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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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A violência contra jornalistas nos protestos – As omissões de uma nota de patrões e de outra de profissionais da área. Ou: Jornalistas não gostam de polícia. É um preconceito velho

Duas notas sobre a agressão a jornalistas durante as manifestações chamaram a minha atenção: uma é de uma associação de profissionais, e outra, de patrões. As duas erram feio, não por aquilo que apontam, mas por aquilo que omitem — e omitem, entendo eu, o essencial. Já chego lá. Antes, algumas considerações. Jornalistas, no geral, […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 05h26 - Publicado em 10 set 2013, 07h17

Duas notas sobre a agressão a jornalistas durante as manifestações chamaram a minha atenção: uma é de uma associação de profissionais, e outra, de patrões. As duas erram feio, não por aquilo que apontam, mas por aquilo que omitem — e omitem, entendo eu, o essencial. Já chego lá. Antes, algumas considerações.

Jornalistas, no geral, não gostam de polícia. Por bons motivos quando policiais exorbitam de suas funções, apelam à violência gratuita, hostilizam a imprensa, temerosos de que o registro de um flagrante seja tomado como a história inteira — o que, infelizmente, acontece às vezes. E o nome disso é distorção e mau jornalismo. Muitos jornalistas não gostam de policiais também por maus motivos. Aqueles que cumprem a mais difícil e a mais desagradável tarefa dos regimes democráticos — que é exercer o uso legítimo da força — são tomados como agentes de uma repressão, sei lá como chamar, imaginária ou, para ficar num termo que voltou à moda, “simbólica”. De fato, há entranhada nas corporações uma cultura da violência, que precisa acabar. Mas não é menos verdade que os policiais militares são vistos, muitas vezes, como expressões de um estado autoritário, ilegítimo, cuja tarefa é reprimir movimentos sociais libertários, que seriam portadores de amanhãs sorridentes. E isso é uma grossa bobagem ditada pela ideologia.

A questão pode assumir contornos de escandaloso preconceito. Tome-se o caso da família Pesseghini. Cansei de ler tolices sugerindo que o fato de os pais do garoto serem policiais teria facilitado o contato do menino com as armas e com o universo da violência. Um laudo psicológico que circula por aí, que está mais para a baixa literatura do que para a análise técnica, contribui para o festival de boçalidades. Alimenta o preconceito o fato de que o pai pertencia à Rota, a tropa de elite que certa imprensa adora odiar.

Matemática, infelizmente, não é disciplina do curso de jornalismo. Há 100 mil PMs em São Paulo. Em todo o Brasil, são mais de 400 mil. Quantos casos como esse se conhecem? A taxa de filhos de policiais homicidas e suicidas é superior à de outras categorias profissionais? Alguém que, por qualquer razão — não vou especular — decide matar os próprios pais, duas parentes e se suicidar em seguida precisa do suposto convívio com a violência e com armas para fazê-lo? A ilação é só uma estupidez do preconceito — a mais asquerosa que vi nos últimos tempos. Mas volto ao eixo.

A Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV) divulgou a seguinte nota:
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) manifesta repúdio à violência cometida contra profissionais de imprensa, durante as manifestações no feriado de 7 de setembro.
Cinco repórteres foram hostilizados e agredidos quando cobriam as manifestações nas cidades do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte, Brasília e Manaus.
As agressões partiram tanto de policiais como de manifestantes, com a intenção de impedir o registro dos fatos pelos profissionais de imprensa.
É inaceitável que se imponham limites, de qualquer ordem, à atividade jornalística pelo grave prejuízo que causam ao conjunto da sociedade, que tem violado seu direito fundamental de acesso à informação.
DANIEL PIMENTEL SLAVIERO
Presidente

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A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) publicou o seguinte em seu site:
A Abraji contabilizou 21 casos de violação contra 20 profissionais da imprensa durante os protestos realizados no 7 de Setembro. A polícia foi a autora de 85% das agressões – dezoito casos – na maioria das vezes por uso ostensivo de spray de pimenta. Os números podem aumentar conforme mais casos forem confirmados. Os 21 casos registrados pela Abraji estão organizados em uma planilha disponível para download neste link: https://bit.ly/15R0fgi. Os dados também estão na planilha ao final desta nota.
Brasília foi a cidade mais violenta para os profissionais da imprensa: 12 jornalistas foram agredidos, todos por policiais militares. O fotógrafo Ricardo Marques, do jornal Metro, desmaiou após ser atingido no rosto por spray de pimenta. Uma de suas câmeras foi furtada. A fotorrepórter Monique Renne, do Correio Braziliense, registrou o momento em que um policial jogou spray de pimenta diretamente em sua câmera; ao fotografar a cena, André Coelho, do mesmo jornal, foi agredido por PMs.
No Rio de Janeiro, o repórter da Globo News Júlio Molica foi duplamente atingido: pelo spray de pimenta da PM e por chutes de manifestantes, que tentavam expulsá-lo do local.
Os manifestantes também se voltaram contra a imprensa em Manaus: a repórter Izinha Toscano, do Portal Amazônia, levou socos nas costas; Camila Henriques, do G1 Amazonas, foi empurrada. Elas tentavam registrar a prisão de alguns manifestantes.
Forças de segurança: tradição de violência
Os números mostram a recorrência das forças de segurança como autoras de violência contra jornalistas. No último sábado, as PMs igualaram o recorde de 13 de junho, quando agentes de segurança também agrediram 18 profissionais da mídia.
Desde o dia 13 de junho a Abraji já contabilizou 82 violações contra jornalistas durante a cobertura de manifestações. A planilha completa com os nomes de todos os profissionais agredidos, veículos para o qual cada um trabalhava, data e local da agressão está disponível para download neste link: https://bit.ly/13C5YKi.
A Abraji repudia as ações de policiais e de manifestantes contra profissionais da imprensa. Agressões são sempre injustificadas. Quando os agredidos são repórteres, todos os cidadãos terminam sendo vítimas da falta de informação.

Voltei
As duas notas pecam não por aquilo que afirmam, mas por aquilo que omitem. Nem uma nem outra revelam — e os sindicatos de jornalistas se calaram a respeito — que, desde as jornadas de junho, boa parte dos jornalistas dos grandes veículos de comunicação tem de cobrir as manifestações incógnitos, escondidos, ou correm o risco de apanhar, como aconteceu com Júlio Molica. Carros de emissoras chegaram a ser queimados — e isso se deu antes de os black blocs assumirem o comando dos protestos.

Só não há um número estupidamente maior de jornalistas agredidos por manifestantes porque estavam escondidos, fazendo um trabalho quase clandestino — era o preço para não levar umas porradas daqueles libertários. Há, sem dúvida, evidência de truculência das várias PMs, mas é preciso que se diga a verdade inteira. No sábado, chegou a haver tentativa de invasão da Globo em Brasília. A sede da emissora em São Paulo também já tinha sido atacada.

É preciso tomar cuidado nessas coisas. É evidente que se deve repudiar a agressão a jornalistas, venha de onde vier. Mas entendo que decretar o empate — ou, pior, demonizar ainda mais as polícias — corresponde a prestar um desserviço à verdade, ao jornalismo e à civilidade. Desde o início das manifestações, em junho, os celulares acabaram sendo o instrumento de trabalho de muitos jornalistas. Um simples logotipo num microfone poderia expor o profissional ao linchamento. Nem a Abert nem a Abraji podem ter medo desse fascismo das ruas. Isso já deveria ter sido denunciado há tempos. Desde os tempos, diga-se, que jornalistas ficavam se esgoelando na TV para chamar de “pacíficas” manifestações não raro incendiárias. Não pensem que tratar arruaceiros a pão de ló vai humanizá-los. Ao contrário: sentir-se-ão ainda mais à vontade — afinal, as gentilezas e as deferências dos meios de comunicação e dos jornalistas os fazem pensar que estão certos.

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