A Simone ficou brava e acha que devo me apresentar em lugar de um beagle. Como não sei latir nem abanar a cauda, ela me quer testando remédios
Ai, meu Deus! A Internet é bacana pra caramba, né? Mas tem, como tudo, um lado chatinho. Um deles é a gente ser “descoberto” por pessoas como uma tal “Simone”, que me envia o seguinte sobre o texto que escrevi a respeito da invasão do laboratório Royal (segue como veio, com uma gramática, digamos, beagle…): […]
Ai, meu Deus!
A Internet é bacana pra caramba, né? Mas tem, como tudo, um lado chatinho. Um deles é a gente ser “descoberto” por pessoas como uma tal “Simone”, que me envia o seguinte sobre o texto que escrevi a respeito da invasão do laboratório Royal (segue como veio, com uma gramática, digamos, beagle…):
“Pois, acho que fizeram pouco e o Reinaldo é um reacionário e a grande maioria desse país são hipócritas, porque assassinar criaturas inocentes é muito fácil, quero ver fazerem isso nos seus filhos, quer cura para a sua doença, então seja cobaia desses laboratórios e se você sobreviver ao experimento, gostaria de saber como foi a experiência!!!!”
Retomo
Viram? É gente assim que os black blocs da vida mobilizam, podem crer (quando eu era criança, dizia-se “podiscrê”!).
A Simone está lá escrevendo besteiras no seu computador porque, certamente, tomou a vacinas contra pólio, a tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba), a tríplice bacteriana (difteria, tétano e coqueluche), porque toma antibióticos quando algum agente patogênico, meio atrapalhado, a confunde com um de nós…
A Simone acha é pouco. A Simone quer é quebrar mais. A Simone agora só vai se tratar com mel e própolis. Mas vai ela mesma buscar os favos, depois de convencer as companheiras abelhas.
Entendi. Já que Roberto Carlos voltou a ser comentado nestes dias, a Simone nunca mais foi a mesma depois da música que o Rei da Censura dedicou às baleais, com versos magníficos como estes:
“(…)
E as baleias desaparecendo, por falta de escrúpulos comerciais…
Eu queria ser civilizado como os animais….”
Simone já atingiu o ideal de Roberto Carlos.
Outros ainda dizem que o Royal não faz remédio coisa nenhuma. Um deles afirma se testa lá é “batom para a vaca da sua mulher”. Hein? Minha mulher usa batom. Mas tira na hora da função. Aquele coisa meio gordurenta me incomoda… “Você não gosta de batom, é?”, desconfia Paula Lavigne, a suspicaz…
As causas têm lá seus ideólogos, sabemos. Mas só sobrevivem e se tornam populares com o concurso dos idiotas.
Gente que é contra o uso de animais pela indústria farmacêutica e por cientistas — seguindo os princípios éticos que regulam a prática, é claro — não deveria jamais tomar um remédio da chamada alopatia — incluindo a anestesia em caso de cirurgia e de tratamento dentário. Só homeopatia e hipnose.
Por que dar atenção à Simone? Porque ela é uma legião. Há questões que são complexas, admito. É difícil entender que não se deve, por exemplo, indexar salários porque a correção contínua do ganho, segundo a taxa de inflação, rouba dinheiro do trabalhador em vez de beneficiá-lo. É o tipo de coisa que contraria o senso comum. Até porque não é menos verdade que uma inflação renitente, sem correção nenhuma, também empobrece o coitado.
Mas como é que a Simone não consegue entender que ou se testam remédios e vacinas em bichos ou se os testam em seres humanos? Se a Simone não quer que seja naqueles, então será nestes. Se ela não consegue compreender isso, começo a duvidar que consiga atravessar a rua em segurança ou levar o sorvete à boca sem o risco de acertar a testa.
Sustentando-se apenas nos membros inferiores, em posição vertical, é perfeitamente possível entender que defendo, sim, o uso de animais, desde que respeitadas as regras — tudo indica ser o caso do laboratório Royal. E não defendo apenas para que eu e os meus nos livremos ou nos curemos de doenças.
Também se beneficiam as criancinhas pobres da África — que, infelizmente, arrancam menos lágrimas dos contemporâneos do que os beagles. Beneficia-se a espécie. Mas a Simone quer é quebrar mais. Com um computador na mão. Sou capaz de jurar que ela também é contra a indústria farmacêutica e o capitalismo. Sempre com um computador na mão.
Dá para entender por que Daniel Andreas San Diego é um dos terroristas mais procurados pelo FBI. Como Simone, ele também acha que a depredação de laboratórioe é pouco. Ele decidiu explodir bombas em empresas que realizam testes com animais. San Diego acha que não há mal nenhum em matar pessoas quando se trata de proteger bichos. San Diego é um humanista destes tempos animalisticamente corretos.