O REALISMO E O MEGALONANIQUISMO
Hillary Clinton concedeu uma entrevista coletiva depois do encontro com Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores do Brasil — ou das Relações Extravagantes, sei lá. “Temos que demonstrar para o Irã que há conseqüências para violações dos regulamentos da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica)”. A secretária de Estado dos EUA estava defendendo, com essa […]
Hillary Clinton concedeu uma entrevista coletiva depois do encontro com Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores do Brasil — ou das Relações Extravagantes, sei lá. “Temos que demonstrar para o Irã que há conseqüências para violações dos regulamentos da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica)”.
A secretária de Estado dos EUA estava defendendo, com essa frase, a aplicação de sanções àquele país. A constatação é tão estupidamente óbvia que chega a dar preguiça ter de comentar ou de explanar o que Hillary está dizendo ao Brasil. Mas vamos lá. Se o Irã insiste em se comportar como pária, não pode ser tratado como se não se comportasse. Ou por outra: se a sua insistência em desenvolver um programa nuclear secreto se torna a precondição para a negociação, isso, na prática, quer dizer que se está cedendo a uma chantagem. E, pois, torna-se irrelevante seguir ou não seguir as diretrizes da AIEA. E notem que fala uma porta-voz do governo Obama, não do governo Bush!
Eu não disse que era escandalosamente óbvio? E Hillary estava mesmo disposta a DESENHAR a questão para Amorim: “Sanções são a melhor maneira de evitar mais conflitos”. Ela está afirmando que tais medidas se inserem numa gradação de punições. Caso sejam tiradas da lista, resta pular para a fase seguinte. O entendimento cretino de Amorim é este: “Sanções poderão ter efeito contraproducente nas negociações com o Irã. Bem, então o que é “producente”? Já vimos como o governo daquele país entende a “negociação”.
Como um bom megalonanico, Amorim está se lixando para a questão nuclear do Irã. O tema é mais um pretexto para a diplomacia brasileira anunciar a sua “independência”, para ser, como diz um documento do PT redigido pela sua Secretaria de Relações Internacionais, um “concorrente” dos EUA: “Não se trata de o Brasil se recusar a se juntar a um consenso. As questões internacionais não são discutidas dessa maneira, com pressão. Cada país tem que pensar pela própria cabeça, e nós pensamos pela nossa própria cabeça”, afirmou Amorim.
Não me diga! QUEM, DE MODO DELIBERADO E SISTEMÁTICO, DECIDE FAZER O CONTRÁRIO DO QUE FAZEM OS ESTADOS UNIDOS NÃO PENSA PELA PRÓPRIA CABEÇA, MAS PELA CABEÇA DO OUTRO, SÓ QUE PELO AVESSO.
Na ânsia de demonstrar que não se subordina às decisões do governo americano, o governo brasileiro evidencia toda a sua… subordinação!!! Comporta-se como aqueles estudantes malcriados, que decidem chamar a atenção nem tanto pelo talento, mas pelo espírito de confronto.
Isso, queridos, NA MELHOR DAS HIPÓTESES. O apoio incondicional do Brasil ao Irã é tão desastroso para as próprias pretensões do Itamaraty de firmar o Brasil como um ator global que estou convicto de que não sabemos dessa missa macabra nem a metade. Mesmo a determinação de afrontar os Estados Unidos com a tal política do diálogo preferencial Sul-Sul — ou sei lá que nome queiram dar a esta estrovenga que é a política externa — tem o limite do ridículo. E Amorim e Lula já o ultrapassaram.
Pressinto que alguém — ou “alguéns” —, nessa história, foi longe demais.