Ignorado e desativado, Conselho de Ética, agora, vira tábua de salvação
Caso de Daniel Silveira foi enviado pela Mesa da Câmara ao colegiado numa tentativa também de livrar os deputados em se exporem no plenário
Até o estouro do caso de Daniel Silveira (PSL-RJ), o Conselho de Ética da Câmara estava relegado a outro plano qualquer.
Foram várias as tentativas de reativá-lo ano passado, durante a pandemia, mas uma iniciativa inglória.
São pelo menos 9 casos parados, com acusações de quebra de decoro parlamentar. Com o de Silveira, vai a 10.
O ainda presidente do conselho, Juscelino Filho (DEM-MA), fez suas tentativas. O então presidente Rodrigo Maia chegou a anunciar que iria votar o projeto de resolução de Juscelino que autorizava o funcionamento remoto do conselho, com sessões e reuniões virtuais. Mas não o fez.
Agora, o Conselho de Ética está sendo reativado às pressas para acolher o caso de Daniel Silveira. Na verdade, uma estratégia do atual comando da Câmara, que quer escapar da votação em plenário da sequência da prisão ou não bolsonarista.
A Mesa da Câmara correu logo e, numa tacada só, voltou com o conselho e enviou uma representação contra o parlamentar do PSL.
A intenção também é sinalizar que uma medida dura contra o deputado foi tomada e que não há necessidade de mantê-lo preso. E dar uma justificativa aos deputados na hora da votação aberta no plenário.
“Vai dar argumento mesmo para o deputado que está constrangido e com receio da opinião pública se decidir votar contra a prisão. Agora, pode até dizer: ‘o caso já foi para o conselho, algo já foi feito. E voto pela sua soltura”, disse um deputado aliado do governo, que pediu reserva.
Ao tentar reativar o conselho, em julho do ano passado, Juscelino Filho justificou assim sua iniciativa: “o fato de estarmos atravessando a pandemia não afastou a necessidade de acompanhar determinadas condutas, que, infelizmente, vez por outra, contaminam a lisura do exercício parlamentar. Aliás, há um reclamo e um estranhamento consolidados na sociedade, no sentido de que a pandemia está servindo de proteção imunizadora para o exercício inadequado do mandato parlamentar”.