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Por Coluna
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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Um crucifixo no peito de Lula (por Miguel de Almeida)

Líder que enterrou a esquerda no Brasil já disse que jamais fará autocrítica

Por Miguel de Almeida
Atualizado em 8 jun 2020, 18h21 - Publicado em 8 jun 2020, 11h00

E lá vamos lá de novo…

O Fora Bolsonaro substitui o Fora Temer, que por sua vez vem no lugar do Fora Dilma e, antes, o Fora FHC. Ah, houve antes o Fora Collor e o (meu preferido) Abaixo a Ditadura, que seria uma espécie de Fora Milicos.

A política brasileira soa sempre como uma reprise de enredos, onde os bandidos de ontem passam a ser os mocinhos de antes. Ou vice-versa, conforme o gosto.

Os raciocínios também são bisados.

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Senão, vejamos.

Das profundezas das tumbas do ABC, a voz de Lula surge para assacar contra os manifestos da sociedade civil, assinados por milhares de brasileiros, em defesa da democracia, e contra as bolsonarices de domingo a domingo.

É uma redundância política, calcada na mesma sintaxe solteira de pronomes: “a gente é contra”, “a gente não lê nada em defesa dos trabalhadores” etc. e tal.

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Redundante porque Lula domou o PT para não ir ao Colégio Eleitoral (que derrubou a ditadura militar), se recusou a assinar a Constituição de 1988 (embora haja embolsado salário como deputado constituinte), não quis apoiar a presidência de Itamar Franco (mas assoprou lulamente o nome de Walter Barelli como ministro do Trabalho)…

Agora reconhece estar velho para “ser maria vai com as outras”.

Antes de atestar portar velhas ideias, o líder que enterrou a esquerda no Brasil, algo que Getúlio e os militares tentaram sem sucesso, já disse que jamais fará autocrítica.

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Na recente narrativa lulista, alguns dos signatários dos manifestos em defesa da democracia, como Fernando Henrique Cardoso, são responsáveis pela assunção de Bolsonaro ao poder.

Há em Lula e no petismo de raiz uma total falta de empatia pelo dissabor alheio. Aquele ódio de classe (“nós e eles”) escandido em centenas de discursos gosmentos e sobejamente populistas (ao final ficamos fora do butim da Petrobras e das empreiteiras) mascara somente a luta pelo poder em benefício próprio.

As cartadas de Lula desnudam um jogador cada vez mais de truques manjados. Os outros são os culpados. Os erros dele vão nas costas dos inimigos políticos.

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Assim como Lula, Luís Carlos Prestes, todo-poderoso comandante do Partido Comunista, amargou um tempo atrás das grades. Não por corrupção. Em um episódio de teor humano difícil de compreender, deu apoio político ao seu algoz, Getúlio Vargas, mesmo após a ditadura varguista haver entregue sua mulher, Olga Benário, então grávida, aos nazistas, onde morreu num campo de concentração.

Em nome do cálculo político pessoal, Lula atrapalhou a candidatura de Fernando Haddad (que assinou o manifesto em favor da democracia…) e impediu no segundo turno o candidato petista de buscar apoio junto às forças de centro. Havia a proposta de convidar Armínio Fraga para ser ministro da Economia, caso vencesse.

Falta grandeza, falta empatia com o sofrimento do povo brasileiro.

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Durante a Campanha das Diretas Já, caso houvesse eleição direta, havia espécie de consenso político de que Ulysses Guimarães seria o candidato do PMDB. E, não havendo, como ocorreu, Tancredo Neves seria o nome do partido no Colégio Eleitoral. Por quê? Ulysses reconhecia que não conseguiria votos suficientes para enterrar a ditadura. Abriu mão em benefício de Tancredo, e os militares tiveram de largar o osso (e o país em frangalhos, não podemos jamais esquecer).

O gesto gentil de Ulysses, o homem que comandou a movimentação das Diretas Já, ajudou o país a vencer uma ditadura de 21 anos.

Lula, o inverso. Sua política brindou o país com 12 milhões de desempregados e destampou a garrafa com o miasma da extrema direita bozonarista.

Ao impedir que o PT se junte às outras forças políticas democráticas e ainda criticar o teor dos manifestos pró-Brasil, Lula escande novamente seu amargor que levou à atual clivagem.

Na década de 1970, diante de um Richard Nixon cada vez mais reacionário, os intelectuais e políticos democratas sugeriram o que parecia ser o único caminho: durante a manhã, alguém deveria espetar em seu peito um crucifixo.

Lula desperta a mesma receita.

Miguel Almeida é editor e diretor de cinema. Artigo transcrito do jornal O Globo

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