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Bolsonaro e o recado das urnas

Em pleito de caráter plebiscitário, a colheita do presidente foi amarga

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 nov 2020, 10h22 - Publicado em 20 nov 2020, 06h00

Bolsonaro passou dois anos semeando. Hostilizou aliados, dinamitou pontes, rompeu com o próprio partido. Falhou em criar uma nova legenda, deixou seus seguidores ao deus-dará. Traiu promessas e grupos que o apoiaram. Foi egoísta, autocentrado, ingrato.

Investiu no ódio e na radicalização. Permitiu, e encorajou, brigas entre os auxiliares. Errou na gestão, na economia e na saúde. Por covardia, para não se desgastar, resolveu não apoiar ninguém. Em cima da hora, de improviso, apoiou candidatos sem avaliar suas chances.

A colheita foi amarga. Os grandes vencedores da eleição foram partidos de centro e da direita não bolsonarista; dos seis candidatos a prefeito de capitais que Bolsonaro recomendou, apenas dois estão no segundo turno, e são azarões; de 44 candidatos a vereador, elegeu nove.

Diante do fiasco, fugiu para a frente. Afirmou não ter perdido, pois não participou da campanha (apagou as provas em contrário). Denunciou uma fraude inexistente. Declarou que a esquerda (que está no segundo turno em dez capitais) sofreu “uma derrota histórica”. Argumentos falsos para negar o inegável.

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Eleições municipais são diferentes de eleições nacionais, a derrota de hoje não impede uma vitória em 2022. Mas vale entender o recado das urnas. Como o presidente é adepto da cisão, o eleitorado se divide entre contra e a favor dele, o que dá à eleição, especialmente nas capitais, um caráter plebiscitário. Em Manaus, cidade brutalmente atingida pela Covid-19, minimizada pelo presidente, o candidato bolsonarista ficou em quinto. No Recife, a Delegada Patrícia, que disputava o segundo lugar, caiu para quarto quando Bolsonaro anunciou apoio. A forte rejeição dos paulistanos ao presidente foi um dos fatores do derretimento de Russomanno. Em Fortaleza, o Capitão Wagner, no segundo turno, tenta se descolar do presidente.

“Até a vitória do aliado Centrão é uma faca de dois gumes, porque o preço do apoio vai subir”

Os candidatos daqueles que vivem na órbita de Bolsonaro também fracassaram. Nenhum dos indicados por Michelle ou Carla Zambelli se elegeu. Damares apoiou nove, elegeu um. Dos 78 (!) candidatos de sobrenome Bolsonaro, só um se elegeu — mas a vitória de Carlos teve gosto de derrota: esperava-se que sua votação dobrasse em relação a 2016, e ela caiu 35%. Cansado da polarização, o eleitorado elegeu gente moderada. Descrente da visão bolsonarista, escolheu quem defende a ciência e a vida. Em 2022, a oposição terá maior acesso às máquinas eleitorais municipais.

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O fracasso do PT retira de Bolsonaro o seu principal ativo eleitoral — o medo da volta dos petistas — e facilita o diálogo dos partidos de esquerda com o centro. E até a vitória do aliado Centrão é uma faca de dois gumes, porque o preço do apoio vai subir.

É um erro supor que Bolsonaro esteja morto: ele é o presidente da República, falta muito para 2022 e a oposição está sem rumo. Mas os fatores que levaram Bolsonaro ao poder já não têm tanto apelo, e ele precisa refazer sua estratégia dentro de um cenário desafiador: Covid-19, desemprego, inflação e juros em alta, fim do auxílio emergencial, perspectiva de crise fiscal.

Não seria fácil nem se Bolsonaro entendesse o tamanho do problema. E ele não entende.

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Publicado em VEJA de 25 de novembro de 2020, edição nº 2714

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