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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Vejam quem é um dos Diderots da Wikipedia no Brasil! Ou: Nessa enciclopédia, Tiririca será professor!

Ah, as enciclopédias… Em março deste ano, a empresa que edita a Enciclopédia Britânica anunciou o fim da versão impressa. Sinal dos tempos. Conserva uma eletrônica e uma online. O Google e o, vamos dizer, “saber popular” da Wikipedia tomaram o seu lugar. Uma das melhores memórias que tenho está ligada a uma enciclopédia. Em […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 08h22 - Publicado em 16 jul 2012, 18h01

Ah, as enciclopédias…

Em março deste ano, a empresa que edita a Enciclopédia Britânica anunciou o fim da versão impressa. Sinal dos tempos. Conserva uma eletrônica e uma online. O Google e o, vamos dizer, “saber popular” da Wikipedia tomaram o seu lugar.

Uma das melhores memórias que tenho está ligada a uma enciclopédia. Em 1976, venci um concurso nacional de redação — o tema era a preservação da natureza (já!!!), e eu aproveitei para dar um cacete na ditadura (ganhei, mas comecei a ter problemas…) —, e o prêmio era uma Barsa inteirinha, só pra mim. Lembro do dia em que as caixas chegaram, o cheiro dos livros, o orgulho de pai e mãe, essas coisas desta vida besta… A primeira edição da Barsa no Brasil foi coordenada pelo jornalista e escritor Antonio Callado. Muitos intelectuais brasileiros trabalharam na elaboração de verbetes, como é o caso do poeta Ferreira Gullar.

Pois é… Se a Britânica tinha entre seus colaboradores alguns dos mais destacados intelectuais do mundo e se a Barsa contou com gente como Callado e Gullar, a Wikipedia dá poderes de “eliminador” a um sujeito chamado “Chico Venâncio”. Quem é Chico Venâncio? Vamos ao começo da história.

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O ministro Gilmar Mendes, do STF, não gostou de algumas barbaridades que estavam — e muitas ainda estão — em sua biografia na Wikipedia. E fez o óbvio: reclamou. Eis que surge no cenário o tal Venâncio, um rapaz de 23 anos, recém-formado em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília. Ele é uma das pessoas autorizadas a alterar verbetes da enciclopédia. Seu status é o de “eliminador”. Pode cortar as passagens que considera inadequadas. Huuummm…

Antes que continue, uma observação: não vou aqui reescrever o perfil de Mendes na Wikipedia, mas a quantidade de contrabando ideológico que se lê é assombrosa. A síntese feita, por exemplo, sobre a atuação do ministro no caso da Lei da Ficha Limpa é pura delinquência intelectual. Pois bem… Francisco Carvalho Venâncio — é o nome completo do rapaz — decidiu cortar da biografia do ministro apenas as informações que podem ser consideradas favoráveis ao ministro. As delinquências ficaram lá.

Flagrado em sua ação deletéria e procurado pela Folha para se pronunciar, escreveu um post em seu blog em tom meio debochado. Atenção! Juventude não é sinônimo de ignorância, não! A humanidade já produziu muitos gênios abaixo dos 30 e até dos 20. Venâncio poderia ser um deles, um novo Diderot de Brasília. Será o caso? Leiam (em vermelho) o trecho do texto intitulado “Artigo do Gilmar Mendes 1 (ou “Mamãe saí na Folha”)”. Assombrem-se!

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Não comentei o motivo que me retornou a escrever no blog no último post. Na terça-feira a noite recebi um email de uma repórter da Folha de São Paulo me pedindo uma entrevista sobre a Wikipédia. A última coisa que eu esperava é que fosse um pedido de reação ao incômodo de Gilmar Mendes com as minhas edições em seu artigo!

Devo afirmar de antemão que é claro que eu não gosto de Gilmar Mendes e o considero o pior ministro que o STF possui. Acredito que ele tornou profecia as palavras de Dalmo Dallari. Os mais atentos lembrarão que iniciei esse blog a pouco mais de um ano expondo motivos de porque acredito que Gilmar Mendes deva ser removido do STF.

Entretanto, faço o possível para que essa visão pessoal não enviese as minhas edições na Wikipédia. Seguindo as regras colocadas lá é bem mais fácil esquecer paixões pessoais do que imaginamos (uma grande beleza que eu vejo no critério de verificabilidade é que toda a discussão sobre qual é/se existe a verdade torna-se inútil).
(…)

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Voltei
Destaquei apenas os erros mais escandalosos do seu texto. Sim, senhores! Chico Venâncio entrou na universidade e dela saiu sem saber a diferença entre uma preposição “a” e o verbo haver — “há” para indicar tempo decorrido, erro que uma criança medianamente alfabetizada já não comete.

O emprego do verbo “retornar” revela uma ignorância quase comovente porque não deixa de ser uma tentativa, coitado!, de falar difícil. Por “me retornou a escrever”, ele queria dizer “me fez voltar a escrever”. Uma simples “resposta” vira “pedido de reação”. Ignorando “os motivos pelos quais” ou “motivos por que” (separado, viu, Chiquinho!?), ele tasca um “motivos de porque”… Se tomar duas pingas, a exemplo do Apedeuta-mestre, começará a “achar de que…”

Notem que me atenho à, vamos dizer, performance linguística desse enciclopedista. E o conteúdo da glossolalia? Percebe-se a sua isenção, não é mesmo? Eis aí: essa gente aparelha até churrasco na laje. Por que não aparelharia a Wikipedia?

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“Que absurdo pegar no pé do rapaz por causa de uns errinhos, Reinaldo!”  Ora, ele é um enciclopedista! A qualidade do seu texto reflete certamente a qualidade de suas edições. Ah, sim: um dos seus argumentos para manter no verbete certas ofensas e imprecisões é que se baseia em denúncias publicadas aqui e ali que não foram desmentidas…

Ah, bom! Mais uma prova de rigor intelectual! Mendes ou qualquer outro desafeto de Venâncio teriam de sair por aí, em tempos de Internet, a desmentir tudo o que se publica — obrigados a provar, então, que são inocentes — para impedir que calúnias e difamações sejam veiculadas nos verbetes.

Não sei quem cuida da Wikipedia no Brasil. O que sei é que Diderots dessa qualidade a empurram para a mais completa desmoralização. Transformaram a enciclopédia popular num capítulo da guerrilha ideológica suja.

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Como diria Venâncio, talvez ainda “me retorne” ao caso… Nessa enciclopédia, Tiririca é professor! Parece que o Itamaraty está de olho neste recém-formado em Relações Internacionais. Com essa gramática, no lulo-petismo, o rapaz tem futuro!

Aqui, a prova das boçalidades do nosso enciclopedista; o Itamaraty está de olho nele: rapaz de futuro!

Aqui, a prova das boçalidades do nosso enciclopedista; o Itamaraty está de olho nele: rapaz de futuro!

 

 

 

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