Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Blog
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
Continua após publicidade

MONTY PYTHON EM COPENHAGUE

Houve um tempo em que havia humor no cinema para pessoas com mais de 15 anos e que não fossem, assim, de todo avessas aos livros. O Monty Python está entre as melhores coisas que já se produziram para esse público. Já falei sobre o grupo britânico aqui algumas vezes. Ontem, vi as três estrelas […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 16h13 - Publicado em 15 dez 2009, 07h17

Houve um tempo em que havia humor no cinema para pessoas com mais de 15 anos e que não fossem, assim, de todo avessas aos livros. O Monty Python está entre as melhores coisas que já se produziram para esse público. Já falei sobre o grupo britânico aqui algumas vezes. Ontem, vi as três estrelas brasileiras naquela bobajada da Conferência do Clima: a ministra Dilma Rousseff (PT), o governador José Serra (PSDB-SP) e a senadora Marina Silva (PV-AC). E me lembrei de A Vida de Brian, um dos filmes geniais feitos por aquela turma. Já volto ao cinema. Antes, uma passada em Copenhague.

Dilma não está disposta a dar grana nenhuma para constituir um fundo de combate ao aquecimento global. Acha que os culpados pela poluição são os países ricos — o Brasil, como emergente, seria até candidato a ganhar uns trocos. Marina Silva acredita que o país pode dar um exemplo, já que até empresta recursos para o FMI (!?). Serra também está nessa. Eis a fala dos três em entrevistas ontem:

Serra: “O Brasil devia contribuir, porque se o Brasil se dispõe a fazer, e é um país em desenvolvimento, sem dúvida nenhuma vai ampliar a pressão política sobre os países desenvolvidos, que são os que fizeram a grande poluição do mundo. São os principais responsáveis pelo efeito estufa. Vai ser uma pressão a eles, para que compareçam com recursos substanciais”.

Marina: “O Brasil, que até empresta recursos para o FMI, poderia fazer um gesto e colocar nessa cesta em defesa do planeta talvez, quem sabe, US$ 1 bilhão para fazer com que os demais países também se sintam responsáveis, principalmente os desenvolvidos, pelas emissões históricas”.

Continua após a publicidade

Dilma: “É que US$ 1 bilhão não faz nem ‘cosquinhas’. Os valores, como vocês vão ver ali na reunião, estão em torno de US$ 120 bilhões ou US$ 150 bilhões, os menores. Tem valores de US$ 500 bilhões. A gente não pode só fazer gesto, o que a gente tem que fazer são medidas reais, concretas, comprometidas. Por isso, as coisas têm que ser feitas no seu devido processo”.

Com quem eu concordo? Com ninguém, ora bolas! Reparem que os três políticos falam dos países ricos em tom de condenação, como se, até agora, eles tivessem prejudicado a humanidade. Então precisamos voltar ao filme A Vida de Brian. Na cena abaixo, um grupo revolucionário planeja um atentado terrorista contra os romanos. O plano é seqüestrar a mulher de Pôncio Pilatos e dar ao governador dois dias para eliminar a presença dos romanos da região. Ou, dizem, cortarão a cabeça da dita-cuja em pedaços. E deixarão claro que a culpa pela execução é dos invasores. Afinal, dizem eles, os romanos já os sangraram bastante. Vejam o trecho em que o líder dos revolucionários explica por que os romanos são maus e têm de ser expulsos. Transcrevo as falas em seguida:

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=ExWfh6sGyso?wmode=transparent&fs=1&hl=en&modestbranding=1&iv_load_policy=3&showsearch=0&rel=1&theme=dark&w=425&h=344]

Continua após a publicidade

— Já nos sangraram, os bastardos. Já nos tomaram tudo o que tínhamos. E não só de nós. Dos nossos pais e dos pais dos nossos pais.
E dos pais dos pais dos nossos pais.
Sim…
E dos pais dos pais dos pais dos pais…
Certo, Stam. Não precisa insistir. E o que eles nos deram em troca?
O aqueduto.
Como?
O aqueduto.
Oh, sim, sim. Eles nos deram isso, é verdade.
E o saneamento.
Ah, é, saneamento, Reg! Você lembra como a cidade era…
Certo. Eu concedo que o aqueduto e o saneamento são duas coisas que os romanos fizeram.
E as estradas.
Bem, e obviamente as estradas. Nem era preciso falar disso.
Mas fora o saneamento, o aqueduto e as estradas…
A irrigação.
A medicina.
A educação.
A Saúde.
Tudo bem, já chega!
E o vinho.
Ah, é… É verdade. Isso é algo que vai nos fazer falta se os romanos forem embora, Reg…
Casas de banho públicas.
E agora é seguro andar nas ruas à noite.
Ah, sim, os romanos certamente sabem manter a ordem. Vamos reconhecer: são os únicos que poderiam fazer isso num lugar como esse.
Tudo bem, tudo bem, mas fora o saneamento, a medicina, a educação, o vinho, a ordem pública, a irrigação, as estradas, o sistema de água e a saúde pública, o que os romanos fizeram por nós?
Trouxeram a paz!
O quê? Oh… Paz? Sim… Cale-se!

Voltei
Não conheço nada melhor do que este menos de um minuto e meio de humor para desmoralizar todas as teses antiimperialistas que ainda correm o risco de fazer algum sucesso.

Embora as posições dos três políticos não seja a mesma, há nelas esse certo ranço antiimperialista. Podem divergir na abordagem, mas há a consideração que avalio essencialmente errada de que “os romanos” — no caso, os americanos ou os ricos — aqueceram o mundo apenas em seu próprio benefício. Serra e Marina querem tirá-los desse poço moral com o exemplo. Dilma prefere jogar o problema no colo dos gringos.

Continua após a publicidade

De súbito, nota-se, o mundo global se torna não bisonhamente regionalista. Mais um pouco, e alguém indaga: “Afinal, o que é que os americanos nos deram?”

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.