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A poluição de São Paulo e Rio. Ou: É permitido à mulher mais feia ser, ao menos, mais fogosa?

Sempre que deixo de escrever algo em que pensei, um clarãozinho qualquer, acabo me arrependendo. Aconteceu de novo. Quando surgiu a notícia de que, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a cidade do Rio é mais poluída do que a de São Paulo, veio um textinho à minha cabeça. Alguém distraiu a minha atenção, […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 10h38 - Publicado em 27 set 2011, 16h12

Sempre que deixo de escrever algo em que pensei, um clarãozinho qualquer, acabo me arrependendo. Aconteceu de novo. Quando surgiu a notícia de que, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a cidade do Rio é mais poluída do que a de São Paulo, veio um textinho à minha cabeça. Alguém distraiu a minha atenção, e ele ficou pelo caminho. Pois é… A cada m³ de ar, foram encontradas na “Cidade Maravilhosa” 64 microgramas de material particulado; na antiga “Terra da Garoa”, 39. Notem que, até nas perífrases, São Paulo se dá mal. Em qual das duas você gostaria de passar o fim de semana?

Pensei cá comigo: “Ninguém vai acreditar no resultado! A imprensa paulistana vai ser a primeira a pôr em dúvida o resultado. Isso é como dizer que a mulher feia (ou o homem feio, cada um use a metáfora a gosto), até com certo buço, é mais fogosa — para usar palavra antiga e decorosa — do que aquela beldade (outro arcaísmo…) de manual, que posa pelada.” Aprendemos todos que nada em São Paulo pode deixar de ser pior… Não, ao menos, até que um político nominalmente de esquerda volte ao poder. O mesmo vale para o estado.

No Estadão, a gente lê: “São Paulo, apesar de estar em uma situação melhor do que a do Rio, não tem o que comemorar”. Certo! Nada a comemorar! O jornal achou pouco espírito crítico. Convidou Paulo Saldiva para escrever um texto sob a rubrica “Análise”. Ele é apresentado como “Coordenador do Laboratório de Poluição da USP”. E o homem mandou ver: “Considero inimaginável falar que o Rio é, como um todo, mais poluído do que São Paulo”. Ele também opinou na Folha: “A rede automática do Rio [que permite uma coleta de dados no longo prazo] tem quatro estações, e só uma é no centro da cidade”. Heinnn? Ele explica: comparando dados apenas das estações centrais das cidades entre 2007 e 2009, a poluição carioca é aproximadamente 30% menor que a de São Paulo. Ah, entendi. Estação central contra estação central, pior para São Paulo! Certo! Mas a OMS não comparou a poluição apenas dos respectivos centros. Essa seria outra medição.

É claro que a tabela da OMS permite fazer mau jornalismo ao contrário. Que tal isso: “São Paulo tem a mesma poluição de Paris”, ambas com 38 microgramas de material particulado por m³ de ar, o mesmo de Buenos Aires, com seus “buenos Aires”…

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Importante: a OMS considera que o máximo aceitável para a saúde humana são 20 microgramas de material particulado por m³ de ar. Cansei de ler que São Paulo, com 38 microgramas, tem “um índice duas vezes superior à recomendação”. Não! Aí o erro é de matemática e de linguagem. A cidade apresenta um índice quase “UMA VEZ SUPERIOR” ao aceitável, já que 20 dos 38 não caracterizam um problema a ser sanado.

Há uma diferença patente entre as imprensas paulistana e carioca: entre fazer mau jornalismo a favor e contra sua própria cidade, a primeira, invariavelmente, faz contra, e a segunda, invariavelmente, a favor. Nenhuma das duas pratica é virtuosa. Bom jornalismo se faz a favor dos fatos, da verdade. A propósito: vejam o tratamento dispensado hoje aos índices de violência em São Paulo. Estão em queda. Quem lê os jornais e não RETRABALHA OS DADOS A FAVOR DA OBJETIVIDADE, conclui que estão em ascensão. Como disse um petralha comentando o post em que trato do assunto, “o que importa é a sensação de insegurança…” Ah, bom!

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