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Diocese de Bauru está de parabéns! Excomungou um provocador vulgar travestido de padre. Demorou demais! A Igreja precisa ser mais rápida nesses casos

A Diocese de Bauru decidiu excomungar um tipo que atendia pelo nome de “Padre Beto”. Escrevi um post sobre este senhor no sábado. Observei, então, que padre ele não era mais havia muito tempo. O senhor Roberto Francisco Daniel reivindicava o “direito” de ser sacerdote da Igreja Católica, mas cultivando uma fé privada, não aquela da […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 06h21 - Publicado em 30 abr 2013, 07h47

A Diocese de Bauru decidiu excomungar um tipo que atendia pelo nome de “Padre Beto”. Escrevi um post sobre este senhor no sábado. Observei, então, que padre ele não era mais havia muito tempo. O senhor Roberto Francisco Daniel reivindicava o “direito” de ser sacerdote da Igreja Católica, mas cultivando uma fé privada, não aquela da instituição à qual decidiu se subordinar por livre e espontânea vontade.

A Igreja Católica não é um clube de livres-pensadores. Nenhuma religião é. Aliás, até clubes e associações recreativas têm os seus estatutos, não é? Quem decide transgredi-los de maneira contumaz, continuada, está fora. A estupidez militante de setores da imprensa o vê como alguém com coragem para contestar “os dogmas conservadores da Igreja”, o que é uma boçalidade em si. Dogmas são dogmas — nem conservadores nem progressistas. A sua existência compõe a mística de cada crença. No caso do catolicismo, como sabem, crê quem quer — e, às vezes, quem pode. Sim, conheço pessoas que adorariam ter fé, mas que não conseguem. A busca já é uma forma de oração. Quem sabe um dia…

No post que escrevi no sábado, demonstrei a tolice que é chamar uma religião de “conservadora” ou de “progressista”. Ora, o marco de referência, nesses casos, é sempre a moral laica. Mas a religião só é religião porque laicismo não é. Ainda assim, acho razoável que se confrontem valores. Tão logo assumiu o Pontificado, o agora papa emérito Joseph Ratzinger dialogou — na verdade, confrontou-se amigavelmente — com uma das coqueluches do Complexo Pucusp: o seu conterrâneo Jürgen Habermas. Vocês encontram os dois textos na Internet. Quando se anunciou o embate amistoso, muita gente preparou Coca-cola, pipoca e Confeti (POR QUE NÃO HÁ MAIS CONFETI NA REDE CINEMARK???) para ver o então papa ser esmagado. Ratzinger deu um banho no laicismo primitivo e boboca de Habermas. Volto ao ponto.

Sim, é aceitável que se confrontem valores — sempre tendo em mente o que torna Igreja a Igreja!!! Pode parecer tautológico, e é mesmo, mas precisa ser dito nestes dias. A imprensa faz as suas graças. Vamos ver: alguém pode ser, por exemplo, jornalista da Folha achando que seu Manual de Redação é uma bobagem, que as regras adotadas para o jornalismo da casa podem ser ignoradas, que o que importa mesmo é “a liberdade de expressão”, e o editor e o direitos de redação que vão se catar? E no Estadão? E na Globo? E no Globo? E na VEJA? E no seu condomínio, leitor amigo? E no seu grupo de amigos? Sim, há códigos de conduta também entre amigos. Podem não estar escritos, mas são mais poderosos do que as cânones da Igreja Católica, hehe. E no PT? Alguém pode ser petista sem acreditar na infalibilidade de Lula?

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Por que a Santa Madre tem de aguentar um sujeito que acha que a instituição que o faz padre está equivocada e só fala besteira? Beto nasceu para ser estrela, como deixam claro seus vídeos no Youtube. Nasceu para brilhar. Nasceu para o palco, o picadeiro, o palanque, sei lá eu.

Reproduzo, abaixo, a íntegra do comunicado da Diocese de Bauru, que anuncia a sua excomunhão. O único defeito do texto é ter demorado mais do que devia. A Igreja tem de ser mais rápida nessas coisas. É preciso distinguir a eventual rebeldia de uma mente fervilhante, privilegiada, da pura sabotagem, especialmente quando as formulações, como é o caso, são de uma espantosa mediocridade.

E que se desfaça, desde logo, uma mentira. A estrela Beto não está sendo excomungada porque defende os gays, como se mente por aí. Está sendo excomungado porque deixou claro que não respeita a autoridade da Igreja. E ele tem todo o direito de não respeitar — só que fora da Igreja. Não terá dificuldade para se manter. Pode abrir um escritório de consulta sentimental, onde terá tempo de exercitar a sua teoria sobre os casamentos abertos, por exemplo.

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Ah, sim: ele já havia pedido para se afastar da Igreja, impondo uma condição para voltar: que a Igreja mudasse. A Igreja preferiu que Beto se mudasse. Não é mais padre. Agora pode buscar o palco, o picadeiro, o palanque…

Encerro este meu texto, antes da nota da Diocese, com as mesmas palavras com que encerrei o outro, parecendo-me certa, então, a excomunhão: “Vá com Deus, Beto!”.

*

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Comunicado ao povo de Deus da Diocese de Bauru

É de conhecimento público os pronunciamentos e atitudes do Reverendo Pe. Roberto Francisco Daniel que, em nome da “liberdade de expressão” traiu o compromisso de fidelidade à Igreja a qual ele jurou servir no dia de sua ordenação sacerdotal. Estes atos provocaram forte escândalo e feriram a comunhão eclesial. Sua atitude é incompatível com as obrigações do estado sacerdotal que ele deveria amar, pois foi ele quem solicitou da Igreja a Graça da Ordenação. O Bispo Diocesano com a paciência e caridade de pastor, vem tentando há muito tempo diálogo para superar e resolver de modo fraterno e cristão esta situação. Esgotadas todas as iniciativas e tendo em vista o bem do Povo de Deus, o Bispo Diocesano convocou um padre canonista perito em Direito Penal Canônico, nomeando-o como juiz instrutor para tratar essa questão e aplicar a “Lei da Igreja”, visto que o Pe. Roberto Francisco Daniel recusa qualquer diálogo e colaboração. Mesmo assim, o juiz tentou uma última vez um diálogo com o referido padre que reagiu agressivamente, na Cúria Diocesana, na qual ele recusou qualquer diálogo. Esta tentativa ocorreu na presença de 05 (cinco) membros do Conselho dos Presbíteros.

O referido padre feriu a Igreja com suas declarações consideradas graves contra os dogmas da Fé Católica, contra a moral e pela deliberada recusa de obediência ao seu pastor (obediência esta que prometera no dia de sua ordenação sacerdotal), incorrendo, portanto, no gravíssimo delito de heresia e cisma cuja pena prescrita no cânone 1364, parágrafo primeiro do Código de Direito Canônico é a excomunhão anexa a estes delitos. Nesta grave pena o referido sacerdote incorreu de livre vontade como consequência de seus atos.

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A Igreja de Bauru se demonstrou Mãe Paciente quando, por diversas vezes, o chamou fraternalmente ao diálogo para a superação dessa situação por ele criada. Nenhum católico e muito menos um sacerdote pode-se valer do “direito de liberdade de expressão” para atacar a Fé, na qual foi batizado.

Uma das obrigações do Bispo Diocesano é defender a Fé, a Doutrina e a Disciplina da Igreja e, por isso, comunicamos que o padre Roberto Francisco Daniel não pode mais celebrar nenhum ato de culto divino (sacramentos e sacramentais, nem mais receber a Santíssima Eucaristia), pois está excomungado. A partir dessa decisão, o Juiz Instrutor iniciará os procedimentos para a “demissão do estado clerical, que será enviado no final para Roma, de onde deverá vir o Decreto .

Com esta declaração, a Diocese de Bauru entende colocar “um ponto final” nessa dolorosa história.

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Rezemos para que o nosso Padroeiro Divino Espírito Santo, “que nos conduz”, ilumine o Pe. Roberto Francisco Daniel para que tenha a coragem da humildade em reconhecer que não é o dono da verdade e se reconcilie com a Igreja, que é “Mãe e Mestra”.

Bauru, 29 de abril de 2013.

Por especial mandado do Bispo Diocesano, assinam os representantes do Conselho Presbiteral Diocesano.

Texto publicado originalmente às 22h30 desta segunda
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