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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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“Pessoas, a gente pega, tange, ferra, engorda e mata. Mas com gado é diferente”. Ou: A exemplo dos intelectuais, os vaqueiros já não são mais livres-pensadores

Vejam esta foto. Já falo a respeito. Num país em que a esmagadora maioria dos intelectuais é composta de funcionários morais de um partido, a esperança de haver livres-pensadores estava com os vaqueiros. Acabou! Doravante só teremos “companheiros vaqueiros”. O Senado aprovou nesta terça projeto oriundo da Câmara, apresentado em 2007, que regulamenta a profissão. […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 05h19 - Publicado em 25 set 2013, 20h29

Vejam esta foto. Já falo a respeito.

Num país em que a esmagadora maioria dos intelectuais é composta de funcionários morais de um partido, a esperança de haver livres-pensadores estava com os vaqueiros. Acabou! Doravante só teremos “companheiros vaqueiros”. O Senado aprovou nesta terça projeto oriundo da Câmara, apresentado em 2007, que regulamenta a profissão. Então tá! Agora o vaqueiro já não se confunde mais com outros funcionários de fazendas e empresas rurais. Imagino o patrão:

— “Pedro Henrique da Matta [esse negócio de chamar vaqueiro de “Severino” é um misto de clichê com preconceito], será que você e o Luiz Gustavo Fernandes [o outro vaqueiro] poderiam podar aqueles pés de rosa em frente à sede da fazenda?
— Infelizmente, não, doutor Cícero. Considera-se vaqueiro o profissional apto a realizar práticas relacionadas ao trato, manejo e condução de espécies animais do tipo bovino, bubalino, equino, muar, caprino e ovino. Por um acaso, doutor Cícero, rosa é um bovino?
— Não, Pedro Henrique.
— Rosa é bubalino?
— Não, Pedro Henrique.
— Rosa, doutor Cícero, para não encompridar o diálogo, é equino, muar, caprino ou ovino?
— Não, Pedro Henrique!
— E por que o senhor acha que eu me submeteria a trabalho degradante, podando rosas?
— É que eu pensei que conduzir o rebanho…
— Pensou errado! O senhor sabe o que dispõe o Ministério do Trabalho e a OIT sobre contratar um trabalhador para uma atividade regulamentada e, depois, querer que desempenhe tarefa diversa?
— É que, no momento, como não estamos conduzindo animais animais…
— Então eu vou realizar tratos culturais em forrageiras, pastos e outras plantações para ração animal, falou?
— Desculpe-me, Pedro Henrique.
— A profissão de jardineiro ainda não está regulamentada. Por que o senhor não vê se aquele médico amigo seu pode quebrar o galho?
— Boa ideia, Pedro Henrique!
— Qualquer um hoje é médico no Brasil, o senhor sabe…
— É verdade…

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Retomo
O Brasil deve ser o único país do mundo a permitir que médicos comecem atuar sem comprovar a devida expertise técnica — sob perseguição da Advocacia-Geral da União (já falo a respeito) —, mas que estabelece regras bastante claras e rígidas para definir, afinal de contas, o que é um vaqueiro, a sua essência mesma. Trata-se, parece-me, de uma questão quase ontológica. É isto: o vaqueiro é a ontologia de gibão e chapéu de couro.

“Ah, você é contra, né, Reinaldo reacionário?” Contra o quê? Sou defensor ardoroso do registro em carteira do trabalhador rural, claro! Mas as regulamentações disso e daquilo, em nosso país, vão bem além do ridículo.

Há mais: no texto aprovado na Câmara e no Senado, acreditem, há uma exigência que não existe para nenhuma outra categoria profissional: o contratador é obrigado a pagar o seguro de vida do vaqueiro e a arcar com todos os custos de uma eventual internação em caso de acidente.

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Os senadores tucanos Aloysio Nunes Ferreira (SP) e Cyro Miranda (GO) votaram a favor, mas se opuseram à obrigatoriedade do seguro de vida no contrato porque o trabalhador, rural ou urbano, já está protegido contra acidentes e doenças ocupacionais desde que devidamente registrado. De resto, o empregador que não cumpre as normas estabelecidas pelo Ministério do Trabalho já está sujeito a sanções. A restrição foi inútil. Ouviu-se um senador do PMDB proclamar: “O Senado pode aprovar tranquilamente essa besteira confiando no veto da Dilma”.

Entenderam?

Ah, sim. Lá no alto, temos o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com um chapéu de vaqueiro, empunhando uma garrafa de cachaça, patrimônio cultural da humanidade.

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Em tempos em que se pode ser médico por Medida Provisória, convém inverter aquela máxima do populismo musical dos anos 1960: “Porque pessoas a gente pega, tange, ferra, engorda e mata. Mas com gado é diferente”.

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