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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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A revista “Piauí”, o Reinaldo Azevedo, o Lula, o Bolsonaro, o aiatolavo e os clichês

A “Piauí Herald” faz uma graça comigo. Achei simpática. O humor, a exemplo de toda figuração, só faz sentido se remeter ao mundo real. Vamos lá

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 30 jul 2020, 21h49 - Publicado em 19 set 2016, 05h35

Vejam a capa da revista “Piauí”. Ainda voltarei a ela.

capa da Piauí

“The Piauí Herald”, a seção de humor voluntário da revista “Piauí”, da esquerda podre de bilionária, resolveu me sacanear com um texto que achei, de fato, engraçado. Leiam (em vermelho). Volto em seguida:

Lula e Reinaldo Azevedo iniciam amizade no Facebook

MUNDO INVERTIDO – Emocionado com a coluna de Reinaldo Azevedo na Folha de hoje, Lula enviou uma solicitação de amizade ao jornalista. “Nos últimos anos, nos limitamos às cutucadas. Chegou a hora de sedimentarmos nossa relação”, escreveu inbox o petista. “O ódio é o sentimento mais próximo do amor. Ruim mesmo seria a indiferença”, respondeu o colunista ao aceitar o convite. Em seguida, os dois foram vistos trocando snaps e saíram juntos para caçar Pokémons.

A aproximação foi comemorada pelo presidente Michel Temer. “O país, enfim, está pacificado”, declarou, enquanto soltava pombas brancas. Tomado pelo espírito de confraternização, mandou confeccionar camisetas para Renan Calheiros, Dilma Rousseff, José Eduardo Cardoso, Eduardo Cunha, Aécio Neves e para si próprio. Cada uma delas exibirá uma letra da palavra AMIGOS. “Depende de nós/ Quem já foi ou ainda é criança/ Que acredita ou tem esperança/ Que faz tudo para um mundo melhor”, declamou o presidente.

Mesmo tocado pelo clima de comunhão, Lula voltou a se proclamar inocente: “Provem uma corrução minha que irei de pedalinho ser preso.”

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Retomo
O humor, a exemplo de toda figuração, só faz sentido se tiver um lado sério, se remeter a uma realidade tangível. Tem de ser, no mínimo, verossímil. É o caso do texto acima. Ele se refere à minha coluna na Folha de sexta passada, em que aponto as incorreções técnicas da denúncia contra Lula feita por procuradores, liderados por Deltan Dallagnol; censuro o evento espetaculoso e, parte ignorada da minha crítica tanto por petistas como por antipetistas, afirmo que esses erros concorrem para a impunidade de Lula — que, acho eu, é culpado.

O texto da “Piauí Herald” só faz sentido porque, com efeito, os dois polos do debate se surpreenderam com a minha coluna e com os meus posts no blog. Afinal, vocês sabem como é: todo mundo procura o seu lugar no mercado das ideias, certo? Uns radicalizam à esquerda para manter a clientela; outros o fazem à direta pelo mesmo motivo, e há a turma, onde encaixo a “Piauí”, que se quer complexa demais para ser identificada com um dos lados. Essa gente gosta de censurar os extremos. Mas basta encostar o ouvido ao peito dos isentos para constatar: são esquerdistas, claro!

O curioso é que o texto da “Piauí Herald” repete a piada involuntária do “aiatolavismo”, a seita dos seguidores de aiatolá Olavo de Carvalho — é claro que, nesse caso, como eles pretendem falar a sério, o texto vem vazado com aqueles rasgos de delicadeza com que o mestre cevou seus pupilos. Com humor, a revista sugere que escrevi um texto favorável a Lula. Os zumbis do “professor”, não! Esses dizem a sério: “Viram? Olavo tinha razão (claro!). Reinaldo é mesmo um infiltrado da esquerda na direita”.

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Eu poderia engatar aqui um Kipling rápido — “Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,/ e, entre Reis, não perder a naturalidade” — e pregar em favor da serenidade e contra os extremos, mas não o farei porque considero esse debate mais falso do que nota de R$ 3. Eu não me importo com o radicalismo de ninguém, desde que este respeite o pacto democrático. Também não acho que a virtude esteja no meio. Para que se chegue ao “meio-termo” das coisas, fiquem certos, o errado acaba lucrando alguma coisa indevida.

As minhas opiniões sobre a denúncia de Dallagnol e seus amigos nada têm a ver com a busca da “serenidade”. Também não se trata da minha contribuição pessoal à paz dos contrários; tampouco quero que a esquerda fique me fazendo beicinho. A MINHAS OPINIÕES SOBRE A DENÚNCIA, COMO SEMPRE, SÃO FRUTO DE UM RADICALISMO. E eu sou radicalmente contrário às práticas que não se coadunam com o Estado de Direito.

Meu blog está no 11º ano. Recorram ao arquivo e me digam quando não foi assim. Se esperam que eu vá dizer o que não penso só para fazer as vontades de um público cativo, podem esquecer. Pra começo de conversa, meu público é livre, não cativo. Sim, eu sei: para fazer a vontade dos três grupos, eu deveria ter gritado: “Cadeia para Lula já!”. Uns teriam aplaudido. Outros teriam vaiado. E os isentões teriam balançado a cabeça: “Ah, esses radicais de ambos os lados são insuportáveis”. Contrariei os três. Numa democracia, sou um extremista em matéria de procedimento legal.

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Para a piada ficar completa, a “Piauí” tem de contratar o Olavo de Carvalho. Espero que o João e o Fernando percebam que isso agora é um imperativo.

A capa
Não sei como funciona direito a “Piauí” porque não leio. Não tenho ideia se aquela graça comigo estará ou não na versão impressa. Mas não deixa de ser interessante que a ironia venha a público junto com a edição de setembro, que traz um perfil do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que se apresenta como pré-candidato à Presidência. A capa não hesita e o define como “a direita que atira”. Para registro rápido: Bolsonaro atira, no máximo, impropérios  — como, suponho, evidenciará o perfil. Como se sabe, ele é um fanático defensor do golpe na base do gogó. Em 1964, tinha nove anos. Tiro de verdade, se deu, deve ter sido com espingardinha de chumbo.

Qual é a chance de um milico meio grosso e relativamente pobretão, falando boçalidades identificadas com a extrema direita, se sair bem numa revista da esquerda bilionária, como a “Piauí”? Inferior a zero. Não li o texto, reitero, mas as pegadas já estão na capa. Deem mais uma olhada.

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É um primor do preconceito dos que se querem esclarecidos. A família da “direita que atira”, como se vê, é heterossexual; a mulher é a rainha do lar (vejam o que vai no avental dela — um exagero, né, Fernando?, do didatismo pedestre); eles têm um filhinho e um cachorro, e os três correm para receber o varão, que traz a faixa presidencial. O conjunto remete às ilustrações da família norte-americana — olhem a casa! — da década de 50, memória afetiva e cultural, suponho, de quando o embaixador Walter Moreira Salles serviu em Washington, entre 1952 e 1959.

Pergunta: o quarteto homem-mulher-criança-cachorro não compõe, por acaso, a esmagadora maioria dos lares brasileiros? Será que o melhor procurador dessa formação é Bolsonaro? A propósito: alguém foi mais tradicionalista nessa matéria — incluindo todos os vícios do familismo — do que Luiz Inácio Lula da Silva? Diria que foi um tradicionalista até, como posso dizer?, nos folguedos. Nunca a tradição, a família e a propriedade estiveram tão bem representados no Paládio do Planalto — e no da Alvorada — como sob o comando do Apedeuta, não? A propósito: Bolsonaro está no terceiro casamento. Não chega a ser um espécime da família-padrão, não é mesmo? Mais uma: os gays de direita também têm de usar avental?

Que fique claro: não estou julgando a qualidade do perfil. Não li. Eu me refiro a um facilitário da capa, que nasce de um clichê antigo sobre a direita até quando o objeto da análise é Bolsonaro, com seus detestáveis primitivismos e sua retórica barulhenta e vazia.

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E é de um clichê de anteontem que nasce a graça — eu realmente achei o texto simpático — sobre as críticas que fiz à denúncia dos procuradores.

Ô Fernando, vamos atualizar essa bibliografia! Sobre a esquerda, sobre a direita e sobre os nem-nem.

PS – A divulgação vai como colher de chá. Aumente o reparte nas bancas.

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