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Dilma e a corrupção na Petrobras: presidente viverá dias mais difíceis do que sugerem analistas do Datafolha. E quem me diz isso é o… Datafolha!

Em alguma medida, Delúbio Soares acertou. O mensalão, diante do petrolão, acabou mesmo virando, como ele previu, “piada de salão”. É claro que por motivos diferentes dos antevistos pelo ex-tesoureiro do PT. Certo da impunidade e de que estava “tudo dominado”, Delúbio fez a ironia arrogante para indicar que aquela coisa toda não daria em […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 02h30 - Publicado em 8 dez 2014, 06h29

Em alguma medida, Delúbio Soares acertou. O mensalão, diante do petrolão, acabou mesmo virando, como ele previu, “piada de salão”. É claro que por motivos diferentes dos antevistos pelo ex-tesoureiro do PT. Certo da impunidade e de que estava “tudo dominado”, Delúbio fez a ironia arrogante para indicar que aquela coisa toda não daria em nada. Não foi bem assim, embora ele próprio já esteja flanando por aí. Mas houve punição. Pode-se, no entanto, afirmar que aquele crime acabou perdendo importância relativa. Uma única personagem do petrolão, Pedro Barusco, aceitou devolver aos cofres públicos US$ 97 milhões — ou R$ 253 milhões —, bem mais dos que os R$ 141 milhões que puderam ser identificados naquele escândalo. Lembrança importante: Barusco era subordinado do petista Renato Duque; não passava de personagem menor no esquema. Imaginem quanto dinheiro não foi movimentado pela organização criminosa só na estatal. Por que isso tudo? Vou falar aqui da pesquisa Datafolha divulgada neste domingo e discordar de uma afirmação feita pelos comandantes do instituto.

Neste domingo, a Folha traz os números que revelam como os brasileiros enxergam o escândalo da hora. São muito ruins para a presidente Dilma, embora alguns possam achar, por erro ou interesse político, que a coisa não é assim tão grave para a petista. Para 43% dos que responderam à pesquisa, a presidente tem “muita responsabilidade” na roubalheira; afirmam que ela tem “um pouco de responsabilidade” outros 25%. Assim, nada menos de 68% entendem que a governanta, em algum grau, tem de responder pelos desmandos. Só 20% acham que a mandatária não tem nada com isso, e 12% não souberam responder. A Folha ouviu 2.896 pessoas em 173 municípios, no dias 2 e 3 de dezembro, com margem de erro de 2 pontos para mais ou para menos.

A despeito dos esforços do governo e da campanha eleitoral do PT para transformar em vilões os que apontam a ladroagem, o escândalo da Petrobras “pegou”. Dizem ter ouvido falar do assunto 84%: 28% se consideram bem informados; 42%, “mais ou menos bem informados”, e 14%, mal informados; só 16% ignoram o assunto. Sigamos. Apesar disso, o efeito negativo da sem-vergonhice na imagem do governo ainda é limitado — mas pode vir a preocupar (já chego lá). A gestão Dilma segue sendo ótima ou boa para 42%, número idêntico ao do dia 21 de outubro. Cresceram de 20% para 24% os que a tomam como ruim ou péssima, e caíram de 37% para 33% os que a veem como regular.

As coisas podem piorar para a presidente? Há sinais de que sim. No dia 21 de outubro, às vésperas do segundo turno, 44% achavam que a situação do país iria melhorar; agora, só 33%; 15% diziam que iria piorar, número que saltou para 28% em pouco mais de um mês; e permanece praticamente igual o índice dos que opinam que vai ficar na mesma: de 33% para 34%. Pois é… O caso Petrobras está longe do fim, e os dias futuros não são exatamente sorridentes para Dilma. O pessimismo, aponta a pesquisa, cresceu bastante.

Há um texto na Folha assinado por Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, e Alessandro Janoni, diretor de pesquisas, em que se afirma o seguinte, prestem atenção: “No caso de corrupção na Petrobras, apesar de a grande maioria ter ouvido falar do tema e ver a responsabilidade da presidente no episódio, efeitos mais expressivos na imagem da petista são anulados pelo reconhecimento por parte dos entrevistados de que, no seu governo, há investigação e punição dos envolvidos”.

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Pois é… O que leva a dupla a afirmar que uma coisa anula a outra, o que me parece não ter fundamento nenhum? Vamos ver. Indagados em qual governo houve mais corrupção, os que responderam a pesquisa puseram o de Dilma em segundo lugar, com 20% — só perdendo para o de Collor: 29%. Mas 46% afirmam que a gestão da governanta é aquela em mais se investiga, e 40% sustentam que é aquela em que mais se pune. Será que isso anula mesmo a percepção de que Dilma é a responsável pelos desmandos na Petrobras, como querem os comandantes do Datafolha? Acho que não.

E por quê? Porque, obviamente, expressiva maioria ou não tem memória de governos passados — alguns eram bebês, crianças ou nem tinham nascido — ou simplesmente não se lembram de punições porque os casos de corrupção não eram tão presentes. Querem um exemplo? Só 1% afirmou que a gestão Itamar foi aquela em que mais se puniu; esse mesmo 1% entende que foi o governo em que mais se investigou, mas também ficou em 1% os que afirmaram que foi o governo mais corrupto.

Assim, uma coisa não anula outra. A estarem certos os números — e não entendi por que nem a Folha nem o Datafolha deram visibilidade aos dados —, no dia 21 de outubro, era de 29 pontos o saldo favorável ao governo entre os que achavam que a situação econômica do país iria melhorar (44%) e os que achavam que iria piorar: 15%. Agora, os dois grupos estão bem próximos, e o saldo caiu para 5 pontos: apenas 33% dizem que vai melhorar, mas 28%, que vai piorar. Com margem de erro de 2 pontos para mais ou para menos, é quase empate técnico. Tudo o mais constante — as notícias sobre a roubalheira e o mau desempenho da economia —, é só uma questão de tempo para que os dois fatores incidam negativamente na popularidade da presidente.

Dilma viverá, fiquem certos, dias mais difíceis do que sugerem os comandantes do Datafolha.

Texto publicado originalmente às 2h46
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