Dois uísques a menos e Frolic Raivinha
Deixei vocês na mão ontem… Fiquei na prosa até mais tarde com um grupo de amigos. E aí achei que não seria prudente escrever. Sabem como é: a gente toma dois uísques e vai logo tentando conquistar o mundo. Só dois combustíveis movem os meus textos: água e Coca-Cola light – a light, não a […]
Deixei vocês na mão ontem… Fiquei na prosa até mais tarde com um grupo de amigos. E aí achei que não seria prudente escrever. Sabem como é: a gente toma dois uísques e vai logo tentando conquistar o mundo. Só dois combustíveis movem os meus textos: água e Coca-Cola light – a light, não a Zero. Mais do que isso, deixo os textos pra lá. Não é prudente que os leitores fiquem duas doses a menos, hehe… Vocês são muito generosos. Os sete textos das férias já contam com 2.300 comentários (não inclui os de hoje). Esta amizade é mesmo duradoura.
Escrevi anteontem sobre as propagandas indecorosas da Caixa Econômica Federal, com óbvio apelo eleitoral – sim, também empresas privadas estão naquele ritmo de “ninguém segura este país”. Elas façam do seu dinheiro o que acharem melhor e sejam livres para puxar o saco de quem lhes for útil. O que me interessa é a violação das leis e das instituições praticada nas e pelas empresas públicas. Aí, realmente, as coisas se complicam bastante.
É evidente, como já apontei, que existe uma identidade de linguagem – e até o emprego das mesmas expressões – entre as propagandas do governo, do PT, das estatais e de alguns potentados privados. É como se toda a sociedade estivesse unida em torno de um eixo: o estado. Não! Escolho melhor e mais apropriadamente as palavras: é como se governo, estatais, empresas privadas, partido e sindicatos de trabalhadores formassem um “feixe” – sim, um feixe de varas foi o símbolo do fascismo, como vocês sabem; o nome deriva justamente de “fascio” – “feixe”, que simboliza a união.
Nessa “união” não cabe a divergência, que é, então, satanizada e vista ou como sabotagem ou como uma tentativa de regressão, de volta ao passado. Já não se discutem mais proposições ou propostas. Em vez disso, busca-se relativizar – e negar – o direito que o oponente tem de se… opor. Ele estaria querendo impedir o bem comum, que se torna monopólio de uma única força política. Quando o presidente Lula ou a ministra Dilma dizem que não acreditam que o Brasil “possa andar para trás”, colocam-se como a vanguarda de um suposto avanço, que só estará assegurado se eles continuarem no poder. É a política do medo.
É claro que essa prática concorre para a deseducação. O melhor sinal de recuperação dos EUA, por exemplo, está menos na economia do que no desprestígio com que a população americana brindou Barack Obama, depois da formidável confiança que nele foi depositada. Está claro que aquele povo não aceita olhar para trás; também recusa o maniqueísmo. É bem provável que Bush, o demônio de plantão, seja mais popular hoje do que há pouco mais de um ano.
Há nessa reação um estoque de notável educação política, que contribui para aquele país ser o que é e ter a importância que tem. Sucessivos governos, bons ou ruins, competentes ou incompetentes, treinaram o povo no saudável jogo de resolver o presente e antecipar soluções para eventuais problemas futuros. O seqüestro da vontade e da razão, que costuma ser praticado por algumas lideranças políticas, quando acontece por lá, tem vida curta. Entre nós, infelizmente, esse discurso ainda é eficaz. E, obviamente, faz mal à saúde democrática.
Ora, numa compreensão regular da democracia, qualquer resultado das urnas em 2010 deveria ser encarado como uma vitória de Lula. Vocês sabem: é aquele papo aborrecido das democracias. O governante ganha para manter as regras do jogo. O que diferencia o vitorioso da hora é o acento nesta ou aquela áreas da administração. O melhor da democracia é precisamente isto: ser previsível e chata. Quem gosta de emoções fortes são as tiranias, são os regimes de força. Mas não!
Lula não aceita ganhar ou ganhar. Ele só aceita ganhar ou perder. Porque não está preparado, à diferença do que dizem muitos bocós, para os rigores da institucionalidade. Se ele vencer, dará continuidade a seu ridículo esforço para apagar o passado. Se ele perder, não demora uma semana, e sua tropa estará preparada para sabotar o governo do vitorioso. Dá até para antever o mote: “Eu deixei tal projeto, ele não executou; o país está caminhando para trás; olhem como tal coisa não avança”. Não há democracia respeitável que tenha sido construída desse modo. E a propaganda da CEF com isso?
No post abaixo deste, ainda volto ao tema. Vejam lá. A propaganda da CEF evidencia justamente essa compreensão torta do que seja democracia e a certeza de que eles vão apostar no vale-tudo. Gabrielli, o presidente da Petrobras, como vimos naquela entrevista ao Estadão, já está na ativa: resolveu complementar a mistificação publicitária com o terrorismo eleitoral descarado.
Lula poderia ganhar ou ganhar, mas quer ganhar ou perder. O problema é que, se ele ganha, perde o Brasil. Os petralhas ficam bravinhos ao ler isso. Pena! Vão lamber sabão ou encarar um pratinho de Frolic Raivinha.