Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Noblat Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Tudo nos separa, nada nos une

O presidente é protagonista, mas também vítima da polarização estéril.

Por Hubert Alquéres
Atualizado em 30 jul 2020, 20h00 - Publicado em 30 jan 2019, 10h00

Nos últimos tempos os brasileiros não se unem em quase nada, nem sobre o formato da terra. Inflados pelas redes sociais, tudo é motivo de discórdia e de perpetuação de uma polarização radicalizada. Em condições normais seria absolutamente natural que o Brasil se unisse em solidariedade à dor de Brumadinho, ao deputado Jean Wyllys ameaçado de morte, aos venezuelanos vítimas da ditadura. E torcesse pela pronta recuperação do presidente Jair Bolsonaro, após sua terceira operação, como antes fizeram com Tancredo Neves.

Em vez disso, temos um festival de insanidades, com a “esquerda” e a “direita” delimitando terreno para marcar posição em cada episódio. Para uns, a culpa da tragédia de Brumadinho é da privatização da Vale, ocorrida em 1997, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Para outros, Mariana e Brumadinho são resultado dos governos petistas de Dilma Rousseff e Lula.

No meio dessa rinha de galos, há quem se aproprie da dor dos familiares dos mortos e desaparecidos para tirar dividendos políticos. De olho na disputa da presidência do Senado, Renan Calheiros apressou-se em fazer declarações demagógicas sobre a tragédia, numa manifestação de oportunismo explícito. Nas redes sociais vicejam pedidos saudosos do intervencionismo estatal.

Até a solidariedade dos israelenses virou pomo de discórdia. Um senador da República em fim de mandato divulgou em seu twitter que a força tarefa de soldados israelenses enviada a Brumadinho seria uma tropa de assalto para invadir a Venezuela! Outros propugnaram a recusa da ajuda, com o argumento de que Israel é um Estado opressor dos palestinos.

Os absurdos não param aí. No caso de Jean Wyllys, o próprio presidente e seu filho borraram a linha divisória entre um cidadão de bem e o crime ao comemorar a decisão do deputado de sair do país. Foi preciso o vice-presidente Hamilton Mourão colocar as coisas nos seus devidos termos: “quem ameaça parlamentar está cometendo crime contra a democracia”.

Continua após a publicidade

Como vale tudo na radicalização, bolsonaristas insinuaram que Jean Wyllys teria relações com Adélio Borges de Oliveira, autor da facada em Bolsonaro. Segundo eles, o deputado do PSOL teria fugido porque haveria provas da presença de Adélio em seu gabinete parlamentar. Num piscar dos olhos fizeram a vítima de réu.

O presidente é protagonista, mas também vítima da polarização estéril. Para alguns esquerdistas, a facada que recebeu em Juiz de Fora foi encenação, com fins eleitoreiros. Agora vociferam contra o fato de Bolsonaro ter sido operado no hospital Albert Einstein, em vez do SUS. Ironia das ironias, a direita usou o mesmo argumento contra Lula e Dilma quando eles se internaram no Sírio Libanês.

A política externa sempre foi fator de coesão nacional. Mesmo em plena ditadura, esquerda e direita convergiram em torno do pragmatismo responsável do governo Ernesto Geisel. Hoje não é mais assim. O compromisso com a democracia como valor universal – um dos pilares da política desenvolvida ao longo de mais de um século – só vale para uma certa esquerda quando as violações dos direitos humanos são cometidas por governos de direita. Se praticadas por governos de esquerda, a coisa muda de figura.

No momento em que o mundo inteiro condena a ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela, a presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffman, saiu a campo em defesa do ditador e apressou-se em ir a posse de mais um mandato do bolivariano.

Continua após a publicidade

O Brasil nem sempre foi um mar de cizânia. Fomos capazes de nos unir na campanha das diretas e na transição democrática. Há um episódio histórico sobre o qual deveríamos refletir. Durante a Segunda Guerra Mundial, Luís Carlos Prestes deixou de lado suas divergências com Getúlio Vargas e pregou a união nacional contra o nazi-fascismo. Os manifestantes pró-participação do Brasil na guerra carregavam cartazes com a foto de Vargas e o slogan “Tudo nos une, nada nos separa”.

O espírito agora é outro: “tudo nos separa, nada nos une”.

 

Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.