Regabofe no Planalto não salva o governo de derrotas no Congresso
Se gritar pega Centrão...
Foi um almoço e tanto, e a comida mineira servida foi elogiada pelos participantes do convescote promovido pelo presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Presentes, a fina flor do Centrão, 22 parlamentares, e mais sete ministros do governo.
Não houve momentos de saia justa. Poderia ter havido porque um dos ministros, o general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, à época da campanha de Bolsonaro, associou o termo “ladrão” ao Centrão.
Chegou a cantar assim, meio desafinado:
– Se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão…
O senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Partido Progressista, postou depois em suas redes sociais uma foto ao lado de Bolsonaro e de outros deputados, entre eles Arthur Lira (AL). Os dois são acusados de chefiar o chamado “quadrilhão do PP”.
No passado, Nogueira foi aliado dos governos do PT e classificou Bolsonaro de político fascista e preconceituoso. Nada que o tempo não apague quando a conjuntura política muda e os interesses convergem. Bolsonaro precisa do Centrão, que precisa dele.
O Centrão quer cargos no governo, já ganhou muitos, mas quer sempre mais. Bolsonaro quer os votos do Centrão para aprovar projetos do governo. Vai ver que o almoço empanzinou o Centrão a ponto de ele descuidar-se e o governo amargar outra derrota.
Por 42 votos a 30, o Senado derrubou o veto de Bolsonaro ao aumento de salários de servidores envolvidos no combate ao coronavírus. Se a Câmara, hoje, votar na mesma direção, o governo será obrigado a desembolsar quase 100 bilhões de reais.
Um dia antes, o Senado retirou de pauta projeto de Bolsonaro que muda o Código de Trânsito. Votaram até parlamentares do PSD, que ganhou o Ministério das Comunicações, e do MDB, em avançado processo de adesão ao governo.
Uma fatia do PSDB na Câmara, liderada pelo deputado Aécio Neves (MG), dá sinais de que poderá se aliar ao governo se também for contemplada com cargos. O Centrão começa a engolir os que antes se apresentavam apenas como centro.
“Se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão…”