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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Os cães babões de Pavlov. Ou: Dilma e Mercadante vão produzir o desastre na educação, mas de “modo republicano”. Ahhh, bom! Que alívio!

No dia 10 deste mês, publiquei um longo artigo aqui destrinchando o estúpido projeto aprovado pelo Congresso, que reserva 50% das vagas das universidades federais para alunos oriundos da escola pública, segundo a cor da pele. Expus todos os seus aspectos deletérios. Os que leram devem se lembrar das linhas gerais do texto. Os que […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 08h04 - Publicado em 23 ago 2012, 07h01

No dia 10 deste mês, publiquei um longo artigo aqui destrinchando o estúpido projeto aprovado pelo Congresso, que reserva 50% das vagas das universidades federais para alunos oriundos da escola pública, segundo a cor da pele. Expus todos os seus aspectos deletérios. Os que leram devem se lembrar das linhas gerais do texto. Os que não o fizeram têm aí o link. Tive o capricho de publicar o endereço que remetia à integra do projeto. Lá está escrito, com todas as letras, no Artigo 2º, que os alunos seriam selecionados segundo o seu “Coeficiente de Rendimento” no ensino médio. Se a proposta é, em si, escandalosa, esse aspecto a torna coisa de celerados.

Isto mesmo: a nota do estudante ao longo do ano em sua escola de origem é que seria usada para fazer a seleção dentro do universo dos cotistas. Embora eu quase tenha aqui me esgoelado, chamando a atenção para o absurdo — ademais, impraticável! —, a esmagadora maioria da imprensa ignorou solenemente o fato de que se estava dispensando os alunos até mesmo de fazer o Enem. É que o nosso jornalismo, com as exceções de sempre, não pode ouvir falar em “justiça social” que começa a babar, como os cães estudados por Pavlov. Chegou-se mesmo a comparar o desempenho de brancos da rede particular de ensino com o de negros das escolas públicas para tentar demonstrar, pelo exemplo, que a lei fazia sentido.

Os educadores esquerdopatas, por óbvio, não disseram um “a”. Afinal, também eles vivem mergulhados na baba. As oposições — com a honrosa exceção do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) — ficaram de bico fechado. Baba!!! Aprova-se uma barbaridade como aquela, o caos bate à porta, e só se vê um frenético abanar de caudas à suposta —  NÃO MAIS DO QUE SUPOSTA — “justiça social”. Elio Gaspari, um dos grandes defensores das cotas na imprensa (e quem não concorda com ele é, segundo escreve, “demofóbico”), escreveu um texto sem pé nem cabeça sobre o assunto e também fez de conta que aquele Artigo 2º não estava lá. Baba!!! Duvido que tenha lido a lei que estava defendendo. Aiatoélio só precisa da iluminação dos profetas do povo. Os fatos que se danem!

Nota à margem: um amigo, jornalista, me manda um e-mail me censurando por causa das críticas a Gaspari, afirmando que eu não deveria citar nomes, mas abordar posturas e tal. Errado, amigão! Quando ele acusa a tal “demofobia”, não sei de quem ele está falando. Quando eu o acuso de demagogia, sei e quero que saibam a quem estou me referindo. De resto, não ofendo, difamo, calunio ou injurio ninguém. No caso, ataco a tese que ele defende — só que cito o nome.
Nota à margem da margem: petralhas a soldo não se assanhem para ser citados aqui. Gaspari não poderia estar mais errado, mas, ao menos, é dono do próprio pensamento. Adiante.

Sob, pois, o silêncio cúmplice de boa parte da imprensa, dos educadores, dos reitores das universidades federais (a maioria com os joelhos escalavrados por causa da genuflexão ao petismo), a estupidez foi adiante. Se Dilma, no extremo da loucura, decidisse sancionar a lei como estava, não só se aprovariam as cotas como se instauraria o caos. Imaginem as universidades tendo de receber e processar os dados de coeficiente de rendimento dos candidatos, oriundos de escolas distintas. Não existem para isso modelo, mão de obra, critério, nada! Digamos que fosse viável — não seria! —, far-se-ia, em caso de empate, o quê? Mais: um candidato de uma escola relapsa e generosa nas notas levaria vantagem na competição com outro, vindo de uma instituição mais rigorosa. Seria a seleção dos mais aptos ao modelo porque mais estúpidos.

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Pois bem… Ontem, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante — aquele que vai dar um jeito de elevar o Ideb na canetada e vai terminar de enterrar o ensino médio, junto com as federais —, anunciou que a presidente Dilma vai vetar o Artigo 2º. E o fez naquele tom que tão bem o caracteriza: “Vai ter o veto do Artigo 2.º, que é o acesso. O acesso se faz pelo Enem. A regra republicana do Brasil é o Enem. Os alunos já optaram pelo Enem”. Dado o desastre geral, menos mau que assim seja. Quanto ao Enem ser “a regra republicana”, aí estamos só no terreno do proselitismo tonto. De resto, os alunos não “optaram” pelo Enem coisa nenhuma! É a que a prova virou o maior vestibular do mundo. Qual seria a alternativa?

Quem decide e quem vigia?
Aqueles 50% de cotas passarão a ser obrigatórios. Metade desses 50% (25% do total) tem de ficar com alunos oriundos de famílias com renda per capita de, no máximo, 1,5 salário mínimo. Em qualquer caso, obedece-se ao percentual de brancos, pardos e negros da unidade da federação em que a universidade está instalada. Muito bem! Agora é uma obrigação e se vai lidar com milhares — milhão? — de vagas e candidatos.

Conte aqui pro Tio Rei, governanta:
– quem vai verificar se o aluno está mesmo falando a verdade e tem origem em família com renda per capita de até 1,5 mínimo?
– a universidade vai exigir declaração de rendimentos da família?
– haverá uma averiguação por amostragem?
– já que o estado — e a universidade é uma instituição do estado — não pode definir a cor da pele das pessoas (a regra é a autodeclaração), o que fazer diante de uma mentira óbvia?
– um aluno de escola pública que faça cursinho, por exemplo (e são muitos!), pertence a uma instituição pública ou privada?
– as universidades vão constituir pró-reitorias só para cuidar do Imposto de Renda da família dos candidatos e de assuntos ditos raciais?

Dilma vai sancionar uma lei que levará, isso é autodemonstrável, a barafunda do ensino médio para a universidade e que, antes de mais nada, estimula os candidatos a mentir.

Texto publicado originalmente às 3h22
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