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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Diálogo em que dono de construtora íntimo de Cachoeira diz que políticos têm preço foi revelado há um ano por VEJA!

Os porta-vozes informais de mensaleiros e quadrilheiros, alimentados pela papa fina da grana oficial ou de estatais, saem por aí afirmando o que lhes ordena aquela variante do crime organizado, ainda que contra as evidências e contra os fatos. Não sei se notaram, mas alguns políticos do PT, que estavam se comportando como verdadeiros Torquemadas […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 09h05 - Publicado em 17 abr 2012, 06h49

Os porta-vozes informais de mensaleiros e quadrilheiros, alimentados pela papa fina da grana oficial ou de estatais, saem por aí afirmando o que lhes ordena aquela variante do crime organizado, ainda que contra as evidências e contra os fatos. Não sei se notaram, mas alguns políticos do PT, que estavam se comportando como verdadeiros Torquemadas da CPI do Cachoeira, que prometiam aniquilar a oposição, que queriam ver tudo em pratos limpos,  passaram a se comportar como normalistas assustadas. Houve uma súbita esfriada no furor investigativo. À medida que vai ficando clara a intimidade da Delta, a maior construtora do PAC, com o grupo do bicheiro, arrefece o ânimo investigativo. Estranho mundo, não?

Ontem, circulou na rede um áudio em que o empresário Fernando Cavendish, presidente do Conselho de Administração da Delta, revelou o que pensa da política e dos políticos brasileiros. Participava de uma reunião com seus sócios:
“Se eu botar 30 milhões de reais na mão de políticos, sou convidado para coisas para ‘c…’. Pode ter certeza disso!”. E disse mais. Com alguns milhões, seria possível até comprar um senador para conseguir um bom contrato com o governo: “Estou sendo muito sincero com vocês: 6 milhões aqui, eu ia ser convidado (para fazer obras).”

Pois é… O que está sendo noticiado como novidade foi publicado pela VEJA na edição que começava a chegar aos leitores no dia 7 de maio do ano passado — há quase um ano, portanto. A reportagem tratava, justamente, do fantástico crescimento da Delta e de sua intimidade com o poder — muito especialmente com um poderoso: JOSÉ DIRCEU.

Dá para entender por que este senhor tem tanto ódio do jornalismo independente, não é mesmo? É curioso que alguns veículos estejam vendendo como novidade o que já é publico faz tempo.

Reproduzo trecho de um post que escrevi no dia 9 de maio de 2011:
(…)
Em entrevista à revista, dois empresários, José Augusto Quintella Freire e Romênio Marcelino Machado, acusam o ex-ministro e chefão petista [José Dirceu]  de fazer tráfico de influência em favor da empreiteira Delta Construções, uma gigante do setor. Segundo os dois, Dirceu foi contratado por Fernando Cavendish, presidente do Conselho de Administração da Delta, para facilitar seus negócios com o governo federal. E como eles sabem?

Eles eram donos da Sigma Engenharia, empresa que seria incorporada pela Delta em 2008; os três se tornariam sócios. O negócio emperrou e foi parar na Justiça. Oficialmente, a Delta contratou Dirceu como consultor para negócios junto ao Mercosul. Receberia modestos R$ 20 mil mensais pelo trabalho. De fato, dizem os denunciantes, a Sigma passou a ser usada por Cavendish para fazer transferências bancárias a Dirceu.

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Um trecho da reportagem informa o desempenho da empresa de Cavendish no governo petista. Seu grande salto se dá a partir de 2009, ano da contratação de Dirceu:
“Durante o governo do ex-presidente Lula, a Delta passou de empresa de porte médio a sexta maior empreiteira do país. É, hoje, a que mais recebe dinheiro da União. Sua ascensão vertiginosa chamou a atenção dos concorrentes. Em 2008, a Delta já ocupava a quarta colocação no ranking das maiores fornecedoras oficiais. Em 2009, houve um salto ainda mais impressionante: a empresa dobrou seu faturamento junto ao governo federal. Em 2011, apesar das expectativas de redução da atividade econômica, o faturamento da Delta deve bater os 3 bilhões de reais – puxado por obras estaduais e do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento.”

Naquela edição, os empresários concederam uma entrevista à revista, de que reproduzo trechos. Volto em seguida:
Romênio –
Tráfico de influência. Com certeza, é tráfico de influência. O trabalho era aproximar o Fernando Cavendish de pessoas influentes do governo do PT. Isso, é óbvio, com o objetivo de viabilizar a realização de negócios entre a empresa e o governo federal.

Que tipo de consultoria o ex-ministro José Dirceu realizou para o grupo Delta?

E os resultados foram satisfatórios?
Romênio –
Hoje, praticamente todo o faturamento do grupo Delta se concentra em obras e serviços prestados ao governo.

A contratação de José Dirceu foi justificada internamente de que maneira?
Romênio –
A contratação foi feita por debaixo do pano, através da nossa empresa, sem o nosso conhecimento. Um dia apareceram notas fiscais de prestação de serviços da JD Consultoria. Como na ocasião não sabia do que se tratava, eu me recusei a autorizar o pagamento, o que acabou sendo feito por ordem do Cavendish.

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O que aconteceu depois da contratação da empresa de consultoria do ex-ministro?
Quintella
– A Delta começou a receber convites de estatais para realizar obras sem ter a capacidade técnica para isso. A Petrobras é um exemplo. No Rio de Janeiro, a Delta integra um consórcio que está construindo o complexo petroquímico de Itaboraí, uma obra gigantesca. A empresa não tem histórico na área de óleo e gás, o que é uma exigência Ainda assim, conseguiu integrar o consórcio. Como? Influência política.

A Delta, por ser uma das maiores empreiteiras do país, precisa usar esse tipo de expediente?
Romênio –
Usa. E usa em tudo. O caso da reforma do Maracanã é outro exemplo. A Delta está no consórcio que venceu a licitação por 705 milhões. A obra mal começou e já teve o preço elevado para mais de l bilhão de reais. Isso é uma vergonha. O TCU questionou a lisura do processo de licitação. E quem veio a público fazer a defesa da obra? O governador Sérgio Cabral. O Cavendish é amigo último do Sérgio Cabral. A promiscuidade é total.

Voltei
Eis aí. É possível que uma investigação profunda e séria sobre o esquema de Carlinhos Cachoeira, que se mostra tão intimo da Delta, pudesse atingir outros representantes da oposição, além do senador Demóstenes Torres (GO)? É, sim! Mais uma razão para que ela seja feita. Mas me parece que, no momento, quem está assustado é o governo.

Talvez os próprios petistas íntimos da construtora, inclusive Dirceu, o seu “consultor de luxo”, ignorassem a extensão das relações entre a empresa e o bicheiro, daí aquela sede de sangue e a operação deflagrada para tentar melar o processo do mensalão com a acusação de que era a oposição a se afundar no mar de lama. As coisas começaram a assumir, no entanto, uma dinâmica preocupante para os moralistas do PT quando a Delta saltou para o olho do furacão.

Esses caras não são dotados daquele certo sentido de missão de sacerdotes da lambança como Delúbio Soares, que se acredita portador de uma causa. Se a situação esquentar pra valer e se perceberem que podem se danar, dificilmente vão preservar aqueles que nunca foram seus “companheiros”. Afinal, era tudo negócio! Uma coisa é certa: uma vez instalada, a CPI terá de chamar para depor empresários como José Augusto Quintella Freire, Romênio Marcelino Machado e, evidentemente, Fernando Cavendish.

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Dirceu, Lula e alas do PT estavam com sede de sangue. Não perceberam que estavam mordendo o pescoço de alguns “companheiros”.  Todos querem, sim, apurar a exata extensão das relações de Demóstenes Torres com Cachoeira. Mas já é possível saber, a esta altura, que uma CPI que se restringisse ao senador seria uma farsa. Há um ano VEJA contou o que apurou. De lá pra cá, a importância da Delta nas obras do PAC (e da Copa) só cresceu.

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