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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Hoje é o dia! Sociedade civil e políticos juntos para pôr fim a um governo que já acabou

Nós precisamos de deputados e senadores para votar a favor do Brasil. Nós precisamos de deputados e senadores para pôr um ponto final legal num governo que acabou de fato. Nós precisamos de deputados e senadores para abreviar uma gestão que pode conduzir o país ao caos

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 30 jul 2020, 23h18 - Publicado em 13 mar 2016, 08h11

Políticos comparecerão neste domingo aos protestos em favor do impeachment de Dilma Rousseff. Já não era sem tempo. Seu lugar é mesmo a rua, a exemplo de outras mobilizações cívicas havidas no país.

Muitos deles estarão, com certeza, no carro de som do MBL (Movimento Brasil Livre). Até a noite de sexta — e não sei se houve depois outra deliberação —, o Vem Pra Rua ainda não sabia se também abriria seus microfones. Espero que sim.

Faz sentido que as coisas se deem desse modo? Bem, podemos apelar ao princípio ou à história. Começo por esta.

Políticos estiveram na linha de frente de duas grandes mobilizações cívicas havidas no país, ainda que estas contassem com apoio da sociedade civil: o Movimento das Diretas Já, em 1983-1984, e a campanha em favor do impeachment de Fernando Collor, em 1992.

O primeiro foi politicamente bem-sucedido, sim, mas não conquistou o número de votos necessário na Câmara; o segundo saiu vitorioso. Não ocorreu a ninguém “dispensar a ajuda dos políticos porque não os consideramos muito sérios”. Isso e uma tolice!

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Uma das coisas boas de envelhecer é ter memória — para quem a conserva ao menos. O deputado que deu o voto que fez o placar chegar ao mínimo necessário para acatar a denúncia contra Collor na Câmara se chamava Onaireves (“Severiano ao contrário”) Moura.

Ele era da tropa de choque de Collor e chegou a organizar um jantar em defesa do então presidente. Na hora h, votou contra o seu chefe. O seu próprio mandato foi cassado mais tarde, acusado de comprar adesões para o seu partido então, o PSD (era outro, não o de hoje). Quem for procurar a sua biografia na Internet não vai confundi-lo, certamente, com uma vestal.

Em 1984, Franco Montoro, então governador de São Paulo pelo PMDB, liberou as catracas do metrô para os comícios da Sé e da Anhangabaú, muito menores, é bom destacar, do que as três principais manifestações em favor do impeachment havidas no ano passado. Os palanques das diretas estavam coalhados de… políticos!

Diferenças
Sim, há diferenças fundamentais entre aquelas mobilizações e estas de agora. E tais diferenças contam a favor dos protestos de hoje. Estes, de fato, não são liderados por partidos e políticos, a exemplo dos havidos em favor das Diretas e contra Collor.

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Quem definiu a data e agenda dos protestos no ano passado e agora foram grupos organizados da sociedade civil, como o Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua. Partidos de oposição e políticos dissidentes da base se juntaram a essa turma, que continua na vanguarda na mobilização.

Ora, é claro que acho essa autonomia em relação aos partidos positiva. E é evidente que isso expressa um novo momento da sociedade brasileira e, em certa medida, de todo o mundo democrático (e até nem tão democrático assim): a mobilização se dá fora dos partidos e do establishment.

A esquerda, aliás, finge já ter chegado aí, com MST, MTST, Coletivo Disso e Daquilo… Ocorre que os esquerdistas são hipócritas: João Pedro Stedile e Guilherme Boulos não passam de esbirros do PT. Outros grupamentos estão ligados a legendas de extrema esquerda.

O MBL e o Vem Pra Rua não têm mesmo vínculo partidário nenhum, o que não quer dizer que não possam — E DEVAM!!! — trabalhar com partidos de oposição e com dissidentes. Por mais que os movimentos oxigenem, e assim é, a vida partidária, as legendas seguirão sendo o formato institucional da representação política.

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Ainda que as sociedades contemporâneas tenham de aprender a conviver com mobilizações permanentes, sempre chegará a hora de implementar uma política que represente a média possível dos anseios. E isso se dá por intermédio dos partidos. A alternativa é vivermos no inferno de milícias organizadas que se impõem pelo berro. Até Marina Silva, que não apoia os atos em favor do impeachment, organiza um partido, não um coral de sapos e pererecas.

Políticos, sim!
Ora, políticos, sim! Qual foi a principal figura da mobilização em favor do impeachment de Collor? Respondo: Luiz Inácio Lula da Silva. Ou não era político o homem que concorreria ainda mais quatro vezes à Presidência? Hoje, o PT se abespinha se Aécio Neves, derrotado por Dilma em 2014, sobe no carro de som. Venham cá: o Lula de 1992 não tinha sido derrotado por Collor em 1989?

Para que o impeachment aconteça, é preciso ter o voto dos políticos: 342 deputados e 54 senadores. Para tanto, é preciso que eles sintam, como sentiram em 1984 e em 1992, a temperatura das ruas.

Só querem as vestais?
Uns cretinos aqui e ali questionam se o político A, B ou C têm biografia impoluta para defender o impeachment de Dilma. Que curioso! Nunca ninguém quis saber o passado daqueles que, a exemplo de Onaireves, mudaram de lado e ajudaram a depor Collor. A vida pregressa dos votantes não mudou a qualidade do fato histórico. Collor caiu, e o Brasil melhorou brutalmente.

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Que cada político, incluindo os que eventualmente subirem neste domingo nos caminhões de som para falar em favor do impeachment, responda por seus atos.

Até parece que aceitar a participação deste ou daquele implica lhes dar um salvo-conduto ou perdoá-los por eventuais malfeitos já descobertos ou por descobrir. Isso é tolice se não for má-fé, a mesma já tentada outras vezes quando tentaram fazer do impeachment obra de Eduardo Cunha (PMDB) porque, afinal, na condição de presidente da Câmara, coube a ele, não a outro, receber a denúncia.

Na democracia representativa, políticos são o veículo da vontade da sociedade. São o canal para que a voz das ruas chegue à Câmara e ao Senado. Se deputados e senadores, independentemente de sua biografia, resolvem responder a esse anseio, têm de ser aplaudidos por esse particular. Se pegos numa falcatrua, têm de ser cassados, ainda que os tenhamos aplaudido antes por terem correspondido a uma vontade quase geral.

A história não é assim tão plana. Em 1992, ao receber a denúncia contra Collor, o então presidente da Casa, Ibsen Pinheiro, afirmou: “Esta Casa quer o que o povo quer”. Dois anos depois, o próprio Ibsen foi cassado — nem vou entrar no mérito da coisa porque não é o propósito deste texto; lembro que ele foi inocentado pelo STF da acusação de sonegação fiscal —, acusado de envolvimento com a máfia dos anões do Orçamento.

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Vocês acreditam que não houve um só esquerdista para dizer: “Pô, o cara que recebeu a denúncia contra Collor foi cassado…”. Mas, agora, vomitam ignomínias porque foi Cunha quem recebeu a denúncia contra Dilma.

Cumpre não cair nessas armadilhas da esquerda. Elas têm como tarefa defender os seus bandidos. Nós não temos bandidos a acalentar. Que cada um, parlamentar ou não, pague pelo que fez.

Nós precisamos de deputados e senadores para votar a favor do Brasil.

Nós precisamos de deputados e senadores para pôr um ponto final legal num governo que acabou de fato.

Nós precisamos de deputados e senadores para abreviar uma gestão que pode conduzir o país ao caos.

É simples assim.

Que falem as ruas!

Texto publicado originalmente às 5h56
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