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Por Coluna
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Quando os muros desabam (por André Gustavo Stumpf)

China e Papa quebram paradigmas

Por André Gustavo Stumpf
Atualizado em 18 nov 2020, 19h46 - Publicado em 29 out 2020, 12h00

Nos últimos dias ocorreram dois fatos extremos que terão forte impacto no futuro próximo, com repercussão semelhante ao da queda do muro de Berlim ou do fim da União Soviética. O primeiro, a admissão pelo Papa Francisco de que ‘’homossexuais têm o direito de estar em uma família. Temos que fazer uma lei de convivência civil, eles têm o direito de estar legalmente protegidos’’.

Esta não é uma simples declaração. É assunto sério que mexe com os fundamentos da Igreja Católica e mergulha nas profundas dos dogmas estabelecidos ao longo de séculos.

É impressionante a coragem do argentino ao falar sem medo sobre assunto tão polêmico. A ninguém dentro do mundo eclesiástico é dado o direito de contestar o Papa, figura maior da Igreja de Pedro. A declaração do Sumo Pontífice foi revelada no documentário Francesco, produzido pelo cineasta russo-americano Evgny Afineesvsky, exibido em Roma semana passada. ‘’Não se pode expulsar alguém de uma família, nem tornar a sua vida impossível por isso”.

Roma locuta, causa finita. Roma fala, o caso termina. É assim. É um muro de Berlim que desaba diante de católicos perplexos. Assunto para exegetas de decisões do Vaticano.

Outro acontecimento histórico foi divulgado timidamente pelos jornais brasileiros. Existem maneiras de medir o Produto Interno Bruto de um país. Pode ser feito simplesmente pela soma de todas as receitas produzidas na sociedade em um ano. Depois é feita a transposição para o dólar. O problema é que o câmbio oscila muito e distorce o resultado.

O Fundo Monetário Internacional criou outro método, chamado de paridade do poder de compra. Os técnicos fazem um cálculo sobre o valor do dinheiro em cada país, como base numa referência única. E a partir desta informação calculam o produto interno bruto de cada país.

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Os técnicos do FMI utilizaram o conceito de paridade do poder de compra para medir o PIB dos países em 2020. O resultado surpreendeu. A economia chinesa ultrapassou a dos Estados Unidos. A China deve alcançar em 2020 o PIB US$ 24,2 trilhões. O dos Estados Unidos pode chegar a US$ 20,8 trilhões. Isso significa que agora a maior economia do mundo é a chinesa. Os norte-americanos estão em segundo lugar.

Novidade assustadora. O resultado era esperado para ocorrer nos próximos cinco anos. Foi antecipado pela má gestão do presidente Trump e pela pandemia. Aliás, neste ano, o único país desenvolvido que terá crescimento econômico positivo será a China. Os norte-americanos vão viver uma retração econômica. A economia brasileira deverá recuar em torno de 4,5%. A diferença entre as duas maiores economias tende a se ampliar, a favor dos chineses.

Uma comitiva norte-americana veio ao Brasil com objetivo de assinar três acordos genéricos para melhorar intercâmbio de bens e serviços. Quase uma demonstração de boa vontade para que, no futuro, possa ser assinado um tratado mais abrangente de trocas comerciais com tarifas reduzidas. O Ministro Paulo Guedes fez seu habitual discurso otimista, mas se lembrou de dizer que o Brasil faz comércio com todos os países do mundo. Recado oportuno.

Os norte-americanos, no mesmo lance, colocaram na mesa uma proposta de empréstimo de US$ 1 bilhão desde que o Brasil não adquira equipamentos da chinesa Huawei, que produz a tecnologia 5G mais avançada. Os americanos não têm o que oferecer em troca. Eles não pedem para o Brasil comprar produtos norte-americanos. Eles pretendem que não se adquira produtos chineses, mas de qualquer outro país. Depois dos chineses, os equipamentos mais avançados são gerados por empresas suecas e finlandesas.

Momento interessantíssimo. É um fim da União Soviética com sinal trocado. O líder não vai desabar de um dia para o outro, porque os Estados Unidos operam a maior máquina de guerra do mundo, com onze porta-aviões e os chineses apenas um. O segundo está em construção. Mas o governo de Pequim controla um exército de dois milhões de homens. E tecnologia de alta qualidade. Colocaram uma base na face escura da Lua.

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Foi o que trouxe a Brasília o conselheiro de segurança nacional Roberto C. O´Brien, alto funcionário do governo dos Estados Unidos. Ele pressiona o Brasil para não comprar tecnologia chinesa sob o argumento de evitar espionagem. A guerra comercial esconde a disputa final pela liderança global no século 21. Enquanto isso, o presidente da República no Brasil discute origem das vacinas. Subdesenvolvimento não se improvisa.

 

 

André Gustavo Stumpf escreve no Capital Político. Formado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), onde lecionou Jornalismo por uma década. Foi repórter e chefe da sucursal de Brasília da Veja, nos anos setenta. Participou do grupo que criou a Isto É, da qual foi chefe da sucursal de Brasília. Trabalhou nos dois jornais de Brasília, foi diretor da TV Brasília e diretor de Jornalismo do Diário de Pernambuco, no Recife. Durante a Constituinte de 88, foi coordenador de política do Jornal do Brasil. Em 1984, em Washington, Estados Unidos, obteve o título de Master em Políticas Públicas (Master of International Public Policy) com especialização política na América Latina, da School of Advanced International Studies (SAIS). Atualmente escreve no Correio Braziliense. ⠀

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