Os torturados e mortos sem pedigree
A ONU promete fazer uma mega-inspeção nas cadeias brasileiras para apurar o que é público e notório: o Brasil está, certamente, e há vários governos, entre os países que mais torturam pessoas — e também é um dos campeões mundiais em homicídios: mais de 50 mil por ano. Nossas cadeias, na média, são verdadeiros pardieiros, […]
A ONU promete fazer uma mega-inspeção nas cadeias brasileiras para apurar o que é público e notório: o Brasil está, certamente, e há vários governos, entre os países que mais torturam pessoas — e também é um dos campeões mundiais em homicídios: mais de 50 mil por ano. Nossas cadeias, na média, são verdadeiros pardieiros, que não oferecem àqueles que estão sob a guarda do estado, condições dignas de existência — refiro-me a condições dignas, porém próprias a um preso. Torturam-se pessoas até em delegacias.
O governo petista já andou se estranhando com as Nações Unidas por isso. Em 2007, o país assinou um acordo para a humanização de presídios, treinamento de policiais etc. De lá pra cá, não fez borra nenhuma. Em 2005, a ONU já havia acusado a existência de “tortura sistemática”. Lula ficou zangado. Em 2009, brigou com outra comissão, que pôs em dúvida a redução do número de execuções.
Mas vejam que coisa! Temos uma secretaria especial para cuidar dos direitos humanos. No governo Lula, na gestão Paulo Vannuchi, ocupou-se quase exclusivamente da tese revanchista que pretendia rever a Lei da Anistia. O país já empenhou algo em torno de R$ 5 bilhões com a tal bolsa ditadura; milhões são torrados anualmente para pagar pensões. Não há, felizmente, tortura política por aqui faz tempo. Mas a agressão ilegal a presos comuns nunca deixou de existir. Ninguém dá bola porque, afirmo aqui desde que o blog existe, são presos sem pedigree.
Também não têm pedigree as 50 mil pessoas assassinadas por ano. Quando foi que o governo petista decidiu mobilizar cinco ministérios para tomar uma medida contra esta verdadeira guerra civil? Nunca! A Secretaria Nacional de Segurança mal tem existência concreta. Mas bastaram 5 assassinatos na Região Norte de supostos líderes rurais para que se anunciasse a tal escalada contra movimentos sociais. Em três, não há evidência de implicações de natureza política; em duas, elas são não mais do que uma possibilidade. Mas bastou para Gilberto Carvalho sair gritando, como o amigo do Bambi: “Fogo, fogo na floresta!”
Assim como o país pode torrar bilhões com seus “perseguidos de pedigree” e deixar a tortura contra presos comuns correr solta, também pode mobilizar mundos e fundos contra o assassinato de pessoas tidas como “companheiras”, enquanto 50 mil brasileiros desaparecem por ano sem que isso seja considerado um problema nacional. Mais uma vez, com absoluta certeza, o relatório vai acusar a existência de tortura sistemática no país. E ficará tudo por isso mesmo. Quem se importa?
Já fizemos a nossa parte, né?, mantendo por aqui Cesare Battisti. Imaginem se ele fosse enviado para o terrível sistema prisional italiano, não é mesmo???