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Maxwell: Brasil precisa de um grande partido conservador

Muito boa a entrevista de Kenneth Maxwell, diretor do programa de estudos brasileiros da Universidade Harvard, concedida a Raul Juste Lores na Folha desta segunda. Insiste numa tecla que este imodesto criado vem tocando há bem uns seis anos — desde o surgimento de Primeira Leitura: o Brasil precisa de um partido conservador digno desse […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h59 - Publicado em 20 nov 2006, 03h54

Muito boa a entrevista de Kenneth Maxwell, diretor do programa de estudos brasileiros da Universidade Harvard, concedida a Raul Juste Lores na Folha desta segunda. Insiste numa tecla que este imodesto criado vem tocando há bem uns seis anos — desde o surgimento de Primeira Leitura: o Brasil precisa de um partido conservador digno desse nome. E não tem. Maxwell também critica o PSDB por não saber defender o seu legado. Foi o que vimos durante a campanha, certo? Geraldo Alckmin, em vez de defender as privatizações e mostrar o bem que elas fizeram ao país, vestiu um boné do Banco do Brasil e uma jaqueta cheia de logo das estatais. Seguem trechos da entrevista.
(…)
FOLHA – As coligações no Brasil dos últimos 12 anos têm partidos de todas as cores e interesses. Como liderar uma massa tão frágil?
MAXWELL –
A maior força de Lula é sua evidente habilidade de se conectar com o povo, por cima das elites. Como ele pode pressionar o Congresso? O velho esquema é fazer negócios e distribuir favores, mas esse caminho já minou a reputação do governo no primeiro mandato. Se ele tem a energia e a vontade, pode ir até o quintal dos políticos recalcitrantes quando necessário. Presidentes americanos reformistas, de Ted e Franklin Roosevelt a [Ronald] Reagan, usaram sua posição como uma tribuna para pressionar os políticos. Lula teria força para fazer o mesmo. Mas ele quer?
FOLHA – Mas Lula não está mais forte agora?
MAXWELL –
Ele precisa consolidar suas conquistas, aprofundar a diminuição das diferenças entre ricos e pobres, esse equilíbrio que começou a mudar e é algo muito positivo, que nunca tinha acontecido na história brasileira. Ainda é marginal, mas está na direção correta. Não só pelo Bolsa Família, mas pela estabilidade dos últimos doze anos. Sua vitória foi tão surpreendente que até agora a classe média e a classe alta estão chocadas pela atitude das massas.
(…)
FOLHA – Há especulações de que o governador eleito de São Paulo, José Serra, tem vontade de criar um partido de centro-esquerda.
MAXWELL –
Há um perigo aí. Brasileiros sempre tentam dar um novo nome a algo quando não conseguem consertar o que já existe. O que o Brasil precisaria mesmo era de um partido conservador moderno, que fosse honesto ao defender o liberalismo e que assumisse suas crenças. Seria uma grande revolução. Já existe um partido de centro-esquerda, que é o PT. O que faltou na última eleição era: quem é a centro-direita? Serra tem estado sempre à esquerda de Lula, mas o PSDB tem mais alianças à direita.
FOLHA – É por isso que ninguém defendeu as privatizações?
MAXWELL –
É que ainda persistem dúvidas ou uma percepção de que houve negócios obscuros durante as privatizações. Não há provas, ninguém sabe, mas muita gente acredita nisso. A ironia é que hoje a maior parte dos brasileiros têm celulares e as linhas fixas foram vendidas para espanhóis, italianos, portugueses em um momento em que a tecnologia celular estava emergindo. Os estrangeiros pagaram muito dinheiro por essas linhas. De forma objetiva, o governo ganhou. Se houvesse um sólido partido conservador, teria dito durante a campanha: “Estamos felizes pela privatização”. O PSDB fugiu do problema.
(…)
FOLHA – O PSDB perdeu o rumo?
MAXWELL –
O PSDB era um partido de líderes, de caciques, sem índios. Eles têm cinco candidatos para 2010. Esse foi o problema deles durante a campanha, eles já estavam disputando 2010 em 2006. E agora o PT é um partido de índios com um só cacique. Sem Lula, não se sabe quem será o sucessor.
(…)
FOLHA – Muita gente reclamou no Brasil que, com maioria democrata no Congresso, ficará ainda mais difícil para as negociações comerciais com os EUA.
MAXWELL –
Mas por que o Brasil se preocupa? Será mais difícil qualquer negociação porque Bush está enfraquecido, não só por causa dos democratas. O Brasil tem uma atitude defensiva inexplicável. Outros países são muito mais ativos. Quem impôs o Nafta [acordo de livre comércio da América do Norte] foi o México, não os EUA. Fizeram muito lobby, muita propaganda. O Chile também jogou pesado na sedução do Congresso. O Brasil nunca joga esse jogo, é tímido.
FOLHA – Qual é sua avaliação da política externa do governo Lula?
MAXWELL –
O Brasil sempre aspirou a ser uma força e agora é. Isso traz problemas e você tem que enfrentá-los. A América Latina tem problemas. Chávez é um problema, Evo Morales é outro, e a Argentina provavelmente será mais um nos próximos 12 meses. Não adianta só dizer “somos grandes amigos e formamos uma só região”. O mesmo em negociar com Europa e EUA, que são complicados. O Brasil nunca decidiu como negociar e o que negociar com os EUA, com Alca ou sem. Se você quer acesso ao mercado americano, que o Brasil quer e precisa, você precisa trabalhar com o sistema americano, ter negociadores duros, fazer lobby.
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