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Por Coluna
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Um encontro(des) de amor

Psicanálise da Vida Cotidiana

Por Carlos de Almeida Vieira
Atualizado em 30 jul 2020, 19h37 - Publicado em 26 jun 2019, 12h00

Dimitri se deliciava sentado à beira mar. O mar, as águas azuis refletiam cores diversas, mas o sol que caía deixava um semblante ofuscante incomodando o olhar do jovem. Todas as manhãs ele, obrigatoriamente, ia ver o mar, como que visita diariamente uma catedral. Reflexivo, um pouco melancólico, contemplativo, um tanto angustiado. O mar era seu amigo desde criança, suas águas cálidas se misturavam às vezes com a revolta de suas ondas fortes, tenebrosas, perigosas, avançando sobre as areias.

Dimitri às vezes continha um choro de alegria e uma tristeza da falta de amor. Sentado, olhava a infinitude do oceano que lhe remetia a pensar em sua finitude e mortalidade. O que faltava naquele jovem de cabelos galegos, facies pálida, olhos castanhos escuros e um esbelto corpo atlético? Desde garoto trazia consigo, dentro de sua alma um sentimento de pouca estima e uma certeza que nunca seria amado. De repente, como se os deuses enviassem um milagre, senta perto de Dimitri, uma jovem loira, cabelos longos e um rostinho de candura e ternura. Os olhares se penetraram por alguns segundos, os sorrisos imprimiram um ar de cumplicidade e Dimitri sentiu algo de estranho, nunca vivido, algo que caminhava dentro das veias de sua alma com uma calidez terna, leve e sensual.

-Oi, como é teu nome?

-Denise, e o teu?

-Dimitri.

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-Russo?

-Nada, brasileiríssimo, litorâneo, daqui mesmo da costa marítima.

Eu amo o mar, todo dia reservo uma horinha para pensar. O mar, esse mar tem águas multicoloridas e me faz alegre, contente, triste…

-A mim também.

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Os dois jovens se aproximam, sentam-se juntos como se já se conhecessem, e o clima se transforma numa conversa leve, gostosa, suave. Os gestos de ambos eram suspeitos de amorosidade. Levantaram-se, tomaram banho, jogaram água um no outro, os sorrisos aumentaram, os olhares ficaram íntimos demais e, de repente as mãos de Denise estavam entrelaçadas às mãos de Dimitri. Os lábios provaram a doçura das águas salgadas, os corpos se tocaram numa sensibilidade que escondia sentimentos amorosos e sensuais. Saíram do mar. Dimitri passava suavemente suas mãos como que enxugando gotas de águas por todo o corpo de Denise. Voltaram para as cadeiras sobre a areia. Olharam-se, e subitamente Denise o beijou na boca, suavemente, fez um gesto de adeus e saiu correndo impulsivamente sem olhar o amante instantâneo.

Dimitri pensou: realmente não fui feito para o amor. O amor vem como beija-flor, se esvai, corre, foge, esfumaça como algo fugaz. Lembrou de uma frase que lera num livro: “Um encontro tão rico, tão lindo de amor que mal nasce começa a se pôr”. O pôr-do-sol destruía o amar.

 

Carlos de Almeida Vieira é alagoano, residente em Brasília desde 1972. Médico, psicanalista, escritor, clarinetista amador, membro da Sociedade de Psicanálise de Brasília, Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e da International Psychoanalytical Association 

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