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Com a eleição de Dilma, parece que quem tem de ir para a clandestinidade é a oposição democrática

Uma ex-terrorista, convertida à democracia, chegou à Presidência da República e, pelo visto, quem tem de ir para a clandestinidade é a oposição, embora o regime seja democrático! Ontem, o Globo publicou uma longa entrevista com os ex-governador José Serra (PSDB-SP). Ele fez, sim, críticas contundentes ao governo, acusou o estelionato eleitoral, afirmou que o […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 12h46 - Publicado em 22 fev 2011, 07h23

Uma ex-terrorista, convertida à democracia, chegou à Presidência da República e, pelo visto, quem tem de ir para a clandestinidade é a oposição, embora o regime seja democrático!

Ontem, o Globo publicou uma longa entrevista com os ex-governador José Serra (PSDB-SP). Ele fez, sim, críticas contundentes ao governo, acusou o estelionato eleitoral, afirmou que o falso rigor fiscal esconde ausência de rigor. Sobre o mínimo, afirmou: “O valor  está sendo usado para o governo evidenciar ao mercado um rigor fiscal que ele absolutamente não tem. O falso rigor esconde a falta de rigor. Por que não começam pelos cortes de cargos comissionados ou dos subsídios, como os que são entregues ao BNDES? São uns 3% do PIB, R$ 110 bilhões.

Muito bem. A íntegra está aqui. No Globo Online (e acho que na versão impressa também), há uma reportagem com o seguinte título: “Criticada por governistas, entrevista de Serra divide opiniões de aliados”. Que ele seja atacado por governistas, parece razoável. Fiquei interessado nas opiniões divididas dos aliados. Só um apareceu criticando. Ou melhor: NÃO APARECEU. Covardão, falou em off. E foi muito duro, como costumam ser os anônimos: “Ouvi na semana passada de um deputado tucano que a ausência de Serra do cenário nacional ajuda a arejar o partido e diminui o clima de tensão e medo que prevaleceu nos últimos anos em razão de sua influência no comando do PSDB”. A reportagem dá a entender que se trata de um político do DEM, partidário da candidatura de Aécio Neves à Presidência. Quem será? “Tensão e medo?” Ainda há tucanos que fazem xixi nas penas, é isso? O ridículo deveria ter limites.

Em on, os senadores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e Álvaro Dias (PSDB-PR) e o deputado ACM Netto, líder do DEM na Câmara, elogiaram a entrevista. Afirmou o parlamentar do Democratas: “A entrevista guarda coerência com o que Serra vinha dizendo durante a campanha eleitoral. Ele faz cobranças corretas em relação a Dilma e continua sendo um importante líder da oposição no país”.

Os petistas caíram de pau, tentando provar a irrelevância de Serra: “Minha impressão é que Serra está falando sozinho. Ele precisa ter cuidado para não se desqualificar, pois sua fala pesada e agressiva não influencia nem a oposição. Acho que ele está sem eixo. Sua entrevista é quase um grito mudo”, afirmou Cândido Vaccarezza, líder do PT na Câmara. Para José Eduardo Dutra, presidente do partido, “o discurso dele não encontra eco nem no PSDB. Por isso ele está que nem siri na lata”. Dutra tem uma elegância muito característica… Dutra, aliás, náo manda nada no PT, e Vaccarezza vive sendo contestado por sua própria base — maiores informações com Marco Maia, presidente da Câmara.

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Huuumm… Se Serra não tem importância nenhuma, por que tanta preocupação com ele? Até o colunista Fernando Barros e Silva, da Folha, se incomodou um pouco. Segundo ele, o PSDB espera saber se Serra será ou não candidato à Prefeitura em 2012 — na entrevista, ele negou que será — para se definir. Escreveu: “O próprio PT, como informou o ‘Painel’ no domingo, quer esperar o desfecho da novela Serra para definir sua candidatura. Guardadas as proporções, repete-se em 2011 a situação de 2009, quando a oposição ficou aguardando Serra definir se era ou não candidato à Presidência. A pergunta hoje é: até quando os tucanos podem ficar em compasso de espera?”

Como se vê, Barros e Silva acha que Serra teve cassado, de novo, o direito de fazer política. Agora ele faz “novela”. Não sei por quê, mas me parece um tanto inverossímil que Dutra e Vaccarezza zelem pela credibilidade de Serra, e Barros e Silva, pelo futuro do PSDB. Com algum humor, eu diria que nenhum deles convence nesse papel.

Recomendo que aqueles que não leram a entrevista o façam. Para concordar ou discordar. Isso é com cada um. Mas o que se chama de “agressividade” é nada mais do que uma autêntica fala de oposição. Um representante da minoria — nas democracias, elas são tão legítimas quanto a maioria — diz o que não lhe parece bem no governo. “Ohhh, mas que coisa criminosa! Como ele ousa?” Impressionante! A isso chegamos! Eu não perco mais meu tempo com acusações de “serrismo” ou “não serrismo”, até porque alguns puros pretendem, por assim dizer, naturalizar o “anti-serrismo”, como se ele representasse o grau zero do engajamento, o ponto da neutralidade: se o sujeito escrever contra Serra, se fizer uma ironia grosseira com ele ou virar hortelão de seus adversários — aceitando plantar o que lhe vendem —, estão está provada a sua independência.

Qual é? Pra cima de mim? Isso é movimento de satanização da oposição, nada mais! O que foi que Serra afirmou de tão escandalosamente ofensivo? Que tal isto?
“O destaque é o estelionato eleitoral. Há quatro meses falavam em investir num monte de coisas, milhões de casas, milhões de creches, de quadras esportivas, de estradas, de ferrovias. A realidade é que está tudo parado, a herança maldita deixada por Lula é gigantesca em razão do descontrole dos gastos, dos maiores juros do mundo, da desindustrialização. A montagem do governo foi um festival de barganhas e, antes de terminar o segundo mês, ainda tivemos o bloqueio a um salário mínimo melhor, o escândalo de Furnas e a não apuração dos escândalos da Casa Civil. Não é à toa que a presidente fala pouco e nunca de improviso. O atual governo optou por fingir que nada disso é com ele.”

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O que há de errado ali? Huuummm… Talvez a hipérbole no caso das creches. Não foram milhões, mas milhares…  Observem, leitores, como, pouco a pouco, o discurso de oposição vai se confundindo com uma espécie de crime de opinião. No caso de Serra, então, chega-se a levantar a suspeita de que ele, olhem que absurdo!!!, talvez queira ser presidente da República!

Que coisa feia! Onde já se viu alguém criticar o governo e ainda querer ser presidente da República? A crítica só deveria ser permitida às almas puras, àquelas sem ambições políticas. Os que pretendem ocupar, um dia, a cadeira de Dilma têm é de aplaudi-la.

O vício da genuflexão está deixando  as pessoas um pouco burras. também Porque certamente haverá uma forma mais inteligente de exercer o governismo.

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