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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Coxinhas extremistas do Passe Livre e assemelhados se negam a condenar a violência e os vândalos. Um grupo acusa a imprensa de criar uma divisão que não existe entre pacíficos e violentos. Não é que, nesse particular, eles estão certos?

Tem gente, inclusive na imprensa, brincando com fogo. A Folha desta sexta traz uma síntese da sabatina com dois representantes do Movimento Passe Livre: Caio Martins, 19, e Mariana Toledo. Eles se dizem, claro, claro, contra vandalismos… Mas será que eles os condenam? Resposta clara e inequívoca: NÃO! Ao contrário: eles consideram que é muito difícil […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 05h53 - Publicado em 28 jun 2013, 15h01

Tem gente, inclusive na imprensa, brincando com fogo. A Folha desta sexta traz uma síntese da sabatina com dois representantes do Movimento Passe Livre: Caio Martins, 19, e Mariana Toledo. Eles se dizem, claro, claro, contra vandalismos… Mas será que eles os condenam? Resposta clara e inequívoca: NÃO! Ao contrário: eles consideram que é muito difícil combater depredações, saques e agressões à polícia porque, dizem, a violência, no Brasil, parte do estado. Afirmaram também que jamais colaborariam com a polícia para identificar vândalos. Nas palavras de Caio, um dos Rimbauds das Catracas que tanto excitam a imaginação dos nossos jornalistas, “é muito difícil conseguir uma manifestação pacífica na rua [no Brasil] porque o Estado é violento”.

Ele é muito jovem, claro!, mas suas ideias são velhíssimas. Esses radicaloides, que conhecem a pobreza de ouvir falar, estão, parece-me evidente, a serviço do que já é um aparelho político. E não é de hoje. O MPL já disse o que quer: superar o capitalismo. Para eles, o estado é essencialmente ilegítimo — aquele mesmo que tirou da miséria muitos milhões de pessoas nos últimos anos —, e a polícia nada mais é do que parte de seu braço armado. E fim de papo.

Mariana tem 27 anos. É pós-graduanda em sociologia na USP. Já está um pouco passadita para brincar de Mafaldinha. Também ela falou sobre a violência: “Não é uma questão de condenar ou apoiar, achar legítimo ou não [a violência]. É que a gente perceba como a população está descontente com a violência da polícia, da tarifa”. E ponto!

Como fiéis militantes de uma seita leninista — o leninismo da catraca —, disseram, nas palavras de Caio, por que não expressam opiniões pessoais ou algo assim: “Não interessa saber o que o Caio e a Mariana pensam. Fomos destacados pra uma tarefa específica, de falar com a imprensa”. E ele ainda reclama dos meios de comunicação, que os transformou em heróis. Teriam sido chamados de vândalos. Não custa lembrar que todos os protestos de rua havidos antes daquele fatídico dia 13 foram violentos. No dia 11, manifestantes jogaram coquetel molotov contra a polícia. Um policial foi linchado. 

Em Minas
Prestem, agora, atenção ao trecho de uma reportagem do fim da noite de ontem no site do jornal O Tempo, de Minas. Volto em seguida.

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Depois de várias horas reunidos embaixo do viaduto de Santa Tereza, no centro de BH, na noite desta quinta-feira (27), a Assembleia Popular de Belo Horizonte, organizada pelas redes sociais, definiu os rumos e temas do movimento na capital. De acordo com a organização, o 6ª grande ato de manifesto do grupo está marcado para o próximo sábado (29), às 7h, com concentração na porta da Câmara dos Vereadores, na avenida dos Andradas, no bairro Santa Efigênia.

Na segunda-feira (1º), uma nova assembleia está marcada, para às 19h, sob o viaduto de Santa Tereza. Durante o encontro foram distribuídos para os presentes folhetos com os temas pontuados na reunião da última semana, propostas por diversos grupos temáticos que compõem o movimento. A manifestação dessa quarta-feira (22) e todo confronto que aconteceu na avenida Antônio Carlos, depois do jogo entre Brasil e Uruguai até a evacuação da praça Sete, também são avaliados nesta assembleia.

Parte dos presentes considera a postura da imprensa, em separar manifestantes de vândalos, equivocada; apesar de repudiar a violência. “Cada um tem seus motivos e, por isso, se manifesta e protesta como quer, até com vandalismo”, disseram. Alguns também criticaram o Comitê dos Atingidos pela Copa (Copac), por se reunir com o governador Antonio Anastasia, na última terça (25), e não tratar de temas que abrangem a totalidade do movimento. A reunião acontece em frente a uma guarita da Polícia Militar e segue pacífica. Cerca de 1.300 pessoas passaram pelo local.

Durante o dia, a página oficial do evento no Facebook explicou sobre as intenções do encontro: “As questões serão apresentadas, discutidas e deliberada no ato. Mas é fundamental que ocupemos um espaço público para decidir sobre a vida pública. Não é uma convocação para manifesto, mas para um fórum de diálogo horizontal e formulação de pautas e propostas para próximas mobilizações”.
(…)

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Voltei
As palavras são duras, mas não cabem outras. A estupidez de setores da imprensa, especialmente as TVs — com as exceções de praxe —, cobrindo esses movimentos é assombrosa. Sim, sim, eles usam o Facebook. Mas o Facebook é apenas o meio de convocação. Antes, eram megafones, murais, os panfletos, o telefone, os e-mails… Isso é irrelevante. Quem imprime a pauta? Quem organiza? Como? Assembleia Popular de Belo Horizonte??? Estamos na Revolução Francesa? Haverá o Comitê de Salvação Pública?

Notem ali: também eles não aceitam se distinguir dos baderneiros coisa nenhuma! Ao contrário: consideram a miolência um meio de expressão. Venham cá: quando os telejornais insistem na distinção ridícula entre maioria pacífica e minoria violenta, pergunto: estão tentando se enganar, enganar os telespectadores ou têm a ilusão de que enganam os manifestantes? É claro que é sempre um menor número que vai para o pau. É parte do jogo. Mas todos pertencem ao mesmo corpo — e notem que os ditos pacíficos rejeitam a distinção.

Observem que a opinião da turma de Minas é a mesmíssima da do Passe Livre. E, se querem saber, eles estão certos, e errada está a imprensa que insiste em distinguir vândalos de pacíficos. São partes de um todo. E, como diria o poeta Gregório de Matos:
“O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo todo.”

Vão investigar!
Em vez de a imprensa se perder em distinções inexistentes, deveria buscar as raízes teóricas desses movimentos, seus pensadores de referência, como Slavoj Zizek, por exemplo, o neomarxista para quem o limite a ser superado em busca da sociedade socialista que o MPL diz abertamente querer é a democracia. Para essa escola, a fase em que a democracia era uma aliada da causa já passou.

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O que querem os que ficam edulcorando a realidade? Acham que eles vão deixar de tolerar a violência só porque a TV os chamou de pacíficos? Tenham paciência! É parte do jogo. E eles sabem muito bem que foi a promoção do caos que os alçou à condição de interlocutores. Os coxinhas conhecem ao menos um pouquinho de teoria revolucionária. Quando assisti à bucéfala demonização da PM em São Paulo e quando vi o jornalismo aplaudir a cidade como território livre para quem queira dela se apossar, sabia o que viria pela frente e alertei aqui. O que será preciso para que caia a ficha? 

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