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Somos agora todos súditos dos radicais islâmicos?

Um pastor mequetrefe de Gainesville, na Flórida, chamado Terry Jones, líder de uma igreja que reúne meia-dúzia de gatos pingados, promete queimar o Alcorão no aniversário do 11 de Setembro, e o mundo entra numa espécie de transe.  Até o Arnaldo Jabor se manifestou — contra George W. Bush, é claro! Ele só consegue falar […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 14h18 - Publicado em 9 set 2010, 07h51

Um pastor mequetrefe de Gainesville, na Flórida, chamado Terry Jones, líder de uma igreja que reúne meia-dúzia de gatos pingados, promete queimar o Alcorão no aniversário do 11 de Setembro, e o mundo entra numa espécie de transe.  Até o Arnaldo Jabor se manifestou — contra George W. Bush, é claro! Ele só consegue falar mal do Osama Bin Laden se bater no Bush também…

Nos Estados Unidos, podem-se queimar a bandeira, a Bíblia, a Torá, o Alcorão, o diabo a quatro. Se isso é coisa de gente decente ou não, aí é outra conversa. Um porta-voz do governo do Irã, vejam que mimo!, alertou para o risco de tal atitude. Ahmadinejad pede que ninguém de fora se meta com as suas leis quando quer apedrejar mulheres ou enforcar oposicionistas, mas certamente não se conforma que em outros países se possa queimar um livro.

Os EUA têm mais de 300 milhões de habitantes. Um delinqüente anuncia um troço como esse, e o governo Obama é o primeiro a entrar em pânico, mobilizando os porta-vozes da Casa Branca e do Departamento de Estado para deixar bem claro ao mundo que ele reprova a atitude, num sinal escandaloso de tolice e, se querem saber, fraqueza. Mais: quase implora ao pastorzinho vagabundo que não cometa tal gesto, o que, convenham, conferiu ao homem uma importância espantosa. Imaginem como ele não está se sentindo…

Quantas bandeiras americanas são queimadas por muçulmanos mundo afora? Islâmicos radicais perseguem cristãos em vários países — não se contentam em queimar as suas Bíblias; matam-nos. Embora, em muitos casos, a conivência de governos seja evidente, trata-se do assunto como manifestações isoladas. Mais: procura-se dissociar do bom Islã o extremismo. Afinal, a religião também tem uma face pacifista…

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Então os EUA são obrigados quase a se desculpar preventivamente com o “mundo islâmico” — como se ele fosse um só, o que é mentira — porque um cretino anuncia que vai queimar um exemplar do Alcorão? Por quê? “Ah, porque os radicais podem reagir. Bem, então, definitivamente, os EUA e, de certo modo, o mundo se tornaram todos reféns não exatamente do islamismo, mas de sua vertente terrorista, que espalha o pânico. Preventivamente, bandeiras americanas já foram queimadas em sinal de protesto…

Estaria eu aqui a defender a besteira de Jones? Está claro que não! Torço para que não faça isso simplesmente porque se trata de uma boçalidade. E atenção: uma cultura que cai na cilada daqueles que a odeiam — que sustentam que o gesto de um só remete a uma espécie de culpa coletiva — está com um sério problema e já cedeu ao “outro” o principal: autonomia sobre si mesma! O Ocidente deveria se preocupar menos com o que Osama Bin Laden pensa de nós. Eu me preocupo é com que pensamos dele.

E só para não perder a viagem
Não dá para dissociar esse caso da possível criação de um centro islâmico a metros do Ground Zero. Muito bem! Foi o mau Islã que derrubou as Torres Gêmeas, não o bom, que quer o tal centro. Certo! Em nome da liberdade religiosa e da tolerância, uma comissão de Nova York aceitou a proposta. A cidade é grande. Criar o espaço naquele endereço tem o cheiro inequívoco da provocação, como a testar até “onde esses americanos se levam a sério”. A recusa geraria uma onda de protestos mundo afora. Templos ou centros culturais cristãos certamente enfrentam mais dificuldades em países islâmicos — a maioria deles os proíbe simplesmente.

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Mas o Ocidente é assim mesmo, certo? Tolera em nome de seus valores o que muitos de seus adversários ou antípodas não toleram em nome dos deles. E até tem uma boa justificativa para isso: “Não podemos mudar o que pensamos — os nossos valores, comprometidos com a liberdade e a tolerância — porque eles não mudam os deles; isso prova a nossa superioridade moral”. Ok, defensável — embora seja preciso tomar cuidado para não confundir tolerância com permissão para a sabotagem.

Então notem que curioso: os EUA devem aceitar a criação do tal centro ao lado daquele que é o maior trauma de sua história em solo pátrio porque os seus valores dizem que não existe a culpa coletiva, que não foi o Islã que derrubou as Torres Gêmeas, mas alguns de seus seguidores perversos. A recusa ofenderia o mundo islâmico. Mas esse país teria de abrir mão desses mesmos valores para conter um pastor idiota — que, vejam que espanto! — tem o direito de queimar qualquer livro de sua biblioteca. Ou o fato ofenderia o mundo islâmico… Tem-se, pois, o seguinte corolário: o mundo islâmico conta com os nossos princípios para não se sentir ofendido. E também espera que abramos mãos deles caso … se sinta ofendido!

Fomos seqüestrados pelo Maomé de Osama Bin Laden!

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