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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Comando da PM, submetida ao controle democrático, já puniu exagero de policial. E fez bem! Agora eu quero saber quem vai punir os invasores que agem ao arrepio da lei e os caluniadores

Há um alarido, vindo daqueles de sempre, para que eu me manifeste sobre o mais recente episódio USP envolvendo a relação de invasores de espaço público e policiais militares na USP. O vídeo circula no Youtube. “E agora? O que você vai dizer?” Ora, o óbvio: ninguém tem razão! Mas não pensem que será desta […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 09h47 - Publicado em 10 jan 2012, 05h55

Há um alarido, vindo daqueles de sempre, para que eu me manifeste sobre o mais recente episódio USP envolvendo a relação de invasores de espaço público e policiais militares na USP. O vídeo circula no Youtube. “E agora? O que você vai dizer?” Ora, o óbvio: ninguém tem razão! Mas não pensem que será desta vez que vou subir no muro e optar pela crítica “nem-nem”, o famoso “nem isso nem aquilo, muito pelo contrário”… Este não sou eu. Há uma questão de circunstância: o sargento André Luiz Ferreira, o policial que pegou pelo colarinho Nicolas Menezes Barreto — é este o nome do rapaz matriculado no curso de Ciências da Natureza — errou. Não consegui ouvir o que o matriculado disse ao PM, mas a reação da autoridade fardada foi obviamente destemperada. E há uma questão de fundo: uma minoria de extremistas tenta, por todos os meios e a qualquer custo, provocar um caso que inviabilize a presença da Polícia Militar no campus. Se for com sangue, melhor. Sempre haverá idiotas úteis dispostos a oferecer o próprio couro à causa dos capitães do mato das ideologias.

Abaixo, segue o vídeo que está no Youtube. A área de comentários deste site, como vocês poderão constatar, foi devidamente aparelhada pela “turma”. Volto em seguida.

[youtube=https://www.youtube.com/watch?v=iNAolrMSioU&w=560&h=315]

Voltei
Assim como os invasores do espaço público não representam, da ética à estética, a maioria dos alunos da USP, também o comportamento do policial não reflete a relação da Polícia Militar com os estudantes. São duas excepcionalidades. Os policiais que participaram da abordagem já foram afastados de suas funções pelo comando da PM. E cabe, então, a pergunta: que punição receberão aqueles que ocupam, de modo ilegal, um espaço da universidade? Resposta: nenhuma! Eis uma diferença importante: a PM está submetida ao controle do estado democrático; os invasores agem ao arrepio da lei.

A conversa evoluía bem até o momento em que o sargento perdeu o controle, o que não poderia ter acontecido. Fosse um debate, ele estaria vencendo de lavada até o momento que fez bobagem. Reproduzo trecho do diálogo.

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Policial – É o seguinte: eles tem reformar isso, e vocês têm de sair.
Invasor – Para reformar isso aqui, ou tem de ter um acordo entre a Reitoria e o Diretório Central dos Estudantes ou tem de ter uma ação legal. Não tem nenhuma das duas coisas…
Policial – E a ação de vocês é legal?
Invasor – É o espaço dos estudantes…
Policial – É o espaço dos estudantes, e vocês atrapalham a reforma…

Vamos pôr os pontos nos “is”. “Espaço dos estudantes” uma ova! Já foi, não é mais! Hoje, é apenas um prédio abandonado, que estava ocupado por um grupo de punks sem qualquer vínculo com a universidade até outro dia. Ainda que fosse um “espaço dos estudantes”, então é “dos estudantes”, e isso não confere a um grupo o direito de invadi-lo. O invasor que dialoga com o policial falsifica a verdade ao afirmar que a Reitoria só pode reformar o espaço depois de “um acordo com o DCE” ou depois de uma “ação legal”. A Reitoria tem autoridade sobre o prédio.

A indagação do sargento vai ao ponto: “E a ação de vocês é legal?” Não, não é! Um bem público não quer dizer “sem donos”, sujeito à ocupação. Um bem público pertence ao… público! Eis um dos traços detestáveis da cultura brasileira: considerar que aquilo que é de todos não é de ninguém. Por isso tanta gente faz xixi em praças e túneis, põe os pés sobre os bancos nos trens, ouve música num volume ensurdecedor nas ruas, joga aquele maldito frescobol na praia… “Já que o espaço é público…” Sem essa! Ainda que aquela fosse mesmo, ainda hoje, uma área de TODOS OS ESTUDANTES, ela não poderia ter sido invadida por ALGUNS ESTUDANTES!

Reitero: a PM, submetida ao controle democrático, puniu preventivamente os dois policiais com o afastamento e abriu uma sindicância. Com os invasores, nada vai acontecer.

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Acusação de racismo
Não deu para ouvir o que disse Nicolas, o estudante matriculado no curso de Ciências da Natureza, momentos antes do descontrole do policial. Seja o que for, reitero, o PM agiu mal, e o comando tomou as devidas providências. Acusar, no entanto, o sargento de racismo, como fizeram os invasores, porque o rapaz é “negro” (segundo a linguagem da militância; de fato, ele é mestiço, como uma larguíssima parcela da população brasileira) é um despropósito. Seria necessário dispor de provas, de evidências, de que o policial só agiu daquele modo por causa da cor da pele do estudante.

Atenção! Racismo é crime imprescritível e inafiançável. Acusar alguém de tal prática sem a devida prova constitui um outro crime: calúnia! Mais do que isso: o vídeo foi parar no Youtube, o policial está sendo demonizado por correntes organizadas nas redes sociais, e aqueles que o acusam mostram a cara. Bem, em boas democracias do mundo, o sargento tiraria até as calças de seus acusadores num tribunal. Um erro ou mesmo a eventual prática de abuso de autoridade são coisas muito diferentes de racismo.

Sei que invasores da USP e democracia não são coisas compatíveis, mas faço o alerta mesmo assim: também o policial foi vítima de um crime — no caso, de calúnia. A menos que seus acusadores apresentem as provas do racismo. Brigar com um negro, por si, não configura tal crime. Ou, por outra, seria preciso admitir que a mesma ação, do mesmo policial, seria menos grave e mais aceitável contra um… branco! Seria? Tal consideração seria, sem dúvida, uma manifestação… racista!

Encerro
Parte das coisas já está em seu devido lugar. O policial que foi além do aceitável já sofreu a primeira conseqüência de seu ato. E uma sindicância vai apurar a questão. Os que invadem ilegalmente um espaço público seguem impunes.

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PS – Ter carteirinha da USP, convenham, não quer dizer ser efetivamente estudante da USP. Um estudante, como quer este substantivo derivado do particípio presente, estuda efetivamente. Torço para que seja o caso de Nicolas. Estará fazendo um bem a si mesmo e a nós todos, que financiamos o seu curso com os impostos que pagamos. Que ele use esse benefício da melhor maneira possível! Talvez ele seja uma boa exceção. A regra entre profissionais da invasão é usar o “número USP” apenas para a “militância”, desperdiçando o próprio tempo e o nosso dinheiro.

Texto originalmente publicado às 23h08 desta segunda
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