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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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No país em que a mentira vira história oficial, o Apedeuta se torna estilista da língua portuguesa. Ou: A gramática é o “direito” da língua

É incrível como, nessa história do livro didático e do ensino da língua, os mistificadores se revelam. A educação, sem dúvida, é a área que mais padece com a ideologização das ciências humanas e das teorias da comunicação. Tenta-se fazer da escola uma espécie de plataforma da “grande virada” do oprimido… “Oh, o Reinaldo paranóico […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 11h57 - Publicado em 18 Maio 2011, 15h15
O doutor Honoris Causa de Coimbra também se tornou o Babalorixá da Gramática Achada na Rua

O doutor Honoris Causa de Coimbra também se tornou o Babalorixá da Gramática Achada na Rua

É incrível como, nessa história do livro didático e do ensino da língua, os mistificadores se revelam. A educação, sem dúvida, é a área que mais padece com a ideologização das ciências humanas e das teorias da comunicação. Tenta-se fazer da escola uma espécie de plataforma da “grande virada” do oprimido… “Oh, o Reinaldo paranóico acha que os esquerdistas vão fazer revolução com as crianças!” Não! Eu não acho, não! Eu acho que essa gente está idiotizando as crianças. Não fazem nem educação nem revolução. Investe-se na ignorância e, obviamente, na formação de estudantes amestrados e adestrados aos valores de um partido. Isso está em curso e vitima principalmente os mais pobres. Os alunos com mais recursos, ainda que expostos às mesmas bobagens, dispõem de instrumentos para vencer as barreiras do cretinismo.

Os mais patéticos de quantos me escrevem furiosos com as críticas aos professores Heloísa Ramos e Marcos Bagno são aqueles que falam em nome da “sociolingüística”. Trata-se uma súcia de ignorantes enfatuados que não têm noção do que estão falando. Não me refiro a todos os especialistas dessa área, é evidente; só àqueles que justificam a violência que está sendo cometida contra os alunos.

Se os estudos da sociolingüística, que descrevem fenômenos da linguagem nos vários grupamentos sociais, fossem justificativa para convalidar o erro e a chamada “língua do povo”, como se essa porcaria existisse, as faculdades de direito, em vez de ensinar aos futuros advogados a legislação vigente e a Constituição, dedicar-se-iam apenas a estudar os mecanismos que formam as desigualdades, declarando a desnecessidade das leis e dos códigos.

“Mas não se poder estudar a sociologia das leis, Reinaldo?” Claro que sim! Mas imaginem qual seria o efeito se, em nome do que sabemos sobre a desigualdade, convalidássemos todas as agressões legais, de modo que cada indivíduo  — ou grupo de indivíduos — pudesse fazer a “escolha” entre a norma e a transgressão. A gramática é um código coletivo, como é a Constituição, o Código Civil e o Código Penal. No dia-a-dia, é bem possível que todos nós, em vários momentos, cometamos pequenas transgressões  — e há aqueles que cometem as grandes. Isso não quer dizer que possamos alegar ignorância da lei para fazer o que nos der na telha.

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Um mundo sem leis, baseado apenas em noções abstratas de justiça e na sua prática cotidiana, seria melhor? Não! Voltaríamos à barbárie, ao estado da natureza. Assim como o desenvolvimento social e as necessidades vividas mudam, com o tempo, os códigos legais, também a prática cotidiana da língua acaba, um dia, alterando a norma, estabelecendo uma nova referência. A gramática é a ciência do direito da linguagem. Sem ela…

A analogia é conceitual e episodicamente cabível. Marcos Bagno fez da Universidade de Brasília o seu aparelho de luta. É a mesma instituição que abriga a turma do “Direito Achado na Rua”. Bagno é a “Gramática Achada na Rua”. Não por acaso, as duas correntes, de áreas diversas, pretendem jogar no lixo os códigos vigentes, reconhecidos pela sociedade democrática, em benefício da “verdade verdadeira” do povo. Não por acaso, as duas correntes entendem que a norma é resultado da luta de classes. Ora, se a “luta” existe e se o “oprimido” ainda não está no poder, então é porque gramática e leis reproduziriam a vontade do opressor. É um raciocínio bucéfalo!

Não custa lembrar: o MEC que põe esse lixo nas mãos das crianças —  e que as incentiva a ser, mais do que ignorantes conformadas, ignorantes propositivas — é o mesmo que compra e distribui livros de história em que o Apedeuta aparece como o salvador da pátria, e seu antecessor, como o verdugo.

Faz sentido: no país em que a mentira vira história oficial, o Apedeuta só poderia ser um estilista da língua portuguesa.

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