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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Padilha não se envergonha de prometer três vezes a mesma coisa. Por quê? Ele quer é ser notícia!

O jornalismo brasileiro precisa passar por um verdadeiro processo de, se me permitem a expressão, “desassessorização de imprensa”. Os ganhos do jornalismo online são gigantescos. Mas, como tudo, há aspectos negativos. E um deles é pôr para circular a informação o mais rapidamente possível. Nos antigamentes, os textos jornalísticos traziam, no segundo parágrafo, o que […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 07h33 - Publicado em 25 out 2012, 18h09

O jornalismo brasileiro precisa passar por um verdadeiro processo de, se me permitem a expressão, “desassessorização de imprensa”. Os ganhos do jornalismo online são gigantescos. Mas, como tudo, há aspectos negativos. E um deles é pôr para circular a informação o mais rapidamente possível. Nos antigamentes, os textos jornalísticos traziam, no segundo parágrafo, o que se chamava “sublead”. A ele ficava reservado o detalhamento das circunstâncias em que se deu o fato principal noticiado.

Vamos ver. Está em todos os sites noticiosos que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é favorável à Internação forçada de viciados em crack. Muito bem! Também se anuncia que o governo federal dará recursos à cidade do Rio, no âmbito do programa federal de combate ao crack. Tudo certo! Diz o ministro:
“O Ministério está garantindo o apoio à prefeitura do Rio para ampliar todos os serviços necessários para cuidar de forma adequada dos dependentes químicos e de seus familiares. A pedido do prefeito Eduardo Paes, vamos instalar mais consultórios de rua, unidades de acolhimento para internação, leitos psiquiátricos e convênios com comunidades terapêuticas. O prefeito ainda vai nos apresentar um detalhamento dessa nova demanda, mas já garantimos recursos para ampliarmos essa rede de cuidados e internação no Rio”.

Parabéns, doutor Padilha!

Agora vamos àquela antiga prática do sublead. No dia 22, escrevi aqui um post sobre a vergonhosa diferença de tratamento dispensada pela imprensa ao combate às cracolândias de São Paulo e Rio. O primeiro foi atacado de todas as formas possíveis; o segundo, elogiado. Havia duas diferenças entre um e outro: o poder público retomou a região na capital paulista quando já havia pronto um centro de tratamento de dependentes (o Complexo Prates; que não existe no Rio) e com aparato militar muito menor. Não obstante, em São Paulo juntaram-se para enxovalhar governo e prefeitura a imprensa, o Ministério Público, a Defensoria Pública, o PT, aquele padre que vive de joelhos para os “oprimidos”, a Maria Rita Kehl, a Maria do Rosário, o Alexandre Padilha, o Gilberto Carvalho  e quem mais quisesse dar uma opinião, desde que contra a ação. No Rio, não! Todo mundo foi a favor. Isso, por si, já é motivo de vergonha. Os que atacam a medida numa cidade e a defendem em outra não se sentem nem mesmo compelidos a expor os seus motivos. 

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Traí vocês. Ainda não escrevi o sublead de antigamente. Ele vem agora: Padilha fez essas mesmas promessas em abril, há longos seis meses. De lá para cá, ainda não se moveu uma palha. Eu provo que falo a verdade com uma reportagem da Agência Brasil do dia 13 daquele mês (segue em vermelho):

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, defenderam hoje (13) a internação compulsória de adultos viciados em crack, durante o lançamento do programa “Crack, é possível vencer” para o Rio de Janeiro – uma parceira entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, criada em dezembro passado, com previsão de R$ 4 bilhões em recursos federais até 2014.
Segundo Padilha, o consumo de crack é uma epidemia no país e a internação involuntária de adultos deve ser uma decisão do médico que fizer o atendimento do dependente.

“A lei estabelece que, quando um profissional de saúde avalia que uma pessoa corre risco de vida ou coloca em risco a vida de outro, está previsto o mecanismo da internação involuntária. A pessoa deve ser levada para uma unidade de acolhimento ou um hospital para que se faça o tratamento”, afirmou o ministro.
Padilha disse que a internação é uma medida emergencial e que a reconstrução do projeto de vida dos dependentes do crack e sua reinserção em relação à família e à sociedade são fundamentais para a cura do vício.
“Essas internações devem ser feitas com todos os critérios e protocolos aprovados por especialistas, mas não podemos deixar essas pessoas à mercê da droga. São pessoas que perderam completamente o bom senso” afirmou o prefeito Eduardo Paes.
Há cerca de um ano, a prefeitura realiza internações compulsórias de crianças e adolescentes moradores de rua para tratamentos de cerca de seis meses. Atualmente, 117 crianças estão internadas em quatro abrigos da prefeitura.
Segundo a Secretaria de Assistência Social do estado, das cerca de 50 crianças que passaram pelo abrigamento compulsório até o momento, aproximadamente dez conseguiram reconstruir laços com a família ou foram acolhidas por “famílias substitutas”, que são remuneradas pela prefeitura.
Até o fim do ano, cerca de R$ 36 milhões serão repassados para os governos estadual e municipal para o combate ao crack. Estão previstas a criação de seis novos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) de atendimento 24 horas, a criação de 27 consultórios de rua, a instalação de 427 leitos em enfermarias especializadas e a qualificação de 71 leitos em hospitais gerais.
“Precisamos de médicos treinados para cuidar do dependente químico e pessoal da área policial capacitado. Por isso, um dos seguimentos do plano é dar capacitação aos agentes que vão atuar. É necessário multiplicar esse conhecimento e em cada estado estamos desenvolvendo unidades onde cursos serão dados”, afirmou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, também presente no evento.

Voltei
Mais ainda: a notícia que está hoje nos grandes portais já foi dada na segunda-feira, como se pode ver abaixo (em vermelho). Reproduzo texto do G1. Volto depois.

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O prefeito do Rio, Eduardo Paes, anunciou nesta segunda-feira (22), que pretende criar, em caráter emergencial, cerca de 600 vagas para a internação compulsória de adultos dependentes de crack. Paes, no entanto, não estabeleceu prazos para o início da internação, já que precisa ser feito um estudo para ver onde serão instalados os centros de acolhimento e reabilitação.
O anúncio foi feito durante visita à comunidade do Jacarezinho, onde funcionava uma das maiores cracolândias da cidade.
Segundo a assessoria da Prefeitura do Rio, uma reunião de Paes e representantes do Ministério da Saúde e secretarias do setor está agendada para o dia 5 de novembro. Na ocasião, além da escolha dos locais para abrigar os centros de acolhimento, serão discutidos também os modelos das instalações e de tratamento.
Atualmente, somente os menores de idade – crianças e adolescentes – usuários de crack flagrados em situação de risco são internados compulsoriamente em unidades da Secretaria de Assistência Social.

Encerro
Entenderam? O buliçoso Padilha, já pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, tem conseguido, com a complacência do jornalismo, o milagre da multiplicação da notícia. As promessas que fez hoje estavam nos jornais do dia 13 de abril. Seis meses depois, foram repetidas  e viraram notícia (no dia 22 deste mês). Hoje, dia 25, a mesma coisa.

Às creches de papel e saliva, às casas de papel e saliva, às UPAs de papel e saliva, às quadras nas escolas de papel e saliva, aos postos policiais de papel e saliva, somam-se agora os centros de tratamento de viciados de… papel e saliva.

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Com a conivência da imprensa. A gestão petista entrará para a história como a melhor que um dia disseram que o Brasil teve.

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