que venha a cometer.
Jair Bolsonaro vai se fechando em seu próprio labirinto.