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Mais depressa aprendeu o Ocidente a justificar a barbárie dos que o Oriente a apreciar a democracia

Há outro vídeo chocante, que a VEJA Online botou no ar já ontem à noite, com Muamar Kadafi. Ele está ferido, derrotado, mas se nota que está lúcido. Ainda passa a mão na cabeça e certifica-se do sangue que escorre. Foi executado logo depois.  Se quiserem ver, está aqui. Já escrevi quão constrangedor e degradante […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 10h25 - Publicado em 21 out 2011, 06h01

Há outro vídeo chocante, que a VEJA Online botou no ar já ontem à noite, com Muamar Kadafi. Ele está ferido, derrotado, mas se nota que está lúcido. Ainda passa a mão na cabeça e certifica-se do sangue que escorre. Foi executado logo depois.  Se quiserem ver, está aqui.

[youtube=https://www.youtube.com/watch?v=k1az-fbcEas&w=420&h=315]

Já escrevi quão constrangedor e degradante para a condição humana é o conjunto da obra. Alguns idiotas estão dizendo que eu, que costumo ser tão implacável, fiquei de coração mole e que lastimo esses eventos porque, afinal, sou um crítico de Barack Obama etc. e tal. Eu defendi a guerra do Iraque, por exemplo (não vou reabrir esse capítulo; ver arquivo do blog), e igualmente censurei o triunfalismo homicida quando Saddam Hussein foi executado, em dezembro de 2006, há quase cinco anos, e o presidente dos EUA era George W. Bush.

Meus valores não mudam com o vento nem estão atrelados a um partido, a uma causa, a uma “luta”. O que mais deploro nas esquerdas, já escrevi aqui centenas de vezes, é justamente o relativismo moral. Não seria eu um relativista. Eu não gosto de relativistas. Não confiaria a eles a minha vida, a minha carteira ou aquele último bombom que deixei para comer na madrugada. Se preciso, um relativista rouba o meu dinheiro, entrega-me aos cães e come o meu doce. Ele só precisa se convencer de que o “povo” precisa da minha carteira, da minha vida e do meu bombom. Por isso não sou também amigo deles. Se julgarem necessário, não hesitarão em trair a minha confiança.

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Sim, senhores! Posso compreender, sem jamais justificar, as circunstâncias em que as coisas se deram, os ódios acumulados, os ressentimentos no front da batalha… Mas não compreendo nem justifico a asquerosa reação dos ditos líderes mundiais, especialmente deste patético Barack Obama — hoje o perigo nº 1 a ameaçar o Ocidente —, diante de uma execução extrajudicial. As armas da Otan ajudaram o jihadismo a chegar à cúpula do poder líbio.

Se alguém quer saber qual é o perfil do novo poder na Líbia, basta prestar atenção às palavras de Mahmoud Jibril, chefe do governo de transição. Mesmo depois de as imagens terem corrido o mundo, evidenciando a execução, ele insistiu na versão oficial, segundo a qual Kadafi morreu numa troca de tiros. As imagens diziam uma coisa, e ele, com um ar muito sério e compenetrado, dizia outra.

Há pessoas que preferem afastar de si dilemas éticos e morais transferindo para terceiros a responsabilidade das escolhas que não conseguem fazer: “Eu tenho pena é das vítimas dele, isto sim!”, dizem. Eu também! Sempre o tratei aos pontapés aqui — quem o chamava de “amigo e irmão” era o Apedeuta. Sou contra, sim, a pena de morte, mas não é o destino dele em particular que me mobiliza e constrange. Eu insisto: a Líbia fez uma guerra civil — com a ajuda de EUA, França, Reino Unido e Otan — para pôr um fim ao arbítrio, às execuções extrajudiciais, aos massacres. Quem matou Kadafi, na melhor das hipóteses, foi a Lei de Talião. Um dado adicional: foram os franceses que atacaram o comboio em que ele tentava fugir, reiterando o desrespeito à resolução da ONU.

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Oponho-me à pena capital — é um desses valores, como é a minha rejeição ao aborto, que estão na raiz de muitas outras escolhas que faço. Mas não ignoro que estados democráticos, com vigência plena do estado de direito, a apliquem. A única escolha ética aceitável dos rebeldes, JÁ QUE ATUAVAM EM PARCERIA COM A OTAN, QUE ESTAVA ALI COM MANDADO E MANDATO DAS NAÇÕES UNIDAS, era garantir a Kadafi o que ele jamais garantiu a seus inimigos: um julgamento justo. Teria sido certamente condenado, talvez à morte. É diferente de matar um adversário como se mata um porco.

Não são os muitos crimes cometidos pelo algoz de antes e eventual vítima de agora que vão determinar se faço esta ou aquela opção. EU NÃO PERMITO QUE BANDIDOS COMO KADAFI DECIDAM O QUE PENSO OU NÃO.

Encerro notando que certa herança marxista, presente mesmo em algumas cabeças no geral lúcidas, pretende que a história esteja sempre numa espécie de marcha para a frente, rumo ao progresso. Assim, a dita Primavera Árabe, de que aquele evento de ontem deve ser, então, o espinho, representaria a chegada dos árabes à Ágora inevitável da democracia. Lamento, meus caros! A democracia ainda não chegou aos árabes, mas, com certeza cristalina, a barbárie foi celebrada ontem pelas democracias. Com a execução extrajudicial de Kadafi, quem venceu foi o método Kadafi.

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Mais depressa o Ocidente se tornou justificador do arbítrio do que os vários Orientes aprendizes da democracia. Kadafi está morto, mas vive naqueles que o mataram. Mais cinco anos de mandato, Obama levará o mundo à beira do caos. Se Deus e o eleitorado americano quiserem, seremos poupados deste arrogante diluidor de instituições e valores. Vamos ver.

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