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Mundo árabe: sou velho demais para acreditar em movimentos espontâneos

Há coisas nas quais, aos 49 anos, estou velho demais pra acreditar — e, para ser franco, não acreditava nem quando jovem, mas por motivos diferentes: eu era de esquerda… Bem, eu não acredito em “movimentos espontâneos das massas”. Não que o povo não tenha, especialmente os pobres, em qualquer país, motivos para protestar. Sempre […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 13h00 - Publicado em 29 jan 2011, 11h05

Há coisas nas quais, aos 49 anos, estou velho demais pra acreditar — e, para ser franco, não acreditava nem quando jovem, mas por motivos diferentes: eu era de esquerda… Bem, eu não acredito em “movimentos espontâneos das massas”. Não que o povo não tenha, especialmente os pobres, em qualquer país, motivos para protestar. Sempre tem. Mas as pessoas não saem por aí se cutucando e se esbarrando: “Vamos tomar um chá e depois derrubar o governo?”. As redes sociais da Internet podem até ajudar, mas atribuir a elas a base material do suposto “espontaneísmo” dos protestos nos países árabes me parece besteira.

Há um raciocínio um tanto curioso: a prova da não-organização estaria no fato de os movimentos ocorrem em vários países e ao mesmo tempo. Bem, cá com os meus botões, digo que isso está mais para a existência de um centro irradiador do que o contrário. Seria muito bom que uma aurora democrática se desse no mundo árabe, mas também estou maduro o suficiente para constatar que a democracia exige certas circunstâncias que não estão dadas em nenhum desses países.

Em todos eles, a existência do radicalismo religioso é uma verdade inquestionável. No Egito, por enquanto, ele não aparece, embora a Irmandade Muçulmana tenha passado a apoiar oficialmente o movimento. Seria muito bom ver, por exemplo, palestinos de Gaza protestando contra a violência do Hamas. Mas não veremos. Ou os da Cisjordânia insatisfeitos com os evidência de corrupção do Fatah, de Mahmoud Abbas. Nada também.

Todo apoio à democracia, sim! Mas ela não cai do céu nem existe como movimento natural. Essa e uma ilusão que nos alimenta e consola, mas é o que é: ilusão. À parte o governo e as Forças Armadas, o grupo organizado do Egito é a Irmandade Muçulmana. Democracia é uma construção consciente, uma opção, uma escolha. Eu diria até que ela está na mão oposta do “espontaneísmo”. Deixados por nós mesmos, espontaneamente, somos feras.

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Vamos ver. O radicalismo islâmico não nasce, ao contrário do que parece, do repúdio dos sectários ao mundo ocidental. Ao contrário até: ele é produto de uma admiração mascarada pelo ódio àquilo que não se compreende direito. Se os povos árabes experimentarem a liberdade, vão gostar dela, como todo homem. Tudo vai depender da força dos radicais no momento em que ditaduras que os mantêm sob controle estão fragilizadas.

No melhor dos mundos, os democratas vencem as ditaduras e isolam os radicais. É uma possibilidade generosa, mas também uma aposta arriscada.

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