USP, polícia e demagogia
Fernando Barros e Silva, editor de Brasil da Folha, não é o que se poderia dizer da “minha turma”. Ao contrário até: já andamos nos estranhando em textos. É possível que deteste ver seu artigo reproduzido aqui. Talvez seja alvo até da contraposição de alguns amigos. Paciência! Quando gosto, digo “gosto”. Quando não gosto, “não […]
Fernando Barros e Silva, editor de Brasil da Folha, não é o que se poderia dizer da “minha turma”. Ao contrário até: já andamos nos estranhando em textos. É possível que deteste ver seu artigo reproduzido aqui. Talvez seja alvo até da contraposição de alguns amigos. Paciência! Quando gosto, digo “gosto”. Quando não gosto, “não gosto”. E com o hábito — para alguns, mau hábito — de citar nomes. Sabem por que o faço? Nós, os jornalistas, não hesitamos em dar nome aos bois. Por que deveríamos ser exceção a uma regra que consideramos correta? Estamos no debate de idéias como quaisquer outros. Adiante.
Barros e Silva escreveu um bom texto sobre a USP. OK. Buscou uma autoridade intelectual e moral “progressista” para fazê-lo: o filósofo Adorno. Poderia ser o guarda da esquina, que está lá, como os da USP, para resguardar direitos. Mas tudo bem. A propósito: Caetano Veloso andou reclamando (acho que foi reclamação) de a imprensa paulista citar Adorno até em caderno de rock. Qual o problema? Não vejo mal em a imprensa apresentar Adorno para os simples. Caetano costuma fazer o inverso: apresenta “Um tapinha não dói” para os complexos… Entre as duas contaminações, prefiro a primeira.
Em tempo: os patrulheiros deixem Barros e Silva em paz. Não foi ele que elogiou meu texto. Eu é que estou elogiando o dele. Ele não tem culpa. E sugiro aos comentaristas que se atenham a este texto. Quando houver motivos para discordância, discordância então. Ao artigo.
“Não se deve caluniar abstratamente a polícia”. É conhecida a resposta do filósofo Theodor Adorno à reprovação que lhe fazia, dos EUA, Herbert Marcuse pelo fato de ter recorrido à força policial para barrar estudantes que tinham invadido o Instituto de Pesquisa Social, em Frankfurt, no início de 1969. A polícia, escreve Adorno numa das célebres cartas ao amigo, “tratou os estudantes de maneira incomparavelmente mais tolerante do que estes a mim”.
A USP não é a Escola de Frankfurt, 2009 não é 1969 e Suely Vilela não é… bem, a reitora já disse ser adepta dos livros de autoajuda. Alguém dirá, além disso, que há razões nada abstratas para criticar a ação da polícia no campus, o despreparo para lidar com situações deste tipo entre elas.
Sim, ninguém pode de boa-fé desejar a universidade ocupada. Sim, a reitora é uma figura lamentável, e sua gestão, ruinosa. Mas quando os “progressistas” da USP vão ter coragem intelectual para criticar também o comportamento autoritário de uma minoria de funcionários grevistas que intimidam colegas e querem impor ao conjunto da universidade o que há de pior e mais privado no espírito corporativo?
Quando dirão que luta social e vandalização de patrimônio público não são nem devem ser sinônimos? Quando chamarão pelo nome o “fascismo de esquerda” de grupelhos pautados por estupidez teórica e desprezo sistemático pelos direitos dos outros?
Coube ao professor Dalmo Dallari, um veterano das causas democráticas, a intervenção mais lúcida, honesta e destemida a respeito do imbróglio uspiano. Em entrevista à Folha, na sexta, ele diz coisas como: a polícia que cumpre uma ordem judicial para proteger o bem público não é a polícia da ditadura; a pauta dos grevistas é desconexa e seus métodos são intoleráveis; a reitora é fraca, mas sua destituição agora desmoralizaria a instituição.
Eis, para os que não querem ficar presos a clichês mal digeridos da cultura meia-oito, um bom ponto de partida para o debate.