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“Quando te vi, amei-te muito antes”!

Psicanálise da Vida Cotidiana

Por Carlos de Almeida Vieira
Atualizado em 30 jul 2020, 20h05 - Publicado em 19 dez 2018, 12h00

W. R. Bion, psicanalista indiano-inglês, criou um conceito em sua epistemologia da psicanálise denominado “pré-concepção”. Quando a criança nasce, traz consigo uma pré-concepção do “seio”, da mãe, ou de qualquer outra pessoa que tenha a função materna. Sabemos que o ser humano nasce numa situação de carência e necessidades que serão ou não satisfeitas pela realidade factual. É claro, na medida em que ele (ser-humano) é limitado, incompleto e totalmente dependente quando chega nesse mundo, sua expectativa é que as pessoas realizem seus anseios, caso contrário, a vida já começa com sérias frustrações que criarão sintomas futuros. Aqui está a noção de pré-concepção, ou seja, uma forma “alucinatória” de encontrar a realização do seu(s) desejo(s).

Quando te vi, amei-te muito antes, poema de Fernando Pessoa que nos mostra como o poeta pode intuir necessidades e desejos humanos em sua inspiração poética. Acompanhemos fragmentos do poema:

“Quando te vi, amei-te já muito antes./ Tornei a achar-te quando te encontrei./ Nasci pra ti antes de haver o mundo./ Não há coisa feliz ou hora alegre/ que eu tenha tido pela vida fora./Que não o fosse porque te previa,/ porque dormias nela tu futuro,/ e com essas alegrias e esse prazer/ eu viria depois a amar-te./ Quando criança, eu se brincava a ter marido,/ me faltava crescer e o não sentia./ O que me satisfazia eras já tu, / e eu soube-o só depois, quando te vi…”

Impressionante, querido leitor, como os poetas, os escritores e a literatura mostram o funcionamento mental das pessoas, em seus romances e personagens, com isso afirmando antes o que o nosso velho conhecido Freud diz ter observado depois em suas “histórias clínicas”, em sua obervação do que chamou de “romances familiares”.

Fernando Pessoa, um dos poetas mais famosos da literatura universal, captava a angústia da criança e de todos nós, diante da possibilidade em sermos satisfeitos consoante nossos desejos. Termina o poema cantando:

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“Como as coisas se podem ver de longe,/ e ser-se feliz só por se pensar./ Em chegar onde ainda se não chega./ Amor, diz qualquer coisa que eu te sinta!”.

Que aflição, revela o poeta, que todos nós vivemos em busca de um amor ideal muito antes de tê-lo encontrado ou não. A existência começa com ilusões, com anseios, e vai continuar assim sempre. A questão é a realização dessas ilusões ou não. Quando se realiza não vão existir conflitos; quando se frustra, quando o “objeto do desejo” não aparece na realidade de fato, vai depender da capacidade de lidar com a frustração, que segundo W. R. Bion, pode-se começar a beleza sublimatória que é o Pensar. Pensar não é fácil, pois exige trabalho psíquico; pensar é a alternativa de sobrevivência para não se enlouquecer bastante, pois loucos-sanos somos desde o nascimento.

 

Carlos de Almeida Vieira é alagoano, residente em Brasília desde 1972. Médico, psicanalista, escritor, clarinetista amador, membro da Sociedade de Psicanálise de Brasília, Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e da International Psychoanalytical Association  

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