Com aldeias na mira do vírus, Funai perde tempo atacando o… marxismo
Órgão resolveu propagandear a importância da luta contra o avanço do 'marxismo' na política indigenista
Com a pandemia de coronavírus já fazendo vítimas em aldeias indígenas, a Funai mostrou nesta segunda-feira que escolher prioridades não é bem o forte da repartição. Em vez de cobrar agilidade dos órgãos do governo na contenção da crise sanitária, o órgão resolveu perder tempo propagandeando a importância da luta contra o avanço do “marxismo” na política indigenista.
Os puxa-sacos da Funai, claro, citam o marxismo para dizer, na sequência, que tal vilão da gestão indígena só foi eliminado com a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência da República. O que essa discussão sobre o Manifesto Comunista ajudará na preservação da saúde dos índios expostos ao coronavírus ninguém sabe.
Em nota divulgada nesta segunda, a Funai diz que a eleição de Bolsonaro “representou uma ruptura e a rejeição do povo brasileiro às políticas públicas socialistas”. E que, em quase 20 anos de “administração socialista” no governo, a política indigenista brasileira “restringiu-se ao assistencialismo subserviente e ao paternalismo explícito, com o aplauso, a complacência e a participação de ONGs e grupos religiosos ligados à Teologia da Libertação, de matriz marxista, capitaneados pelo Bispo mexicano Samuel Ruiz”. Que preguiça.
Em tempo, a reação da Funai foi motivada pelas declarações do secretário Executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Antônio Eduardo Oliveira. Na semana passada, ele disse que a atual administração “ataca a autonomia das populações tradicionais, seus territórios para que esses estejam a serviço da elite agrária”.
Tanto a Funai quanto o Cimi cumpririam melhor seu papel se deixassem de lado velharias ideológicas para lidar com o problema real, o coronavírus.