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Luísa Mell, Machado de Assis e Carlos Drummond. Os beagles os uniram num título e num texto

Ai, ai… Dizem que a Luísa Mell, cuja existência a invasão do Instituto Royal revelou, andou me atacando por aí. Compreendo. Eu a critiquei aqui pelo apoio dado ao ato criminoso, e é natural que ela reaja. Só espero que não saia por aí destruindo mais pesquisas científicas. Ela deve achar que sou um homem […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 05h08 - Publicado em 22 out 2013, 16h58

Ai, ai… Dizem que a Luísa Mell, cuja existência a invasão do Instituto Royal revelou, andou me atacando por aí. Compreendo. Eu a critiquei aqui pelo apoio dado ao ato criminoso, e é natural que ela reaja. Só espero que não saia por aí destruindo mais pesquisas científicas. Ela deve achar que sou um homem mau, que considera natural que se torturem bichinhos. Duas googleadas, descobri que ela faz de seu, vá lá, amor uma profissão. Alô, TVs, hora de contratar. Se eu puder ser útil ao menos à sua causa pessoal, está bem pra mim.

Gosto de bichos. Já comentei aqui. Quando moleque, morando em casa, levava pra casa tudo quanto era gato abandonado, para desespero de minha mãe. Cheguei a ter 13 — além de pomba, coelho, periquito, porquinho da índia e até um macaco — sim, um macaco! — que apareceu certa feita num bambual que havia no fundo de casa. Adotei-o por uns 15 dias, até que apareceu o Corpo de Bombeiros e o levou embora. Hoje, aqui em casa, há duas cadelas, uma tartaruga e, desde a semana passada, dois hamsters, novidade de uma das filhas, que já chegou com eles. Como resistir?  Sentam sobre as patinhas traseiras e levam o alimento à boca com as dianteiras. Se a gente se aproxima da gaiola, soltam pequenos guinchos, comunicam-se de algum jeito.

Os mais novos habitantes desta casa: Tranqueira e Mixuruca

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Gostamos de humanizar os bichos, havendo, claro!, o elenco daqueles que são repelentes (ninguém quis levar os ratos que estavam no Instituto Royal). Tratá-los com doçura, simpatia e afeto pode dizer um tantinho de todos nós. Leiam, se ainda não conhecem, o conto “A Causa Secreta”, de Machado de Assis. Ali se tem o retrato de um homem que torturava ratos e, a seu modo, pessoas. Um trecho.

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(…)
“E com um sorriso único, reflexo de alma satisfeita, alguma coisa que traduzia a delícia íntima das sensações supremas, Fortunato cortou a terceira pata ao rato, e fez pela terceira vez o mesmo movimento até a chama. O miserável estorcia-se, guinchando, ensanguentado, chamuscado, e não acabava de morrer. Garcia desviou os olhos, depois voltou-os novamente, e estendeu a mão para impedir que o suplício continuasse, mas não chegou a fazê-lo, porque o diabo do homem impunha medo, com toda aquela serenidade radiosa da fisionomia. Faltava cortar a última pata; Fortunato cortou-a muito devagar, acompanhando a tesoura com os olhos; a pata caiu, e ele ficou olhando para o rato meio cadáver. Ao descê-lo pela quarta vez, até a chama, deu ainda mais rapidez ao gesto, para salvar, se pudesse, alguns farrapos de vida”
(…)

Quer dizer? Não quer dizer!
Isso não quer dizer, ao contrário do que supõe a psicologia de sala de espera, que todo amigo dos bichos seja também amigo dos homens? Carlos Drummond de Andrade sintetizou a questão magistralmente no poemeto “Anedota Búlgara”:
Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.

Entenderam o ponto?
Quem invade um laboratório de pesquisa, que, segundo consta, funciona segundo as normas e a ética que regem a atividade, pode até amar e defender os animais. Essa motivação, em si, não está sob suspeita. Mas está dando, ao mesmo tempo, um testemunho supremo de desprezo pelos homens.

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É compreensível e, quero crer, evidência de um avanço civilizatório que se tenha especial apreço pelos bichos que aprendemos a domesticar — eu não sou um “especista”; eu não acho que, no fim das contas, tudo é bicho, da bactéria ao ser humano (ainda escreverei a respeito). Mas também o amor se dosa, não é?, sem o quê, convenham, ele se transforma numa tirania — isso vale até para as relações pessoais.

Se os que se opõem radicalmente ao uso de animais em laboratório alegam que já existem formas alternativas de testar remédios e vacinas — infelizmente, dada a segurança necessária para uso humano, isso é mentira —; se querem mudar a legislação pertinente, que se organizem, então, para isso. O que não pode, o que não é aceitável, é sair por aí a cometer uma penca de crimes.

Quantas pessoas padecerão terrivelmente por conta daquela ação absurda? Quanta gente deixará de ter acesso a um remédio mais barato por conta daquele, vá lá, excesso de amor?

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De resto, insisto que aqueles que se opõem à pesquisa com animais com tal energia não podem ser usuárias dos benefícios que essa prática proporciona. E isso quer dizer que essas pessoas têm de rejeitar os medicamentos alopáticos. Têm é de tentar negociar com os companheiros estafilococos.

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